Vinte e cinco de Abril,
à moda de Sintra
(continuação)
Na Estefânea, obras que ofendem
Todavia, não terminam por aqui as sintrenses e tão sui generis celebrações aprilinas. Senão, vejamos. Na semana passada, depois de generalizadas denúncias do pavoroso estado a que chegou o pavimento em paralelepípedo de algumas artérias do bairro da Estefânea, a Câmara Municipal de Sintra resolveu dar mais uma pública prova de como é expedita e perita no atamancar das intervenções.
Em vez de proceder ao correcto remédio do descalabro das lombas e valetas, ao longo de vias por onde circula elevadíssimo número de veículos ligeiros e pesados, a autarquia destacou para o local alguns trabalhadores que, no cumprimento de doutas instruções do Senhor Vereador do respectivo pelouro, se limitaram a atirar com areia e saibro por cima das pedras e… para os nossos olhos.
Não há aqui o mínimo exagero. As lombas e valetas continuam. Com a diferença de acumularem agora a areia e o saibro que restaram, depois da poeirada ter andado pelos ares, incomodando toda a gente na zona, em especial na Heliodoro Salgado e no início da Alfredo da Costa. Quem persista na dúvida, poderá verificar que análogas atitudes e práticas de trabalho estão bem enraizadas, e avaliar como se manifesta a cultura do desleixo, promovida pela própria Câmara Municipal, através de trabalhos à trouxe-mouxe, sem qualquer ponta de dignidade.
Naturalmente, está por demonstrar – mas eu permito-me avançar a hipótese – que um tal despautério apenas aconteceu com o benévolo propósito de proporcionar aos sintrenses e forasteiros um vislumbre de inesperado safari africano numa zona que, deste modo, acrescenta mais este ao privilégio de ter sido classificada como Paisagem Cultural da Humanidade…
Celebração em tempo recorde
Pois foi. Aconteceu em Sintra, em pleno centro vital do concelho, durante os quatro dias que precederam o Vinte e Cinco de Abril deste ano. Mas nem assim se consideraram razoavelmente tranquilizadas as autoridades de Sintra. Ainda não estava esgotado o pacote das asneiras afins de uma comemoração que, afinal, não podia deixar de acontecer de acordo com o que a casa gasta.
Por cá, as cerimónias oficiais para comemoração do trigésimo quarto aniversário do Vinte e Cinco de Abril demoraram cinco minutos e quatorze segundos. Não é preciosismo, não senhor. Trata-se de tempo cronometrado por um amigo que, pelo andar da carruagem, ao aperceber-se de que o ritual em perspectiva se limitaria ao mínimo dos mínimos, resolveu registar o facto, quanto mais não fosse, e como soe dizer-se, para memória futura.
Tanta presteza e tamanha celeridade – aliás, bem ilustrativas da dignidade que as autoridades concelhias consignam a um acto com a simbologia do caso presente – para além de constituírem facto digno do Guiness, adequam-se, que nem uma luva, às controversas referências que fez o Chefe de Estado no Parlamento durante a habitual homenagem da República pela passagem da efeméride.
(continua)
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