Cada terra com seu uso…
Nem sempre estou por aqui neste período de férias. Por isso, só ao fim de alguns dias de permanência contínua, é que me apercebi. Ontem, por exemplo, e hoje, terça-feira, a cena repetiu-se. A partir das três da tarde, num dia absolutamente normal, em que não há qualquer funeral a sair das capelas mortuárias, nem evento no Olga Cadaval, o trânsito fica num pára-arranca, logo desde a Rua Câmara Pestana até à Regaleira.
Nem mais. Correnteza, Alfredo da Costa, Volta do Duche, Consiglieri Pedroso, pouco a pouco, os carros lá vão avançando. Como só acontecia aos domingos e feriados. A partir do Laxrence´s, agora, estaciona-se de um e outro lado da via. Há cerca de uma hora, dois automóveis não conseguiam cruzar-se junto à Fonte dos Pisões… Carros em cima dos passeios, por ali fora, como sempre, perante a geral tolerância e complacência.
Mesmo junto à Villa Roma [como eu compreendo o desgosto da minha amiga Luísa Salgado…], acompanhando a curva ascendente, mais viaturas, constante e ilegalmente estacionadas. Um pouco mais à frente, logo a seguir a Seteais, mais «estacionamento» (?!) sobre a berma esquerda, roubando espaço à faixa de rodagem. É o caos instalado. Percebe-se que, tão somente, em desespero de causa, actue a força policial. Não pode fazer melhor, a verdade é essa, porque a autarquia não fez nem faz o que deveria.
Como, nos últimos tempos, tenho ido muito a Cascais, não posso deixar de notar como, cada vez mais, a qualidade de vida se vai distanciando entre as duas sedes de concelho e, naturalmente, com desvantagem para Sintra. Por exemplo, este sintrense caos do trânsito, conjugado com o problema da falta de estacionamento, é coisa que por lá se não sente. E não avanço por outros domínios onde, comparativamente, Cascais sempre fica em melhor posição.
A propósito, conto-vos um episódio esclarecedor. No ano passado, por esta mesma altura estival, alojei uma amiga austríaca, em minha casa, durante três dias. Como eu próprio estivesse de partida para o estrangeiro, a boa da Astrid foi para Cascais, para casa de um amigo comum, até ao fim da semana em que ela permanecia na zona de Lisboa. Assim sendo, teve oportunidade de comparar, em sequência imediata, as duas realidades.
Entretanto, só quando voltámos a encontrar-nos pessoalmente, em Salzburg, me confessou como ficara impressionada com a diferença de qualidade de vida entre Sintra e Cascais. Nós que aqui vivemos, praticamente paredes meias, dificilmente consciencializamos o que um estrangeiro imediatamente avalia. A meia dúzia de quilómetros de distância, dizia-me aquela amiga, parece que estamos em países completamente diferentes, com um desnível económico e cultural flagrante. Também não percebia ela como é que eram tão difíceis os transportes entre Sintra e Cascais.
Foi também pensando nesta realidade e evidentes diferenças que, há uns dias, escrevi aquele texto sobre a complementaridade e rivalidade entre estas duas terras. Está claro que logo fiz uma versão em alemão que remeti à Astrid. Não é que já respondeu? E, muito à vontade, até perguntou se ainda continua a haver sujidades à volta do contentor encostado à igreja (de São Martinho)… Ah, que vergonha!...
PS:
Só voltaremos a este contacto em Setembro.
Como já sabem, através das minhas respostas a anteriores comentários neste blogue, estou de partida para Bayreuth onde permanecerei até ao fim do mês. De novo, a estada nas bávaras e wagnerianas paragens para assistir a mais uma Tetralogia. De dois em dois anos, lá vou, para um inigualável gozo melómano, com a certeza de, pelo menos, ir encontrar tudo tão bem como da última vez. De facto, está sempre melhor. Também há terras assim...
2 comentários:
Amigo Cachado,
A sua amiga austríaca em poucos dias entendeu o que muita gente de Sintra ainda não descobriu. Li o que escreveu noutro dia a propósito de um comboio entre Sintra e Cascais. Essa era uma solução muito boa para diminuir o fosso que separa estas terras. Mas já reparou que em Sintra não se consegue pôr o eléctrico a funcionar, quanto mais o comboio.
O que o senhor escreveu é mesmo verdade. Quando quero ir com o meu neto a um parque decente vou mesmo a Cascais onde o Marechal Carmona junto à Gandarinha não tem igual. E a vida noturna, bons transportes, bons restaurantes para todas as bolsas, boas lojas, Cascais e Estoril é do melhor.
O grupo que o senhor quer pôr a funcionar para dividir Sintra como concelho dando origem a dois ou três também deve ter em consideração estas diferenças. Seria muito bom encontrar um lugar onde trabalhar essas ideias pois não estou a ver os partidos políticos locais a envolverem-se.
Não havia a ideia de falar com a Alagamares?
Um abraço cordial
Artur Sá
PS:o senhor ainda não respondeu à minha intervenção do fait-divers. Parece que já acalmou.
Acho piada a quem se queixa agora de "falta de estacionamento" na zona do Centro Histórico...depois de terem andado a "marchar" contra a construção de um silo automóvel que permitiria retirar grande parte dos tais carros em cima dos passeios. Em Sintra é sempre assim - a "paralisia" e o domínio de uma pretensa "elite" palavrosa, vaidosa e repleta de teias de aranha, que tudo impede, tudo questiona, tudo cristaliza no tempo, especialmente dentro daquilo que considera o seu "domínio", porque a Sintra deles termina onde começa a dos "suburbanos", os tais que devem ser "enxotados" para um novo Concelho a criar. Depois falam de Cascais e do Estoril - gostava de saber se deixariam fazer em Sintra uma quarta parte daquilo que foi feito em Cascais, se calhar não havia autódromo porque dava cabo da "paisagem", nem Casino porque ía afectar a vista para o mar, nem Hotéis em frente ao mar porque vinham colocar "pressão" urbana e etc e tal. É esse o discurso, À DÉCADAS E DÉCADAS em Sintra. Não se faz nada. Não se deixa fazer nada. Aos outros elogia-se a "vida nocturna" - em Sintra haveria logo um coro de vozes porque o "barulho" de gente durante a noite podia afectar os passarinhos ou os arbustos na Volta do Duche! Veja-se o que aconteceu com o cine-teatro Carlos Manuel, que esteve durante ANOS ao abandono e cheio de ratos e de lixo - o que fez a "elite"? Como "protestou"? Onde? Foi Edite Estrela (ai, credo, já disse o nome "daquela-que-a-elite-não-pronuncia"!) quem acabou com aquela vergonha e por isso hoje temos a magnífica sala do Olga Cadaval! Apesar disso, quem faz ou tenta fazer alguma coisa é completamente cilindrado, atacado e renegado para o "limbo". (calculo que este comentário não passe no lápis azul da censura, mas, como Sintrense, estou FARTO de tanta conversa de chacha, de tanta pretensão, de tanta hipocrisia).
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