Rádio clássica,
alternativa temporária
Apesar de, durante algum tempo, ter sido patente a irregular qualidade do programa entre as sete e as dez horas da manhã, o despautério só tomou conta do estúdio da Antena Dois da rádio pública a partir do momento em que o radialista Paulo Alves Guerra se tornou responsável pelo Império dos Sentidos (vd. posts publicados nos dias 27, 30 de Junho e 1 de Julho).
Tal como muitos dos meus conhecidos e amigos, também eu deixei de sintonizar o FM 94.4 durante aquelas horas, exausto de muita conjugação dos verbos desfiar e resgatar, incapaz de acompanhar as sucessivas, exaustivas e cansativas revistas de imprensa, com football, cotações da bolsa e referência a todos os crimes de faca e alguidar do dia anterior, farto da desconchavada e crónica ironia de um tal Malaquias.
No meu caso, o matinal jejum vai sendo compensado com o recurso a estações estrangeiras, em especial à BR de Munique. Consoante os pessoais interesses e o individual domínio das línguas, outros amigos têm procurado as alternativas mais convenientes.
Eis que, entretanto, a boa notícia chegou. Guerra & Malaquias iam de férias! Uma cadeia de solidariedade imediatamente foi posta em marcha para anunciar que, durante quinze dias, o jovem André Cunha Leal ia tomar conta do leme. Conheço o André. É um jovem extremamente bem preparado, com sólida formação musical e não tenho a mínima dúvida em lhe augurar um brilhante futuro, seja qual for o enquadramento em que trabalhe ao serviço da música erudita.
Naturalmente, nestes últimos dias, voltei ao Império dos Sentidos e, felizmente, com o maior agrado e proveito. Tenho escutado um interessante trabalho subordinado à efeméride do ducentésimo aniversário das invasões francesas e, como é imprescindível, sigo a lógica da coerência programática, percebo que preparação esteve a montante daquele microfone e, portanto, estou com a minha gente.
Hoje mesmo, na sequência do que vem acontecendo, fez o André a imprescindível referência à estupenda edição de 2008, que confirma o Festival do Estoril, sem sombra de dúvida, como o melhor dos festivais da zona de Lisboa, apenas emparceirando, mais a Norte, em termos da qualidade programática, estrutura e objectivos, com Póvoa de Varzim. Só um aparte para felicitar Piñeiro Nagy e Rui Vieira Nery pela excelente direcção artística de ambos os festivais.
Julgo perceber – assim como o fazem os meus amigos e conhecidos, ouvintes da Antena Dois – a razão pela qual o André Cunha Leal não é o responsável, como já foi e com o maior sucesso, pelo programa em referência. Só não percebo o que lhe faltará, se o cartãozinho ou um padrinho a preceito…
Todavia, a fazer fé nos princípios e valores que o André Cunha Leal e a família professam [felizmente, ainda há gente assim, não se trata de últimos abencerragens…], bem me parece que Guerra & Malaquias, ainda têm pano para desfiar, muita trivialidade para resgatar, editando inenarráveis crónicas de imbecilidades. Enquanto João Almeida pontificar, o melhor é procurar postos além fronteiras, entre as sete e as dez!...
2 comentários:
Caro João Cachado,
Concordo em tudo. É pena que o rapaz acabe o bom trabalho já amanhã. Ainda por cima o Cunha Leal fez o programa durante um ano com bom ambiente e profissionalismpo. ´Porque o afastaram?
Deixe lá que as coisas hão-de compor-se. Os Almeidas, os Guerras e os Malaquias deram com aquilo no fundo. Julgam que são eternos nos lugares mas têm o tempo contado. Como pior não é possível, no fim do seu reinado será sempre mais positivo. Gente capaz não falta na rádio clássica. Por isso estou optimista.
Cumprimentos do
Pinto Camilo
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