[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 29 de julho de 2008

Cruz Alta, a pé…

(conclusão)

Em segundo lugar, a cerimónia em si. Nem sequer me passa pela cabeça insinuar que lhe terá faltado dignidade. A Igreja Católica Apostólica Romana, guardiã de um savoir-faire milenar, não esteve com demasias e, como competia, em função da natureza do acto, fez-se representar pela dignidade episcopal de um dos seus mais notáveis ministros portugueses, o Senhor D. Carlos de Azevedo, bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa, que celebrou e presidiu.

Todavia, aquela que era uma cerimónia inequivocamente religiosa, também pressupunha uma dimensão cultural que, efectivamente, não aconteceu. Por exemplo, não creio que fosse difícil, sem custos significativos, ter proporcionado um momento de leitura de textos. Entre outros, lembro o caso de Francisco Costa que, cada vez mais esquecido, precisamente se referiu à Cruz Alta. Com incontida emoção, penso em Maria Germana Tânger, imaginando como teria gostado de se prestar a tal serviço!...

E a música? Pois também não houve. Não tocou a banda nem qualquer músico ou agrupamento de câmara. Nem é caso para invocar exemplos da Alemanha, Áustria ou Espanha. Qualquer remoto lugarejo da bem portuguesa província teria feito soar uns acordes em honra do Senhor Jesus cuja Cruz não é coisa de somenos. E, santo Deus, há tantos belíssimos textos musicais a propósito, sei lá, de Bach, Haydn, Liszt…

Era coisa para convidar os artistas da ordem – ao todo, dois três – e, por ali, ter montado rudimentar palanque, disponibilizando uns bancos corridos ou simples cadeiras. Não poderão replicar que seria investimento incomportável. Ao prazer da queijadinha e dos frescos sumo ou branco seco, da tenda do sempre atento Dr. Silva Carvalho, acrescentaríamos outro alimento, de não menor importância que, pelos vistos, continua muito esquecido…

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo Dr. João Cachado

Em primeiro lugar ainda pensei que era o senhor como melómano que não se conformava por a festa não ter música. Mas depois lembrei-me da minha terra, bem no meio de Portugal, na serra da Lousã onde não há festa religiosa sem música. às vezes até dá vontade de rir porque a banda até toca a marcha fúnebre do Chopin em ocasiões que não são de luto.
O meu amigo tem razão. Com tanto dinheiro mal gasto podiam ter pensado no assunto.
Eu não estava por Sintra. Mas a minha cunhada foi até à Cruz Alta na ocasião e confirmou o que o senhor escreveu. Parece que foi mesmo um escândalo os tais automóveis a subir e a descer o monte. O Dr. Cachado não mencionou mas essa minha cunhada disse que o director do jornal Público também lá foi e de carro. Bem prega o frei Tomás...
Um abraço e boas férias que já percebi que vai para Bayreuth quinze dias. Boas óperas e boas caminhadas, desejos do

Artur Sá