[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 10 de março de 2009

De Seteais, o costume...


O jornal diário para profissionais de turismo online Opção Turismo, anunciou ontem que hoje, dia 10 de Março, reabrirá o hotel Tivoli Palácio de Seteais.

Como ainda não passei por lá, desconheço em que condições se vai processar o acesso ao público de um terrero que nunca devia ter sido fechado e, muito menos, sob a esfarrapada desculpa de que erm questões de segurança que teriam determinado o ebcerramento. A descarada mentira chegou ao ponto de invocarem a abertura de valas que, na realidade, nunca foram concretizadas.

De facto, como se previa, o relvado - único espaço reivindicado para continuação das visitas - esteve sempre livre de quaisquer manobras que pudessem constituir obstáculo, por exemplo, à demanda de estudantes de todo o país que, durante um ano, ali não puderam concretizar actividades previstas nos programas escolares.

Entretanto, o que foi ingénuo tanque, em moldura de aprazível lugar de lazer, lá está transformado na prosaica casa de máquinas que o Igespar autorizou, na anunciada presunção de que era muito boa solução, com ilusionista espelho de água e tudo o mais. Como se nada tivesse com isto, a Câmara Municipal de Sintra, prima pelo silêncio. Atitude sintomática? Não. Apenas o que a casa gasta...


De Seteais, o costume (II)

Afinal, acabei por ir ao terreiro. Como podia eu ficar mudo e quedo perante a perspectiva da reabertura do recinto? Fui, entrei e, não sem uma certa emoção, dei uma volta de reconhecimento. Ainda há obras em curso, certo é que de acabamento. Do interior do palácio não vos dou notícia. Na verdade, era aquela sensação de pisar um terreno nosso, que eu procurava. E isso, encontrei.

Um pouco mais acima, anda um enorme desassossego de mangueiras, condutas, cabos elécticos. De portas escancaradas, a casa das máquinas está prestes a receber motores, bombas eléctricas, um sem número de equipamentos cuja natureza é coisa só para iniciados, incluindo as brilhantíssimas mentes que imaginaram e decidiram ofensa tão acabada. O hoteleiro concessionário de Seteais continua a fazer das suas mas, note-se, a coberto do aval do Ministério da Cultura... É Portugal no seu melhor!

O nosso amigo Fernando Castelo escreveu um comentário acerca do texto desta manhã ao qual pretendo dar o merecido destaque, não o deixando confinado ao reduto dos comentários. Por isso, aí está a sua transcrição:


"Como a contagem das minhas Primaveras se vai aproximando das setenta, começo a duvidar se penso em certas coisas, e logo existem, ou se estou no meio de idiotices da idade, com coisas que não existem.

Então não é que uma noite destas dei comigo a sonhar que para a transferência de um comentador tinha bastado um telefonema? Nem sei a que propósito me apareceu tal sonho, mas agora, perante as dúvidas que coloca no seu texto, fico comparando o que é fácil ao nível pessoal e o que se torna difícil quando é preciso tomar decisões de interesse colectivo. Pelo menos algumas.

Seteais e a Quinta de Vale dos Anjos ficarão na história dos nossos momentos tristes. Porque nada mais podia fazer, estou envergonhado. Batemos a todas as portas: Os mais altos responsáveis autárquicos, Unesco, um homem de cultura (Manuel Maria Carrilho) que por lá anda. Sem respostas. Ficaram mais umas desilusões.

Como sabe, os responsáveis continuam orgulhosos das suas poses, impantes pela sua qualidade de eleitos pelo povo. Povo este que, abnegadamente, de tantos em tantos anos NÃO ESCOLHE QUEM LHES DÊ MELHOR FUTURO, MAS SIM UM MELHOR FUTURO PARA UNS TANTOS MILHARES DE ELEITOS. Estamos de rastos, meu caro. É a decadência de um país.

Fernando Castelo
10-03-2009 16:05"

A minha resposta, essa sim, continua onde deve permanecer, portanto, no lugar dos comentários.


6 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro João Cachado,

Como a contagem das minhas Primaveras se vai aproximando das setenta, começo a duvidar se penso em certas coisas, e logo existem, ou se estou no meio de idiotices da idade, com coisas que não existem.

Então não é que uma noite destas dei comigo a sonhar que para a transferência de um comentador tinha bastado um telefonema? Nem sei a que propósito me apareceu tal sonho, mas agora, perante as dúvidas que coloca no seu texto, fico comparando o que é fácil ao nível pessoal e o que se torna difícil quando é preciso tomar decisões de interesse colectivo. Pelo menos algumas.

Seteais e a Quinta de Vale dos Anjos ficarão na história dos nossos momentos tristes.

Porque nada mais podia fazer, estou envergonhado. Batemos a todas as portas: Os mais altos responsáveis autárquicos, Unesco, um homem de cultura(Manuel Maria Carrilho) que por lá anda. Sem respostas.

Ficaram mais umas desilusões.

Como sabe, os responsáveis continuam orgulhosos das suas poses, impantes pela sua qualidade de eleitos pelo povo.

Povo este que, abnegadamente, de tantos em tantos anos NÃO ESCOLHE QUEM LHES DÊ MELHOR FUTURO, MAS SIM UM MELHOR FUTURO PARA UNS TANTOS MILHARES DE ELEITOS.

Estamos de rastos, meu caro. É a decadência de um país.

Sintra do avesso disse...

Amigo Castelo,

Se calhar, terei abusado da sua prosa. Neste momento, já está no lugar onde são publicadas as mensagens. Claro que foi por bem.

Não posso estar mais de acordo consigo. Eu próprio teria subscrito as suas palavras.

Na realidade, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Substituímo-nos a quem, de direito, deveria ter erguido bem alto a indignação dos munícipes de Sintra, que não se rendem às manobras de um poderoso qualquer. Ainda que, vergonhosamente, a autarquia se tivesse agachado a um ponto inusitado, fica para a História que houve gente que veio para a rua, pessoas que, não sendo autarcas nem deputados municipais, protestaram na Assembleia Municipal e em reunião pública da Câmara, arrostando com o incómodo de enfrentar, olhos nos olhos, responsáveis que, sobranceiramente, se permitiram apelidar-nos de fundamentalistas...

José Alfredo da Costa Azevedo e, antes dele, todos quantos, desde 1802, lutam pela manutenção do terreiro de Seteais como espaço público, foram o nosso modelo, impuseram-nos o respeito pela sua memória. Enfim, ficámos também a saber dos filhos de Sintra que não são minimamente dignos de tais ancestrais. Os jornais registaram. A História continua a fazer-se...

Outra coisa, mas afim. Quando os nossos autarcas vão para as reuniões da Unesco com balelas discursivas dando a entender que Sintra é um bom exemplo de defesa do património edificado, deveriam ter vergonha de, em tempo oportuno, se deixarem enrolar pelos propósitos de um concessionário hoteleiro que consegue o beneplácito de um organismo do poder central para destruir um bem patrimonial - caso do tanque - travestindo-o e traindo o espírito do lugar.

Bateu o meu amigo à porta da Unesco, eu secundei-o, o senhor voltou à carga, enviou o processo para Paris, mas tudo em vão. Assim vão as instâncias locais, nacionais e internacionais. Discursos bonitos, péssimas actuações...

À nossa medida, há que despir, descodificar os meandros desta gente, politiqueiros videirinhos que não fazem tudo quanto deveriam para honrar o lugar para o qual o povo os elegeu.

É aos nossos filhos e netos, aos miúdos das escolas, em especial às crianças e aos jovens estudantes que cumpre denunciar estes comportamentos de pouca dignidade. A política não é isto mas, em Portugal, deu nisto...

Seteais, um caso despiciendo como alguns pretendem que se considere? Neste domínio da defesa do património, a natureza e a escala dos casos é um factor, esse sim, perfeitamente desdenhável. Seteais é, para todos os efeitos, independentemente da natureza e da escala, um caso de Sintra. O terreiro escusadamente encerrado durante um ano, o tanque destruído, o que está a acontecer na Quinta do Vale dos Anjos, é a nossa Sintra a sofrer. Pena é que sejamos tão poucos a senti-lo.

Um abraço do

João Cachado

Anónimo disse...

Nos meus tempos de mocidade namorava-se no penedo da Saudade. Lá ficaram gravados o meu nome e da minha namorada que passou a ser minha mulher, entretanto que já faleceu. Como sabe, o portão foi fechado à chave e há muito tempo que não se pode visitar essa parte de Seteais. Não há outro lugar assim romântico em Sintra. Penso que a Câmara devia exigir a abertura do penedo da Saudade. Tenho a certeza que muita rapaziada da minha idade havia de gostar de voltar ao lugar.
Deixo-lhe a ideia com amizade e simpatia pelos seus textos.

Helder Fachada

Anónimo disse...

Conheci muito bem o Zé Alfredo. Foi sempre uma pessoa excepcional. Falava com frequência em Seteais e contava aquele episódio do sino a toca a rebate. Em memória dele, deviamos pedir que se reabra a zona do Penedo da Saudade. O senhor Fachada tem razão, há quarenta ou cinquenta anos os rapazes e as raparigas de Sintra era ali que namoravam. O grande romantismo de Sintra era ali.
Os amigos Cachado e Castelo podiam ir para a frente com esta ideia. Se não forem os senhores ninguém se mexe. Cumprimentos

Carlos Mena

Sintra do avesso disse...

Helder Fachada,

Muito obrigado pelas suas palavras e repto que nos lançou, a mim e ao Fernando Castelo.

Gostaria de informar que não caíu em saco roto. Em breve estarei com o Prof. António Lamas junto de quem me vou inteirar sobre este e outros assuntos relativos a Seteais.

Um abraço

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Carlos Mena,

Como o seu comentário era afim do de Helder Fachada, fiz uma certa confusão. De qualquer modo, na mensagem imediatamente precedente, deixei a informação sobre o contacto que pretendo ter com o Prof. António Lamas, Presidente da PSML, acerca de vários assuntos relativos a Seteais. Mantenha-se atento. Logo que possível, o Castelo e eu daremos notícias.

Abraço

João Cachado