Quem tem medo
dos cursos profissionais?
(conclusão)
Convite irrecusável
Para quem ainda possa alimentar qualquer animosidade contra os cursos profissionais do Ensino Secundário - cujo maior pecado, pasme-se, é possibilitarem o acesso imediato ao mercado de trabalho!... – aconselho vivamente, com a maior pertinência, com a maior seriedade, que vá assistir às provas públicas finais a que são submetidos os alunos desses cursos. É um convite aos pais e encarregados de educação, aos professores, aos jovens estudantes, que formulo com a prévia ponta de ironia que resulta de saber como vai ficar surpreendido quem aceitar a sugestão.
Assistir à apresentação de uma PAP (Prova de Aptidão Profissional) constitui o assumido privilégio de perceber como é possível dar a volta a um Sistema de Ensino anquilosado, viciado por dezenas e dezenas de anos de más práticas, relutante à mudança e à inovação pedagógica. Permitam-me um aparte para vos lembrar que são da mesma massa os jovens que, terminado um curso profissional – ao contrário dos seus colegas dos ditos cursos «normais» - demonstram o domínio de um saber-fazer específico que lhes abre a porta ao trabalho imediato, com uma taxa de empregabilidade superior a oitenta por cento! São da mesma massa, têm sucesso mas o seu exemplo não é divulgado. Porque será?
Aceitem o convite. Vão. Vão assistir à apresentação das PAP. No nosso concelho, têm a sorte de poder fazê-lo com os alunos finalistas de uma das Escolas Profissionais de maior sucesso a nível nacional. Trata-se da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, sedeada na Freguesia da Terrugem, no contexto de um invejável complexo de estruturas culturais que também abrange o Museu de Arqueologia de São Miguel, em Odrinhas, ambos organicamente dependentes do município de Sintra através da SintraQuorum, a empresa municipal que, igualmente, gere o Centro Cultural Olga Cadaval.
A prova real
A EPRPS ministra cursos de recuperação de Património Edificado - nas especialidades de azulejaria, cantaria, estuque, madeiras, metais, pintura mural – e de Gestão e Recuperação de Espaços Verdes. É apenas um entre os muitos casos que, felizmente, bem conheço. Se a ele recorro é, tão somente, porque acontece neste concelho adiado que, para mal dos nossos pecados, nem sequer sabe promover devidamente os seus próprios casos de excelência.
Certamente, gostarão de assistir à apresentação de trabalhos sofisticados pelos alunos finalistas que disponibilizam, esclarecem e defendem os seus relatórios escritos, auxiliados pelos meios informáticos mais adequados e operacionais, perante um júri alargado de membros que, para além de professores da Escola, inclui representantes de entidades públicas e privadas relacionadas com as especialidades de profissionalização adquirida bem como dos potenciais empregadores.
Não são raros os testemunhos de professores do Ensino Superior, que integraram júris de PAP deste estabelecimento de ensino, afirmando a sua surpresa perante a alta qualidade dos trabalhos em presença, com características perfeitamente universitárias. Como não ficar escandalizado com a opinião de autênticos terroristas que propalam a falsa ideia de que estes são cursos para gente desprovida de capacidade, uma espécie de segunda oportunidade para mentecaptos?
Quem tem medo dos cursos profissionais? Sem dúvida, a mesma gente que ajuda a manter a situação testemunhada pelos números inicialmente apresentados. Pois bem, ou acontece a mudança, se invertem os índices e o país é capaz de preparar a juventude para os desafios de profissões cuja habilitação não implica a passagem pela universidade ou, então, permanece este estado de inconsciência militante, que leva a comunidade a ter de sustentar dezenas de milhar de licenciados desqualificados, infelizes, improdutivos.
É uma lástima, sem dúvida, mas evitável.
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