A casa das máquinas
(continuação)
Espanta-se uma pessoa como não ocorre que, num lugar com estas características, tal instalação seja totalmente inviável e inadmissível. Ao fim e ao cabo, trata-se de algo que poderia ter sido alojado numa qualquer subterrânea construção, que ninguém incomodaria, como acontece em quaisquer civilizadas paragens.
Não em Sintra, como bem se atesta. De todo em todo, não em Sintra, onde os serviços da autarquia não intervieram, como é suposto acontecer, em articulação com a tutela central deste bem patrimonial que, no seu todo, é tão simbólico e caro às gentes de Sintra.
Não em Sintra, onde, para rematar o perfeito desconchavo, se permite que a tal construção seja coroada pela cosmética atitude de um espelho de água. Valha-nos Deus! Que provincianismo! Que mais pacóvia e acabada prova das duvidosas habilitações e sentido estético de quem tudo isto propôs e decidiu. Olhem que não deve ser fácil uma acumulação de tanta asneira, em tão reduzido quanto exposto local…
Como é?
A propósito, como acima se refere, perante a inacção do pelouro da Cultura e dos serviços respectivos, foi o próprio Presidente da Câmara de Sintra, já depois de consumado o disparate, quem teve de intervir, pessoalmente, junto do Director do Igespar, na tentativa de obter uma explicação, que nunca chegou ao conhecimento dos munícipes.
Este não é um caso despiciendo. Aliás, como todos sabemos, não há casos maiores e menores que, consoante a sua escala ou natureza, mereçam maior ou menor cuidado em termos de defesa do património. Convirá lembrar que tais princípios têm sido sucessivamente afirmados, confirmados pelas Cartas de Atenas, de Veneza ou de Tessalónica, documentos internacionais subscritos por Portugal, que obrigam todas as entidades, dependentes dos poderes central e local, a uma vigilância inequívoca contra a sempre real possibilidade de ocorrência de um atentado ao património, seja qual for a sua origem.
Não se compreende como um município, em cujo território se encontram especiais jóias do património nacional e mundial, dá provas de tanto descuido, ao nível da articulação com outras instâncias de intervenção sobre tais bens patrimoniais. Assim sendo, como não duvidar e, com tão evidentes argumentos, quanto ao teor das declarações de acrisolado amor pelos sintrenses lugares e valores, que os «responsáveis» (?!) apregoam mas, tão despudoradamente descuidam?
Na verdade, tudo isto está sob a custódia do Igespar, entidade dependente do Ministério da Cultura, à qual compete o acompanhamento da obra de recuperação em curso. Surpreendentemente, foi o próprio Igespar que autorizou a concretização de um desmando que lesou os interesses da comunidade. Entretanto, como vivemos num estado de Direito que, entre outros princípios, privilegia a transparência de acção dos seus agentes, garantindo o direito à informação sobre os seus procedimentos, justo é que se aguarde uma satisfação.
(continua)
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