[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Dias da Música,
sem Festa da Música...

Ontem, depois de ter engolido uma data de sapos, lá fui ao Centro Cultural de Belém para assistir a alguns dos concertos integrados nos denominados Dias da Música. Estarão recordados que se trata de uma iniciativa de Mega Ferreira, em sintonia com Isabel Pires de Lima, aquela senhora que veio do Norte, a convite de José Sócrates, para dar a machadada final a uma série de coisas muito interessantes que ainda havia por aí em termos culturais.

Se quiserem dar-se ao trabalho de lembrar parte do cardápio de asneiras a crédito da ministra da Cultura de tão triste memória, façam o favor de ler ou reler o texto que, neste mesmo blogue, publiquei no dia 14 de Fevereiro. Enfim, sem presunção, será minimamente esclarecedor…

Como terão reparado, através da consulta à lista que apresentei naquela altura, a sobredita ex-governante, de uma assentada, entre várias decisões eivadas de manifesto destempero, também acabou com a Festa da Música. Dando provas de uma falta de capacidade de negociação, dificilmente repetível por qualquer infeliz que venha a ocupar tal cargo, Pires de Lima não conseguiu encontrar um mecenas que cobrisse financeiramente uma necessidade de pouco mais de meio milhão de Euros.

Ora bem. Qual salvador da Pátria, habituado a situações analogamente complicadas, eis que aparece Mega Ferreira. Tão pressuroso quanto, na altura, era preciso actuar, retira da cartola a solução pífia que passou a designar como os tais Dias da Música. Não dou novidade nenhuma ao confirmar que se trata de algo perfeitamente ajustado ao Portugal dos Pequenitos, solução em que são peritos, aliás, tantos comissários políticos, que gravitam na área do poder.

Reduziu a escala, tendo adaptado o figurino dessa iniciativa generosa e bonita que era a Festa da Música à capacidade cá do burgo. Pois é, René Martin, Miguel Lobo Antunes, outra gente, outras possibilidades, outro brilho, outros contactos, fizeram do CCB, por alguns dias em sucessivos anos, aquilo de que, presentemente, temos uma sombra.

Lisboa que, em termos de Festa da Música, emparceirava com Nantes, Bilbao ou Tóquio, depois de um Sol que foi de pouca dura, acabou por cair nas mãos de Pires de Lima e de Mega Ferreira cuja mental pequenez reduziu a iniciativa à insignificante expressão que agora tem. Além de pequena, falta-lhe a vibração que outrora se sentia, bons fluidos, de manhã à noite, nos milhares de encontros de cada um com a Arte e a Beleza.

Mas, atenção. Nada do que acabo de expressar se articula com a inegável qualidade e alto gabarito de muitos dos intérpretes, solistas, agrupamentos e orquestras de câmara que fazem parte dos programas da responsabilidade de Mega Ferreira. Postos em causa, se bem me acompanham e entendem, estão não só a escala, completamente diferente, mas também o espírito, a alegria, a possibilidade do encontro e da partilha da Arte com cúmplices sintonizados na mesma onda.

Ontem, apesar de tudo, belos momentos musicais. Foi um dia de música, é verdade. Dia de música à Mega Ferreira. Não, não foi um dia de Festa da Música. Para isso é preciso outro fôlego que Mega Ferreira não tem…

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Estou a acompanhar o que se passa em Seteais mas queria deixar aqui um comentário aos Dias da Música. Eu também fui lá mas no sábado. Não há semelhança com a Festa da Música. Não digo que agora é um cemitério mas está muito longe daqueles tempos de festa verdadeira. Na nossa terra é assim. E ainda querem que o povo tenha orgulho? Só se for nas asneiras.

Melhores cumprimentos do

Artur Sá