[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Seteais,
espaço nosso de cada dia



No fim da semana passada, remeti um conjunto de considerações ao Professor Engº António Ressano Garcia Lamas, Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra Monte da Lua que, desta feita, me permito vir partilhar com os leitores preocupados com as notícias referentes a um espaço que nos é tão caro como o de Seteais.

Acontece que, nos termos do protocolo celebrado no passado dia 21 de Agosto, a concessão de Seteais passou para o pleno domínio da PSML, empresa cuja actuação, a favor dos gerais interesses de Sintra e, em particular, dos monumentos e parques que lhe estão afectos, tem merecido os maiores encómios por parte dos mais diferentes agentes, enquadrados nos mais diversos sectores de actividade pública e privada.

Pois, precisamente, com base no crédito que a empresa tem vindo a conquistar, creio que o protocolo poderá ser encarado como notícia de sinal muito positivo, a partir do qual poderemos colocar uma saudável esperança, relativamente à possibilidade de que seja introduzida alguma mudança num statu quo algo lesivo do usufruto da parte da propriedade cujo acesso público, para todos os efeitos, tem prevalecido há mais de duzentos anos.

O último episódio de encerramento intempestivo do terreiro, por parte do actual concessionário, ainda mais argumento acrescenta à causa que considero defensável nos termos que me permito adiantar. Para tal, indispensável se revela ter em consideração que, na realidade, o Património Nacional jamais promoveu qualquer tipo de atitude afim da inequívoca afirmação do acesso público daquela propriedade. De facto, e não de jure, o regime de entrada franca no local tem vigorado consuetudinariamente. Não sendo jurista nem dispondo de informação jurídica pertinente, desconheço se haverá vantagem na alteração do actual enquadramento. Provavelmente não.

Nosso, como?

Então, que tipo de alteração será de encarar? A única que se me afigura plausível e atinente com a própria vocação do local, relaciona-se com a celebração das Artes e das Ciências que mais lhe estão afectas. Com um pouco mais de detalhe, poderia avançar para a ideia de seleccionar um conjunto de documentos cuja temática geral se articule com o perfil do local, por exemplo, nos domínios da Literatura, das Artes Plásticas, da Música, da História e que, obedecendo a uma interdependência, coerência e lógica irrefutáveis, pudessem ser apresentados, nos termos do que é comum fazer-se em lugares congéneres.

Ocorre-me a possibilidade de solicitar o concurso de personalidades que, há tantos anos, têm estado tão presentes e ligadas ao próprio imaginário de Sintra, como Maria Germana Tânger, Maria Almira Medina ou Maria de Jesus Barroso Soares, cuja proverbial disponibilidade, bem conhecido e entranhado amor a esta terra possa constituir uma evidente mais-valia para a proposta de animação e de interpretação do património que Seteais constitui.

A título de mero exemplo, seria de pensar na leitura gravada de textos criteriosamente seleccionados – entre outros, o da maravilhosa descrição de Eça de Queirós, em Os Maias, do avistamento da Pena, por quem desce do belveder e se aproxima do arco, espraiando-se o terreiro, dramaticamente, até que o olhar se perde no cimo da serra e nas cúpulas douradas do palácio – recorrendo a fundos musicais esteticamente afins.

Seteais faz parte da História de Portugal e de Sintra. Sabem-no os professores que, todos os anos demandam o local acompanhando milhares de crianças e de jovens que, infelizmente, por falta de condições, nem sempre colhem o benefício que todos gostaríamos pudesse acontecer. Sabem-no, igualmente, os muitos visitantes nacionais e estrangeiros que se detêm um pouco mais de tempo nesta terra, não dispensando a passagem pelo lugar de privilégio.

Afirmar a propriedade

Ora bem, com o intuito de colmatar esta falha e, em simultâneo, suprir a informação que se revela necessário partilhar, provavelmente, seria possível montar uma expedita e leve estrutura, num estratégico recanto do terreiro, que não colidisse com o espírito do lugar, onde os visitantes recolhessem os dispositivos de guia individual, com gravação de textos nas línguas mais conhecidas, para se poderem dirigir aos pontos de interesse devidamente numerados e identificados.


(continua)

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