Prós e contras
Ontem, dia de Prós e Contras na RTP Um, enorme era a expectativa relativamente ao teor do debate que poderia acontecer. Com o Sistema Educativo em grande ebulição, natural seria que a abordagem de temas como a avaliação dos docentes e regime de gestão dos estabelecimentos de educação e de ensino de nível não superior, suscitasse inusitada apetência.
A verdade é que as coisas não correram bem. E tal não sucedeu, na medida em que, mesmo de acordo com as características de risco do programa em questão, Fátima Campos Ferreira esteve muito aquém da capacidade de que já deu sobejas provas na condução de debates, pelo menos, tão ou mais espinhosos quanto este se perspectivava.
O que mais me custa admitir, é que, durante horas de emissão, se tenha perdido uma evidente oportunidade para esclarecer questões muito específicas, não raro, dificilmente assimiláveis, em detrimento de participações avulsas, mal preparadas, repetitivas, dando voz a entidades de contornos difusos que, nem sequer ainda tiveram tempo para chegarem à definição dos seus próprios objectivos, afinal:
- não deixando transmitir – caso do Prof. João Formosinho, da Universidade do Minho – uma informação técnico-científica um pouco mais afinada, que seria capaz de muito melhor circunstanciar do que a pivô lhe permitiu, com a qual, tanto os presentes como os telespectadores, com evidentes vantagens, perspectivariam as suas posições como cidadãos, pais e encarregados de educação e educadores;
- impedindo o sublinhar, ainda que, muito sucintamente, de alguns pormenores das pertinentes considerações do professor Arsélio, por vezes tão recortadas e eivadas de profundidade didáctica e pedagógica - à mistura com uma poesia dos trabalhos e dos dias de quem, na qualidade de docente, estava ali por direito próprio – assim contribuindo no sentido de que o programa não se tivesse transformado naquele desassossegado vórtice;
- não concedendo à ministra a oportunidade de, mais copiosamente, explanar as medidas que ela e a sua equipa, sob a égide do chefe do governo, insistem em impor ao Sistema Educativo, atabalhoadamente, sem qualquer perspectiva sistémica, apenas em articulação com o calendário político, portanto, em conjugação com a legislatura e o período eleitoral.
De qualquer modo, apesar dos óbices que, tão sucinta e incompletamente, acabo de apontar, foi flagrante o divórcio entre a decisora política e os agentes educativos e patente a impossibilidade de continuar a constante luta, no recinto de combate em que se transformaram as escolas, que já perderam a capacidade de acolher, perceber, estudar as propostas da Cinco de Outubro.
PS
A quem possa interessar:
Qualquer razoável professor o sabe. Um debate não é coisa cuja preparação e posterior concretização se possa aligeirar. Pressupõe uma táctica e várias estratégias, de acordo com figurinos mais ou menos racionalistas, bem radicados em conhecidos métodos, dentre os quais o muito cartesiano Treino Mental, da autoria de Benigno Cacerès e Joffre Dumazedier, é dos mais eficazes que conheço.
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