[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 21 de março de 2009



Sinais dos tempos
na direcção da Antena Dois


Como têm acompanhado alguns dos episódios da minha denúncia ao que está a acontecer na Antena Dois e pretendendo eu que, pelo menos, de vez em quando, tenham um ou outro eco do que continuo fazendo nesse contexto, eis o que ontem se passou.


I.

Ás 12.15, remeti o seguinte texto ao Director–adjunto da Antena Dois da RTP - Rádio e Televisão de Portugal:



Senhor Almeida,

Na realidade, o senhor é uma verdadeira fonte de desassossego...

Há cerca de quarenta minutos, sintonizava eu, no meu auto-rádio o FM94.4, dei consigo a anunciar a peça Les Cris de Paris, de Clément Janequin. De repente, eis que o senhor Almeida, com a sua incontrolável verve, começa a falar em pr[é]gões. Valha-o Deus! pr[é]gões? Como plural de pr[é]gão, que, igualmente, é coisa que se não diz?

Tanto no singular como no plural, o [e] não é aberto. Há um sinal fonético, semelhante a um [i] cortado no segmento superior, que designa o correcto som que o senhor director da Antena Dois não soube emitir, aos microfones de uma rádio de referência, numa casa cujo património cultural o senhor não herdou, onde erros que tais são inadmissíveis.

Felizmente, raras vezes tenho a desdita de o encontrar. Sabendo quais são os seus horários, defendo-me de o frequentar. Infelizmente, quando topo consigo, logo se aplica o anexim: cada cavadela, minhoca...

Passe bem.

João Cachado


PS:

Muito gostaria de saber o que fez a sua Direcção da excelente sugestão do Senhor Provedor do Ouvinte, relativamente à realização dos Estados Gerais da Antena Dois...


II.

Às 14.03, eis o que responde o Sr. Almeida:

Senhor Cachado
.

Muito obrigado pelo seu espírito de sacrifício, e pelo seu talento de pregador (aqui com um “E” bem sonoro). Gosto particularmente dos seus termos gentis.

PS: julgava bem empregue o meu tempo quando lhe enviei, há semanas, aquele longo lençol... mas o que vale isso ao lado dum bom pregão (um prego gigante, e não um grito apregoado) dos seus?

João Almeida



III.

Às 17.26, resolvi partilhar o episódio com o Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho, dando conhecimento a Adelino Gomes, o Provedor do Ouvinte
:


Caro Professor,

Apenas mais um triste episódio da Antena Dois.
De imediato, seguirão as mensagens subsequentes.

As melhores saudações do

João Cachado




IV.

E, imediatamente, nova mensagem para o Senhor Almeida:




Senhor Almeida,

No caso vertente, apenas lhe restaria a assunção do erro. Repare que o apontei, tão somente, e, mais uma vez, a título de exemplo dos incontáveis do seu rol. De qualquer modo, o reconhecimento da falta pressupõe, invariavelmente, uma certa nobreza e alguma dose de humildade. Tais qualidades, contudo, não são conjugáveis com o paradigma a que tem obedecido a sua actuação quer como radialista quer como director na Antena Dois.

Por outro lado, na sua resposta, tão flagrantemente marcada por um quadro de indigência, o Senhor bem quis fazer ironia. Mas isso, Senhor Almeida, como deveria saber, não está ao alcance de pessoas com as características que se deduzem da sua pública prestação aos microfones dessa rádio. E não precisaria de fazer grande investigação para descobrir, em seus tão ilustres como recentes antecessores, João Paes ou João Pereira Bastos, modelos bem dotados das virtudes que lhe faltam...

Mas isso é outra gente, outra Cultura de base, outra Educação e em tão grandes proporções que, mesmo em conversa directa consigo, por muito que se esforçassem, jamais conseguiriam impedir que o senhor se espalhasse na prova real da sua proverbial e inconsequente verborreia. Isto mesmo já aconteceu, durante as conversas de intervalo, nas transmissões do MET. Todavia, duvido que tenha reparado...

Finalmente, permitir-me-ia aconselhá-lo a uma atitude de geral contenção enquanto se mantiver na Marechal Gomes da Costa. E não esqueça que, hoje em dia, há sofisticadíssimas formas de registo, no âmbito das quais já estão preservadas, para o futuro, as pérolas da sua prolixidade. A História vai fazendo o seu trabalho e, não raro, escreve direito por linhas tortas.

Entretanto, o Provedor do Ouvinte, vai dando mínima satisfação a tanta crítica dos ouvintes, perante tanto dislate na estação. Como terá tido ocasião de verificar, afinal, são mesmo muitos aqueles que se têm manifestado contra as polémicas opções da sua Direcção. E, nem todos anónimos, como se verificou com Mário Vieira de Carvalho que, com a autoridade que todos lhe reconhecemos, bem soube dizer como vai nu o rei.

Num país em que as pessoas pouco ou nada reclamam, ainda que em causa esteja a qualidade dos produtos que lhe entram casa dentro, por via radiofónica ou televisiva, não deixa de causar impressão o volume de tanta queixa contra a rádio clássica.

A seu crédito, o Senhor Almeida, soma e segue. Oxalá não seja muito grande o trambolhão resultante da aditiva operação. Acredite que não me dá o mínimo prazer assistir ao desastre de alguém. É coisa sempre, sempre muito triste. Até porque, quanto mais desastrosa se revelar a situação, maior o prejuízo dos destinatários da acção. Acresce a circunstância, nada despicienda, de que a Antena Dois presta um Serviço Público, sustentado pelo dinheiro dos contribuintes.

João Cachado


V.

Pouco mais de uma hora depois, o Senhor Almeida contesta:

Senhor Cachado.

Caso não se tenha apercebido, não neguei o erro. Acontece que não me coibi de, por outro lado, julgar os seus termos, tanto na mensagem original como nesta, e a meu ver muito mais graves do que o pregão mal pronunciado. Ó para ele, cheio de talento literário, com o seu brilho camiliano, sentenciando os outros como reles escribas… indigentes… pois ele é da mais elevada estirpe, já se vê. Ora que essa!! O senhor lembra-me aqueles professores académicos infrequentáveis, não pelo conhecimento que revelam mas pela soberba, pela veia castigadora. Só que isso era no tempo da outra senhora. Não pode esperar que o seu interlocutor se curve perante a sua postura. É uma questão de estilo. Ou seja, um erro meu ou de quem quer que seja, sendo figura pública ou não, não lhe permite despejar juízos de valor a eito, nem pisar ou achincalhar com recurso a linguagem trocista e, claro, totalmente descabida. Que sabe o senhor do meu trabalho em 20 anos de rádio? Que presunção é essa de aquilatar a honra a partir dum pregão mal dito? Acaso nos conhecemos pessoalmente? Deduções suas, não é verdade? Se quiser ser reconhecido como justo ou até modesto (ocorre-lhe isso?), cinja-se aos factos… modere a linguagem. E nós, humildemente, nos curvaremos, como acontece com tantos outros ouvintes quando apresentam as suas reclamações, sem juízos apressados à mistura. A humildade, para si, seria a que me faria arrojar a seus pés pedindo perdão pelo “pregão” mal acentuado, e pedindo, claro, a demissão, pois já se vê o crime que aqui está em causa. Como detalhadamente lhe expliquei, não tenho motivos para me achar menor, ou para me ajeitar perante as suas considerações. Leia a mensagem que lhe escrevi há umas semanas. São factos que vão muito para lá de pregões, de acentos, ou de outras contabilidades. Já agora, muitos há, ouvintes, que reconhecem, por outro lado, a estirpe de certos protestos. E reconhecem-nos bem à légua. Reenvio-lhe a última mensagem recebida via provedor.

PS: tenho pena… muita pena. Julgava que a mensagem que lhe enviei há semanas serviria para o senhor fazer outras contas. Lamento o seu apego ao pingalim… mas quem não sente…



João Almeida

VI.

E, de volta a cumplicidade de Mário Vieira de Carvalho:


Prezado Dr. João Cachado


Obrigado pela informação. Mas houve outros mimos no programa que ouvi de início mas desliguei logo.


As melhores saudações


Mário Vieira de Carvalho



VII.

ÀS 20,00 volto a contactar o Senhor Almeida:


Senhor Almeida,

Foi o Senhor e mais ninguém quem, hoje mesmo, respondendo à minha primeira mensagem, lembrava que me enviara um lençol em tempo oportuno. Pois, nessa ocasião, a leitura da mensagem - que, tão pressurosamente, reivindica como muleta salvadora em tão desesperado momento da sua indigente prestação radialista - como seria previsível, nada acrescentou ou contribuiu no sentido de que pudesse alterar, uma vírgula sequer, àquilo que previamente lhe havia remetido.

Lençol, lhe chamou o Senhor Almeida. Pois lençol será. Na realidade, não me sobra paciência para os lençóis tecidos com os paupérrimos materiais que o Senhor manipula. O tempo é precioso, Senhor Almeida, e eu estou a perder tempo com esta conversa que nada lhe adianta.

Manifestamente, tenho cuidado com o Português em que me expresso. Muito me honra que nele encontre qualquer, ainda que leve, reminiscência camiliana. Infelizmente, o mesmo jamais poderei dizer ou escrever acerca dos solavancos, deslizes, imprecisões inqualificáveis e inadmissíveis, repito, i-n-a-d-m-i-s-s-í-v-e-i-s erros, que o Senhor se permite articular aos microfones de uma rádio que não merece ser dirigida por si e pela equipa de que o senhor faz parte.

Deu-se ao trabalho de me transcrever uma mensagem encomiástica que um ouvinte remeteu ao Provedor. Deve ser coisa tão rara que o melhor será emoldurar. Se bem me lembro, o Provedor sublinhou a circunstância de serem em muito maior quantidade as mensagens desfavoráveis... Olhe, Senhor Almeida, em sentido contrário, vou reencaminhar, para o seu endereço, uma mensagem que recebi há poucos minutos, não de um anónimo ouvinte, mas de alguém que o senhor bem conhece.

João Cachado


VIII.

…E, ainda, novamente, ao mesmo Senhor Almeida, com conhecimento ao Provedor do Ouvinte e ao ex-Secretário de Estado, a mensagem supra acompanhada da que este me enviara:


---------- Forwarded message ----------
From: Mário Vieira de Carvalho
Date: 2009/3/20

Prezado Dr. João Cachado


Obrigado pela informação. Mas houve outros mimos no programa que ouvi de início mas desliguei logo.


As melhores saudações


Mário Vieira de Carvalho



Repeti a transcrição porque, hão-de convir, tão curta mensagem é altamente reveladora do apreço em que o Senhor Almeida, Director-adjunto da Antena Dois, é tido pelo signatário, ex-governante, respeitadíssimo musicólogo e uma das mais conhecidas e reconhecidas autoridades do mundo musical português…

IX.

Já de madrugada, responde o Director-adjunto da Antena Dois:


Tem a sua graça detectar, numa única frase de MVC, um descarado exemplo de mau português. Não sei se reparou, mas há ali "mas" a mais. Pois. Pela boca morre o peixe. Erros, certamente que os dou eu... mas, pelos vistos, a autoridade também. Só o prezado Dr. Cachado é que é infalível. E pressuroso em mostrar virtude: veja, professor, como o apanhei! Louvado seja.
Com o devido salamaleque.
E ala que se faz tarde.
João Almeida

X.

A minha resposta:

Senhor Almeida,

Tenho a impressão que terá mal interpretado uma ou outra passagem das minhas anteriores mensagens, nomeadamente, quando me terei referido a questões de indigência. Ainda que o adiantado da hora aconselhe o devido recato, talvez valha a pena esclarecer este ponto.

Verdade é que, em minha opinião, o seu discurso não é rico nem sequer escorreito. Contudo, esta é uma opinião pessoal com a qual muita gente concordará e da qual o Senhor Almeida, muito naturalmente, discordará. Ora bem, efectivamente, se nas minhas referências à aludida indigência, uma quota parte estava afecta a detalhes do verbo, outra componente, muito mais significativa, se arrimava a questões substantivas, relativas, isso sim, à sua prestação como radialista e director.

No entanto, por mais que me esforce e, pelos vistos, por mais que o Provedor do Ouvinte tanto se tenha esforçado por trazer à colação determinadas fragilidades da sua direcção, o Senhor Almeida - eventualmente escudado em argumentos de índole outra, quiçá de ordem oculta à apreciação de reles mortais como os queixosos ouvintes da Antena Dois - subtrai-se à avaliação, não se reconhece atingido. Pois em seu direito está. E não deixa de ser normal reacção, em casos que tais.

Quanto aos reparos à mensagem, tão directa e fulminante do Prof. Mário Vieira de Carvalho, de ímplicita avaliação da sua prestação de ontem, aos microfones, apenas noto evidentes marcas de coloquialidade. Parece-me, isso sim, que à falta de argumentos que contrariassem um apoucamento tão pejorativo, decorrente daquela opinião, o Senhor Almeida agarrou aquilo que estava mais à mão...

Mas, como calcula, o Prof. Mário Vieira de Carvalho não me passou procuração. Se o Senhor Almeida considerou que valia a pena colocar-me a questão, se calhar, com muito mais pertinência, a deveria apresentar ao autor da frase. De qualquer modo, não me é difícil adivinhar o resultado de tal diligência, se a isso o Senhor Almeida se dispusesse. E depois, sabe, há o problema do tempo que não sobra para estas minudências.

Finalmente, informo que esta nossa troca de impressões já está publicada no meu blogue sintradoavesso que, aliás, como sabem o Senhor Almeida e outros seus colegas da Antena Dois, tem acolhido matéria afim.

João Cachado

................................................

Tal como noutras públicas empresas, provém de públicos recursos, dos impostos dos contribuinte, o dinheiro com que se paga a directores como o Senhor Almeida. Ou eu muito me engano ou, unicamente a partir dos sintomas que tenho trazido a este blogue, haveria matéria suficiente para abrir um fórum de discussão acerca do desafortunado momento que se vive na Antena Dois. Não gostariam de participar?







4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Professor João Cachado,

Eu também sou ouvinte. Concordo consigo, concordo com muitos ouvintes e concordo com o Provedor do Ouvinte que muito se preocupa com o que está acontecendo naquele posto.
Até considero que os pecados menos significativos do Sr. Almeida devem ser os de português. O Dr. Cachado já lhe criticou outro tipo de erros que dão origem a falta de precisão e de rigor o que é muito triste na Antena 2, a nossa RDP2,a Emissora Nacional, sem saudosismos mas com respeito por tantos bons profissionais e colaboradores.
Como é que este Sr. Almeida foi parar à Antena Dois? Saíram a Gabriela Canavilhas, o Jorge Rodrigues a Ana Paula Russo, substituídos por gente sem qualquer categoria, parece que da TSF?
O Provedor, pessoa que reconheço competência, não é ouvido por quem podia mudar aquela desgraça que só acaba quando sairem o Sr. Almeida, o Sr. Guerra do programa da manhã, outro que faz o programa da tarde a respirar para o microfone, o Sr. Lagartinho que não percebo a razão de substituir a cantora Ana Paula Russo e outros e outras que vieram com este grupo.
Infelizmente, a Antena 2 é só um caso entre centenas de empresas que brincam com o nosso dinheiro. Chegámos a esta situação bem triste.
Cumprimentos

Artur Sá

Anónimo disse...

Meu Caro João,

Só a tua paciência é que atura gente como o Senhor Almeida. Homem, parece que não tens mais que fazer! Estávamos no Piodão, com a tua mulher e irmã, quando tive de te impor que não desses mais troco a essa pessoa, na altura em que te mandou o tal «lençol» de que agora fala...

Esse senhor está mais que desacreditado. Não é apenas durante os intervalos das transmissões do MET. Mesmo nas conversas ao sábado, com o Henrique Silveira e a Ana Rocha, se percebe completamente que o Sr. Almeida é uma carta fora do baralho. É o atrevimento que o faz deitar a cabeça de fora.
A pessoa está tão mal vista no meio musical que há-de cair de maduro, sem glória, como coisa a esquecer. Por favor, não dês mais troco nem a este nem a outros senhores Almeidas que para aí abundam. Desliga, faz como o Mário V. de Carvalho.

Um abraço do

José João Arroz

Anónimo disse...

Caro João Cachado,

Não acho que o seu amigo José João Arroz tenha razão. É preciso denunciar estas situações. Essa gente sem qualificações deve saltar dos lugares. Mais figuras conhecidas deviam fazer como o Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho. Como dizia Mário Soares, manifestar a indignação. Como lembra muito bem, a Antena 2 é uma rádio pública. Nós pagamos. Ao menos não ofendam.

Cumprimentos

Mª Helena Rissos

Anónimo disse...

Amigo João Cachado,

Como sabe, estes Srs Almeida, Pego, Guerra são pessoas que estavam na TSF. É escusado preocupar-se com eles porque só haverá alteração quando saírem. Não gaste o seu latim e faça o meu amigo o que já disse que aconselhava: sintonize a Rádio da Baviera. Eu também já segui o seu conselho. Vêmo-nos logo na Gulbenkian ouvindo o Werner Güra?

Cumprimentos

Rob Dimas