O que era aquilo?
Os trinta e cinco festões, pendendo de igual número de suportes, mais ou menos regularmente espaçados na Volta do Duche, não deixavam margem para dúvida. Nos dias 9, 10 e 11 de Maio, naquela tão especial artéria do coração do concelho, iria acontecer Sintra em Flor.
Com tão densa profusão de anúncios, fiquei na expectativa. Pensei que, a exemplo do ano passado, haveria uma série de espaços destinados à exposição de flores e à prática da floricultura, eventualmente para venda ao público passante e visitante. Porém, como por ali circulo diariamente, muito me surpreendeu, nas vésperas do evento, o facto de não ter presenciado qualquer movimento afim da montagem dos standes.
Na passada sexta-feira, primeiro dos três dias da programada iniciativa, ainda pensei que, muito à portuguesa, a organização não tivesse conseguido ultrapassar aqueles normais inconvenientes de última hora. Deveria ter havido um atraso qualquer e, o mais tardar, nos dois dias seguintes – sábado e domingo – a coisa já estaria a funcionar em velocidade de cruzeiro e acabaria em florida beleza.
Pois então, por muito que, mesmo nesta terra, esteja habituado a ver a montanha a parir ratos, nunca imaginei que uma coisa destas pudesse acontecer. Não houvera qualquer atraso. Aquilo que se apresentou na primeira manhã manteve-se até ao fim da tarde derradeira. Era assim uma coisa confrangedora, talvez imaginável num qualquer desconsolado e descaracterizado subúrbio.
No entanto, para que não haja dúvidas, passo à sumária descrição. Do lado esquerdo de quem segue em direcção ao centro histórico, não ocupando sequer a totalidade da pequena área de estacionamento imediatamente antes do portão do Parque da Liberdade, expunha-se diminuta quantidade de flores envasadas, fruto do trabalho de associações que merecem o maior respeito. Mas olhem que era mesmo diminuta, seja qual for a escala de comparação que considerem,
Do outro lado da rua, uma boa dúzia de feirantes de domingo instalara-se no passeio empedrado com os seus tabuleiros, cavaletes e outros recursos mais ou menos improvisados, expondo e vendendo umas queijadas, e uma profusão de paninhos, moldurinhas, bijutarias e outras bugigangas de quejando e duvidoso gosto. Em destaque, a mesma metálica armação do ano passado, com umas flores ali despachadas sem ponta de empenho.
Está claro que não passa pela cabeça de ninguém fazer comparações com os pequenos e grandes mercados de flores da Holanda. Quem conheça, logo recorda Aalsmeer, por exemplo, belíssimo, o maior do mundo, único, perto do aeroporto de Schiphol e de Amsterdam. Mas, atenção, é uma realidade diferente, escala diferente, que trago a este contexto apenas com o objectivo de amenizar o quadro. Nada de confusões…
De qualquer modo, o que também não pode suceder, é que passe pela cabeça do Vereador do Pelouro do Ambiente, responsável pelo Sintra em Flor, autorizar que, através de um tal desconchavo, seja passada tão desqualificada imagem de Sintra. Provavelmente, quem tem razão é o nosso amigo Fernando Castelo quando, tão irónica como certeiramente, no passado dia 8 de Maio,* afirmava que o lixo está institucionalizado...
Sintra em Flor? Mas o que era aquilo? Em plena Volta do Duche? Que falta de decoro!
*Comentário ao texto O lixo do centro histórico (II)
1 comentário:
Caro Dr. Cachado,
Eu também passei pela Volta do Duche no sábado e confirmo o que o meu amigo escreveu. Era um ambiente muito fraco que Sintra não merece. Sintra já é uma terra em flor. Estas festas tão pobrezinhas só a prejudicam. E quem faz as contas das despesas? Ninguém é responsável por aquela vergonha embora O Dr. Cachado venha dizer que é o Vereador do Ambiente. É o habitual. Até nas flores esta terra está a ser ultrapassada por Mafra. Vale a pena ir a Mafra e ver o arranjo daquele jardim em frente do convento. É só desgostos.
Um abraço do amigo
Artur Sá
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