[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 7 de abril de 2008


Lucidez, pf

Não deixa de causar uma certa perplexidade a falta de discernimento de tantos cidadãos, nomeadamente pais e encarregados de educação que, nas últimas semanas, interpelados por trabalhadores da comunicação social escrita e audiovisual*, se pronunciaram acerca de causas e consequências da indisciplina de crianças e jovens em estabelecimentos de ensino, nomeadamente dos níveis básico e secundário.

Assinalo, sublinho e passo a explicitar aquilo que considero falta de discernimento. A perplexidade que manifesto, advém da circunstância de tais pessoas não perceberem ser a Escola não uma entidade isolada do todo mas, certamente, a instituição que melhor reflecte as características gerais e específicas da sociedade que lhe entrega os educandos.

Bem pode afirmar-se a assunção da Escola como duplo espelho social, ou seja, por um lado, da sociedade nacional em geral e, por outro, em sentido mais restrito, da comunidade educativa em que se insere. O espelho reflecte, em relação a cada uma das duas escalas, não apenas uma imagem mas tantas quantas, por exemplo, se articulam com os diferentes sectores sociais, culturais ou económicos.

Sem pretender generalizar em terreno tão difícil e compósito, sou daqueles que não receiam afirmar que, relativamente à disciplina, determinada escola funcionará tanto melhor quanto a comunidade com a qual se articula tiver menos problemas sociais por resolver, estiver mais bem rodeada e dotada de dispositivos culturais e, portanto, for mais feliz.

Ousaria afirmar este factor determinante, a felicidade, que é cada vez menos conjugado na apreciação de tais questões. Não estou a reportar-me a casos virtuais, hipotéticos, utópicos, refiro-me a casos reais, que os há, de comunidades medianamente felizes onde não existem ou mal se colocam os problemas das mais ou menos sistemáticas indisciplina e violência.

Isto que se afirma em relação a qualquer latitude, não pode deixar de revestir especiais contornos em Portugal. Efectivamente, como não perceber que, ao nível da Escola, haja sintomáticos casos de indisciplina juvenil, num país generalizadamente indisciplinado, desinformado, com preocupantes índices de pobreza, de iliteracia e de analfabetismo?

*
Ah como é difícil escrever a palavra jornalista, tendo que referir trabalhadores dos media a quem não reconheço o perfil de tão nobre profissão!...


(continua)

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