Aos bocados, vai caindo…
Ontem, ao princípio da tarde, em plena Heliodoro Salgado, caiu um bocado do revestimento da fachada do prédio onde está instalada a Farmácia Simões. Não façam como eu que, inicialmente, induzido em erro, julgava tratar-se da caliça superficial. Pois, não senhor, foi mesmo o reboco, com uma boa espessura, que se destacou da altura de um primeiro andar, acabando por atingir, felizmente de raspão, uma senhora que entrava ou saía do estabelecimento.
Se bem repararem, o edifício em questão, aparentemente, até nem apresenta mau aspecto. Está muito longe, por exemplo, da imagem francamente degradante daquele renque de imóveis que, uns metros mais acima, entre os números dezasseis e trinta e tal, escancara as habituais misérias de Sintra. Ou, para que não haja dúvidas, a confirmação do inacreditável aspecto do prédio cor de rosa e da garagem, cujos donos se devem ter convencido que aquilo é tão bom como um poço de petróleo…
Ora bem, o número vinte e seis até nem está mau de todo, uma vez que foi reparado há uns cinco anos. Mas, como vinha dando preocupantes sinais, a Dra. Maria de Lourdes M. C. Simplício dos Santos, estimável e previdente senhora, há semanas tinha avisado os proprietários do imóvel para a eventualidade de vir a suceder algo de semelhante ao que acabou por acontecer. Ignoro se alguma previdência terá sido tomada mas, enfim, pelo que a casa costuma gastar, é possível imaginar o que terá sucedido. Ou foi para a pasta das dúvidas ou para o rol dos esquecidos…
Quando passei pela rua, para além dos basbaques opinantes, naturalmente sempre muito prolixos e eloquentes, também evoluíam agentes da Polícia de Segurança Pública, da Polícia Municipal e pessoal da Protecção Civil, entrando ou saindo das respectivas viaturas, não em grande actividade mas, flagrantemente, em manifesta agitação. Como sempre, depois das ocorrências, a autoridade policial, normalmente, aparece. O que dava um certo jeito é que, antes dos incidentes, portanto, sempre e quotidianamente, se fizesse sentir a ordem e a autoridade que prevalecem nas sociedades civilizadas…
Desconheço se a senhora vítima do acidente de ontem, apresentará queixa a quem de direito para se ressarcir das consequências mas, perfeitamente ao corrente da vigente cultura de desleixo cá do burgo, prevejo que, tanto os responsáveis da Câmara como os donos do prédio, devem estar «preocupadíssimos» com o sucedido… Em casos que tais, costuma dizer o povo que é para o lado que dormem melhor…E, na realidade, imaginará alguém que tal gente, alguma vez, sofreu de insónia?
Entretanto, muito para além deste incidente, que apenas constitui mais um sintoma de um quadro bem conhecido, tudo nos autoriza a que abramos as hastes do compasso. É mais do que evidente que Sintra cai aos bocados. Vai caindo. Hoje, um bocadinho, na Heliodoro Salgado, amanhã ou depois na Vila Velha. E há sempre vítimas. Nós! Sim, todos nós e não só aqueles que, por vezes, vão parar ao hospital.
Por outro lado, quando não cai, Sintra continua suja e fede. Não merece, pois não, mas a sede do concelho é mais descuidada que os subúrbios das freguesias que, de Sintra, têm tanto como Santa Iria de Azóia ou Paio Pires… Linda mas indefesa Sintra sofre tratos de polé, às mãos de quem não pode, de quem não sabe acudir-lhe, de quem não sonha sequer o mal que perpetua, numa arrepiante perversidade da Democracia, ao cadenciado ritmo dos ciclos e calendários eleitorais.
2 comentários:
Pois é, meu caro amigo João Cachado, a coisa por cá não está boa. Assisti, infelizmente em directo, à queda do reboco do edifício e a atingir a Senhora que, naquele momento, se dirigia com o marido à farmácia. Fui eu a telefonar para a Polícia Sintral, perdão, Municipal que depois telefonou para a GNR e bombeiros. Estranho que tenha sido a GNR a ter de elaborar um auto da ocorrência para um acidente ligado a um perigo decorrente do mau estado de um edifício.
Para nós, não aderentes a esta política do neo-ilumino-futebolês, pouca coisa já espanta, daí que insistirmos nos factos seja a forma viva para não nos chamarem papalvos.
Infelizmente, algumas estórias que por aí circulam, ajudam-nos ao uso da pena, utensílios que só deveria ser utilizado para coisas relevantes e boas na nossa terra.
Depois de alguns dias fora do país, soube que, talvez por falta de um qualquer beneplácito celestial que fizesse chegar à Cruz Alta a voz de um anacoreta, zás...acabou aquele "combóio" que levava os turistas a Monserrate, e muitos lá foram este ano.
A história serve-se assim fria, com as nefastas consequências para o turismo de Sintra e não só para a empresa Parques de Sintra Monte da Lua.
Lembre-se que o acesso ao Parque da Pena é feito por um caminho privado.
Meu caro Castelo,
Caramba! Isto é o que pode designar-se como sentido de oportunidade! E, como se conclui, não poderíamos estar em maior sintonia.
Pena é, meu caríssimo amigo, que ninguém seja sensível aos contributos que, tão desinteressadamente, continuamos a formular, com o espírito «de bona fide» e de colaboração entre a Administração e os administrados, que deve prevalecer - para além do quadro do Código do Procedimento Administrativo - e que o nosso Presidente, Professor Fernando Seara, tanto gosta de invocar.
Mais tarde nos deteremos sobre o assunto do acesso aos domínios da PSML.
Um abraço
João Cachado
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