[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 24 de junho de 2008

Seteais,
estratégias de comunicação

(Continuação)

Como lembrei, o texto está escrito sobre fundo negro. Mas, à esquerda, o painel tem uma faixa diagonal a branco. E, precisamente na zona em que branco e negro se encontram, aparece a afirmação inequívoca mas sui generis de uma certificação. Assume a forma de um carimbo circular onde, bilingue, surge a indicação do termo das obras, Reabertura prevista 2009 preview reopening. Apenas 2009.

Claro que é um recurso gráfico. No entanto, mesmo nessa qualidade, tratando-se de uma certificação tão institucional quanto possível a uma entidade particular, optaram por não atestar o tal compromisso com o primeiro trimestre… Ora bem, terão de concordar que nada disto é inócuo. Muito pelo contrário, ainda que pressionada pelas reacções públicas ao encerramento, revela uma saudável necessidade de comunicar.

Julgo não exagerar se afirmar que, inclusive, revela a adopção de uma estratégia que, sumariamente descodificada, até abona a favor do Grupo Espírito Santo… Aliás, no meio de tudo isto, se há entidade que, pelo clamoroso silêncio, revela uma nítida falta de estratégia comunicacional e geral é a Câmara Municipal de Sintra. Em todo este processo apagou-se, sumiu-se, envergonhou-se, como se nada disto lhe competisse.

A história das tentativas de encerramento de Seteais demonstra que, ao longo de duzentos anos, sempre que o problema se colocou, a Câmara Municipal de Sintra, esteve invariavelmente ao lado do povo que protestava. Desta vez, já em pleno século vinte e um, perante um consumado encerramento temporário, mascarado por falacioso argumento – a pretensa falta de segurança – a Câmara apenas evidencia uma cómoda estratégia de silêncio. De qualquer modo, está a dar à História o manifesto da sua capacidade. E, não estando ao lado do povo, percebe-se perfeitamente a companhia que prefere.

Aliás, os partidos políticos representados na Assembleia Municipal também não ficam muito melhor no retrato… Reparem que, só dois meses depois das primeiras reacções públicas em que estive envolvido e de que dei conta, é que o Bloco de Esquerda apresentou uma moção contra a situação em Seteais, portanto, já a reboque da movimentação em curso. Enfim, do mal o menos. Mais vale tarde…

A terminar, julgo poder afirmar que, apesar do já consumado encerramento do Penedo da Saudade, cuja reabertura deveria ser reivindicada; embora, inopinadamente, o hoteleiro concessionário se tenha permitido impedir o acesso de viaturas não pertencentes a hóspedes do hotel; ainda que, no passado recente, por diversas vezes, o mesmo grupo Espírito Santo tenha fechado temporariamente o terreiro, a seu bel-prazer, sempre que nisso viu conveniência; pois, apesar de todo este currículo mais ou menos lamentável, jamais alguém pôs em dúvida que houvesse coragem para não reabrir.

O que está em causa é o encerramento temporário, determinado por razões de segurança que, manifestamente, não colhem. Tal encerramento causa escândalo porque não é racional, na medida em que foi determinado com falta de senso. Enfim, nem se pediu que o concessionário fosse suficientemente esclarecido para, inclusive, promover as visitas precisamente com o objectivo de que as obras fossem encaradas como um espectáculo em curso, como, felizmente, já se faz em tantos lugares, mesmo entre nós, e, proximamente, mesmo em Sintra, durante a recuperação do Chalet da Condessa.

(continua)

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