[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 7 de novembro de 2008



Concluo a transcrição de um artigo publicado
no Jornal de Sintra que, infelizmente,
não perdeu oportunidade apesar de
terem passado mais de um bom par de anos.

Acerca do mesmo assunto, como hão-de verificar
nos próximos dias, tenho apresentado
outros contributos, sem qualquer veleidade
de originalidade, tentando privilegiar
uma perspectiva integrada e sistémica.

Não será preciso recorrer
ao exemplo de situações de sucesso
no estrangeiro. Aqui bem perto, em Cascais,
já foram adoptadas soluções congéneres.
Enfim, Estoril-Cascais não só é outro Portugal
mas também algo da melhor Europa.

Que pena, em Sintra, o adiamento
de práticas testadas que, na verdade,
resolvem os problemas com que,
há tantos anos, se confronta perante
a inoperância e incompetência de
sucessivos executivos autárquicos.


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Parques de estacionamento,
por favor!

(conclusão)


Regaleira? Apenas um exemplo

Mas não quero furtar-me ao desafio do leitor preocupado com o estacionamento junto à Regaleira. Então aquele quadro de terceiro mundo que a fotografia denuncia é uma inevitabilidade? Claro que não é. E importa notar que, não sendo isolado, o caso da Regaleira é aludido aqui, tão somente, como exemplo paradigmático. De uma coisa podem estar todos certos: estacioinamento, em cima dos passeios, junto à Regaleira, é algo que deixará de existir, apesar de fazer muito jeito aos turistas e até a certos senhores que trabalham na Cultursintra…

Vamos ao caso concreto. Independentemente da possibilidade de acesso por outras vias, incluindo a pedonal, tão saudável para quem queira meter pés ao caminho, poderia perfeitamente funcionar um circuito de mini autocarro, idêntico aos que já se concretizam, saindo da Portela e terminando em Monserrate, com paragens nos Paços do Concelho, Volta do Duche, Igreja de São Martinho, Regaleira e Seteais.

O visitante deixaria o automóvel no parque e, de acordo com a sua disponibilidade de tempo, poderia descer na Vila Velha para ir ao Palácio, comer e comprar as queijadas para, mais tarde, sempre com o mesmo título de estacionamento-transporte, retomar a linha do mini-autocarro que o levaria à Regaleira e, assim sucessivamente, ou não, até se decidir regressar ao carro.

Imaginação… com realismo

Outras sugestões de circuitos poderia avançar, a estudar e a avaliar por técnicos competentes: desde o Ramalhão ao Roseiral, com paragens em Chão de Meninos, São Pedro, Santa Maria e Fonte da Sabuga; desde Lourel à estação central da CP, com paragens na Estefânea, Paços do Concelho, Volta do Duche e Vila Vela; desde a Ribeira à Pena, com paragem na Correnteza, Paços do Concelho, Volta do Duche,Vila Velha, Parque das Merendas e Castelo dos Mouros. Naturalmente, seria sempre possível a aquisição de um módulo global de acesso a toda a rede, por um ou mais dias.

Como tantas vezes tenho lembrado, estas soluções do futuro contemplarão também o regime de cargas e descargas, o encerramento de certas vias e o acesso condicionado das viaturas prioritárias, de residentes e dos comerciantes.

Utopia? Não, isto é o que se faz em todo o mundo civilizado. Não é preciso inventar seja o que for. Independentemente da escala dos lugares - Sintra é um caso, Évora outro e Torres Vedras outro ainda – a solução do transporte cuja tarifa inclui o preço do estacionamento é algo que está muito generalizado. A criatividade fica reservada a quem estuda os circuitos, os horários, prevendo a possibilidade de cruzar as ofertas em presença, de tal modo que o utente se sinta confortável seja qual for a decisão quanto aos destinos seleccionados.

Neste domínio, não é necessário apelar à ousadia. Deixemo-la para outras batalhas. Para ganhar esta, contra o desleixo, pela disciplina e correcção do acesso ao centro histórico e aos monumentos, através de soluções tão razoáveis como pertinentes e civilizadas, basta copiar o que acontece em certos lugares nacionais e estrangeiros para onde o cidadão comum não precisa nem deve olhar invejosamente.


Publicado no Jornal de Sintra em 19.05.06

2 comentários:

Anónimo disse...

Senhor João Cachado,
Sem querer abusar do espaço que tão generosamente disponibiliza a quantos sofrem com o estado a que chegou esta Sintra que tanto amamos, começaria por avivar alguns factos curiosos, com especial enfoque naquele combóio turístico que dantes levava umas centenas de visitantes a Monserrate e, não sei se por alguma reclamação ou birra, de um dia para o outro desapareceu.
Um destes dias, passeando com a minha mulher, voltei a ver o tal comboizinho e saltou-me o desejo de fazer uma viagem nele até Monserrate, até para poder ver aquilo que se diz estar a ser feito em Seteais e que parece ser de bradar aos Céus. Foi com espanto que ouvi dizerem-me que a Monserrate não vai.
Um antigo colega, em jeito de confidência, quase me garantiu que uma empresa de camionetas terá reivindicado o direito aos tranportes, mas não foi obrigada a fazer - então - o circuito até Monserrate.
E, dessa forma expedita, talvez uns milhares de pessoas deixaram de visitar Monserrate, porque já não é tão perto como isso.
Comecei a pensar se existiria alguma vingança pelo meio, de luva negra, porque branca é que não seria, mas com medo de ir para o purgatório afastei logo essa terrível suposição.
Fiquei então a meditar noutra, talvez mais justificada, porque não havendo combóio para Monserrate nem transportes de carreiras como seria natural, serão muito menos as pessoas que poderão apreciar Seteais e as obras que por lá estão a ocorrer, ou seja, é possível garantir uma maior taxa de silêncio. Por certo também estarei equivocado, mas isto nem é uma opinião é apenas um desabafo.
Receba as minhas felicitações pela sua luta, embora seja de todos nós os que aqui têm passado grande parte das respectivas vidas.
Diogo Palha

Sintra do avesso disse...

Caro Engº Diogo Palha,

Chego a pensar que, em Sintra, estaremos a redimir-nos de alguma e muito grave ofensa. Como costuma o povo fazer, também eu pergunto «que mal teremos nós feito a Deus» para merecer o azar de uma gente tão reles e ordinária a governar os destinos desta terra há dezenas de anos?

Mas esta gente é eleita. Pois é, meu caro Engº Diogo Palha. A classe política portuguesa é tão má, tão desqualificada que não é de admirar o resultado. Como sabe, a democracia é perversa. Se os cidadãos não controlam os eleitos, eles sabem como controlar os seus interesses. Mas para que, em Portugal, os cidadãos pudessem controlar a actividade dos eleitos, teria de estar a acontecer, em simultâneo, todo um conjunto de programas afins da literacia e da alfabetização.

Ora isso não está a suceder nem interessa que suceda porque, mantendo-se o povo ignorante e entretido, embasbacado, entorpecido pelo futebol e televisão, as coisas são muito mais fáceis para os politiqueiros.

Voltemos ao transporte para Monserrate. Julgo saber o que se passa com a carreira de «comboio». E, tanto quanto consigo deduzir da insinuação que paira nas suas palavras, o senhor também sabe. Houve uma vingançazita qualquer por parte da Câmara de Sintra contra a Monte da Lua, cujos pormenorers me escapam. Mas uma coisa é certa. Se o objectivo era prejudicar o sucesso da PSML, o prejuízo maior é dos potenciais visitantes e de Sintra em geral.

Impedir o «comboio» de ir a Monserrate porque a empresa de camionagem reivindicava um «monopólio»? Pode ser. Nesta Sintra vê-se tanta coisa que tal não me espantaria. Mas, então, como entender o facto de não concretizar o transporte para Monserrate que pressuporia a tal reivindicação? Olhe, é capaz de haver um «entendimento» qualquer que... mos escapa, está visto.

É certo que, deste modo, maior a cortina de silêncio sobre Seteais, que se transformou naquilo que já designei como o lugar geométrico da asneira sintrense. Mas também lhe digo que, durante as minhas caminhadas, com alguma frequência, vejo gente a parar e a olhar para os desconchavos, em especial, para a casa das máquinas, construção mais exposta e em evidência. Ainda ontem à tarde por lá andava um casal, ele e ela espantadíssimos, não querendo acreditar no que viam os seus olhos, com a boa memória de ali terem namorado...

Em Sintra, entre muita malvadez, também estão a destruir-nos as memórias. Que o façam com o beneplácito da autarquia e das entidades dependentes do Estado central, como o Igespar, que deveriam actuar em sentido diametralmente oposto, isso é que dói.

No entanto, penso que já sabe ter o Ministério Público exigido à Câmara de Sintra a remessa do processo de licenciamento da «reconstrução» de uma habitação na Quinta do Vale dos Anjos, para análise dos eventuais atropelos. Não deixa de ser uma notícia altamente moralizadora, indiciando que, apesar de tudo, as instituições pretendem funcionar...

Fico-lhe muito grato pelas suas palavras de encorajamento. Se, muitas vezes, me sinto a bradar no deserto, mais recentemente tenho tido prova de que há muita gente a pensar como nós. Daí até darem-se ao incómodo de operacionalizarem oo seu descontentamento, através de acções consequentes e profícuas, vai um passo muito grande.

Já muito contente ficaria se todos os que sentem o nosso incómodo derem a entender aos «responsáveis» que, por mais habilidosos que forem, esta não é uma terra de cegos, que tais videirinhos não têm um especial olho e que já lá vai o tempo dos reis...

Um abraço e os meus cumprimentos à sua Mulher, Sra. D. Júlia, do

João Cachado