Condessa d’Edla,
22 de Maio
Embora o de ontem tivesse sido um dia carregado de efemérides, apenas me vou referir ao 22 de Maio como aniversário da Condessa d’Edla. Esta é daquelas datas que, juntamente com as do nascimento e morte do seu marido, fazem parte do calendário de grandes afectos que vou celebrando, como marcos da memória, ao longo do ano.
Porém, quando convoco e vejo a Condessa no seu afã da Pena, sempre me aparece como Elise, sem o título de conveniência, apenas a mulher que amou e foi amada por um homem tão excepcional como ela. Tanto tempo depois, aqueles dois continuam, para além do tempo, a habitar o nosso espaço real e mítico, a par de outras belas histórias, com amores possíveis e impossíveis, contrariados ou favorecidos, trágicos e idealizados.
O Parque da Pena, lugar onde os mais nobres sentimentos perduram e se derramam, é obra comum de Fernando e Elise. Só podia ser. É na Pena, onde tudo é propício, que, com eles, nos perdemos, confiantes, já libertos das cargas que ali não entram. Mas, para que tal aconteça, é preciso merecer a Pena, como dizia e escreveu o meu saudoso amigo Manuel Rio-Carvalho.
E merecer a Pena é saber lá chegar, sempre a pé, depois da dificuldade da subida. É saber que também há um caminho interior a percorrer, para ser eleito e iniciado nos mistérios do parque de artifício, qual jardim de Klingsor*, terreiro de tentações, onde cada um descobre o que há de melhor em si.
Elise e Fernando deixaram o tesouro que certos agentes da ignomínia se permitiram aviltar indecentemente. Já quase irremediavelmente degradado, o seu ninho de amor cedeu a um incêndio de cujas cinzas, finalmente, vai renascer. Parece ter terminado, estará a terminar o ciclo de horror que se abateu sobre o Parque da Pena. Será que Elise pode voltar ao seu sossego? Creio bem que sim. Hoje há quem, lá por cima na Pena, esteja a fazer o trabalho de recuperação que se impõe.
Não vos deixaria sem que aconselhasse a música mais apropriada à celebração do aniversário. Tenho a certeza que, na sua devoção por Wagner (que também nasceu num dia 22 de Maio…), Elise e Fernando terão ouvido e, provavelmente, cantado ela, as Wesendonck Lieder, de 1857.
O próprio compositor chegou a afirmar, bastante mais tarde, que não tinha feito nada de melhor… Muita da música que poderão escutar nestas canções, está plasmada na ópera Tristan und Isolde. Depois de começarem a ouvir Im Treibhaus (“Na Estufa”), tão presente no Acto III daquele drama lírico, logo dirão que estamos na atmosfera da Pena…
Pois é. Os que ainda não conhecem, passam a dever-me a epifania deste sublime momento de Beleza…
* Richard Wagner, opera Parsifal, Acto II
2 comentários:
Olá Professor,
Vim espreitar o seu blog e gostei muito, voltarei mais vezes. É bom ver esse espírito critico que nos contagiava de forma muito positiva e nos ensinou muito.
Um abraço, Ana Camilo
Minha querida Ana,
Muito obrigado. Espero as tuas e as palavras de todos os teus colegas. Muitas vezes, como sabes, escrevo sobre questões afins da defesa e preservação do património. E faço-o tanto no blogue como no Jornal de Sintra. O recente caso do encerramento do recinto de Seteais é um escândalo, que denunciei publicamente em primeira mão, no blogue, na Assembleia Municipal, em cartas a uma série de entidades, no Jornal, etc. Juntamente com uma série de amigos continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance no sentido de que permaneça com acesso público um recinto pelo qual o povo de Sintra Há duzentos anos, querida Ana...
É um caso simbólico e muito significativo de luta contra os poderosos. Em Seteais, enfrentamos «só» o Grupo Espírito Santo que se permitiu fechar os portões sob o pretexto de que podia perigar a segurança dos visitantes enquanto decorrem obras mas no interior do Palácio...
Se quiserem inteirar-se, vão aos meus textos neste blogue sobre o assunto, datados de Março e Abril e peçam à Catarina o Jornal de Sintra (onde todas as semanas há um artigo meu) noi qual também encontrarão o caso devidamente tratado.
Gostava muito de vos ver ao meu lado nesta e nas outras lutas que vamos enfrentando em Sintra. É preciso que sintamos os jovens ao nosso lado. Faz o favor de divulgar esta nossa «conversa» também aos colegas dos 1º e 2º anos. Os «velhos de Sintra» precisam muito, muito de cúmplices como vocês. Façam o favor de nos darem tal alegria.
Fico aguardando.
Um beijinho para ti, um abraço grande para todos do
João Cachado
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