[sempre de acordo com a antiga ortografia]
terça-feira, 4 de março de 2008
Aviso:
Conforme promessa anterior à minha estada em Salzburg, por ocasião da Mozartwoche em Janeiro/Fevereiro 2008, durante os restantes dias desta semana serão publicados neste blogue, sem quaisquer alterações, os textos que, em 22 de Fevereiro e 7 de Março, fazem parte das edições do Jornal de Sintra.
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Mozartwoche 2008
Depois de, em anos anteriores, tanto termos conversado acerca de Salzburg e sabendo eu quem são os meus fiéis leitores, considero poder dispensar-me do enquadramento
histórico-cultural desta belíssima cidade austríaca que tantos consideram não um dos mas o grande centro musical europeu e mundial.
A atestar esta primeira consideração, valerá a pena confirmar que não há outro caso de lugar, em qualquer continente, onde estejam sediados, nada mais nada menos, que oito festivais de música do mais alto gabarito, universalmente reconhecidos como tal. É, na realidade, uma cidade que está preparada para receber milhares de visitantes, especificamente melómanos, que ali podem permanecer durante semanas, satisfazendo todas as suas expectativas.
Neste parágrafo, passarei, de imediato, às revisões da informação veiculada em anos precedentes, sobre aquilo que poderia designar os festivais canónicos, o Mozartwoche, preenchendo a última semana de Janeiro e primeira de Fevereiro, o Osterfestspiele Salzburg, o Festival da Páscoa, nas duas semanas que precedem a Páscoa, o Salzburger Pfingfestspiele, Festival de Pentecostes, por altura desta festa religiosa e o designado Salzburger Festspiele, entre fins de Julho e fins de Agosto, o primeiro a afirmar-se em 1920.
Acrescentarei hoje Szene Salzburg, entre Junho e Julho, vocacionado para a dança contemporânea, teatro, cinema e artes visuais, o Bachfest, durante todo o mês de Outubro, celebrando a música de Bach, já na 83ª edição, o Salzburger Jazz-Herbst, Jazz em Outono, em fins de Outubro e princípios de Novembro e, finalmente, o Salzburger Adventsingen, apenas dedicado aos cantos de Natal, nas duas primeiras semanas de Dezembro.
Como imediatamente se entende, são eventos especiais que seguem o calendário, ao longo do ano. Todavia, para além destes oito festivais, haverá que acrescentar uma imensa oferta diária de espectáculos musicais de ímpar diversidade, que conferem a este lugar um posicionamento único, não só ao nível do que acontece nas salas públicas, mas também no que se refere ao estudo e à investigação, natural e igualmente, do mais alto nível.
Sintra intrometida…
Afinal, ainda no quadro do preâmbulo, passo ao assunto que me traz ao contacto convosco, isto é, dar-vos conta, em linhas muito gerais, do que aconteceu durante as duas semanas do Mozartwoche 2008, do qual acabo de regressar. No entanto, deixai-me que, desde já, vos confesse como, cada vez mais, tenho maior dificuldade em partilhar estas impressões.
Efectivamente, nada me obriga a fazê-lo e, na realidade, apenas sinto que vos devo estes recados, na medida em que o Jornal de Sintra, dá expressão a uma tradição que, exclusivamente pela minha mão, já leva uma boa meia dúzia de anos de concretização, caso único, tanto a nível regional como nacional, porque apesar de ser órgão de imprensa de pequena escala, se permite abordar, um evento cultural tão determinante que, por razões diversas, escapa à lógica dos grandes media.
Ora vamos lá a explicar a tal dificuldade acima mencionada. Ao referir-me não só a Salzburg, mas também a outros locais, por exemplo, Luzern, Bayreuth, Leipzig, Schwarzenberg, Graaz, Eisenstadt ou Munique, onde tenho o privilégio de me deslocar há dezenas de anos, para participar nos respectivos festivais, não consigo evitar a operação mental constante de compará-los com Sintra para, dolorosamente, chegar às mais tristes conclusões.
Reparem que o contexto desta minha confissão, ultrapassa a específica questão dos festivais de Música para, inequivocamente, se relacionar com o modo comum, como aquelas cidades da Áustria, Suiça e Alemanha cuidam, preservam, interpretam e apresentam o seu património natural e edificado, enquanto condição sine qua non para que tudo o resto e, portanto, também a grande Música, seja propício.
Pois, à medida que, ano após ano, todos aqueles lugares melhoram permanentemente, em Sintra os sinais são precisamente contrários, ao ponto de não ter qualquer dificuldade em escrever que, na década de sessenta, a sede do nosso concelho estava muito mais cuidada do que actualmente. Isto é muito doloroso de admitir, é algo que me fere, de tal modo e em permanência, que não consigo alhear-me.
Como não sou enviado especial do Jornal de Sintra e, tendo em consideração que se trata de colaboração sempre graciosa, posso partilhar este sentimento tão especial de frustração que, muito provavelmente, ditará a minha decisão de não continuar a fazer estas crónicas da Europa civilizada, para leitores que, estou certo, compreenderão este condicionamento que acaba por determinar um impedimento. Assim, uma tarefa de comunicação e partilha, que poderia ser tão agradável, torna-se num desassossego que nada me convém.
(continua)
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