[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 23 de abril de 2009


Amargas amêndoas culturais*


Enquanto não se perceber que o estacionamento em Sintra é assunto a resolver de braço dado com a decisão de, simultaneamente, atacar outras decisivas questões, não se vai a parte nenhuma…Trata-se, na realidade, de um complexo e multifacetado problema, que sempre pressuporá a instalação de parques periféricos, estrategicamente situados nas entradas da sede do concelho, a partir dos quais os utentes ficarão articulados com a futura rede integrada dos transportes públicos urbanos e turísticos.

Além disso, medidas como a requalificação e aproveitamento de pequenas bolsas de estacionamento urbano, o provimento de uma ou duas unidades de expedito estacionamento vertical, o encerramento de determinadas vias ao trânsito, o regime de cargas e descargas, o parqueamento de viaturas de residentes e, por exemplo, o acesso aos cumes turísticos da Serra, com recurso aos hipomóveis e funiculares, devem ser equacionadas num quadro de abordagem sistémico, global e integrado.

Não se pode resolver, civilizadamente, o problema do estacionamento sem obedecer a esta moldura de referência. Porém, enquanto isso não acontecer, é inadmissível estimular qualquer atitude facilitadora do acesso de viaturas particulares ao centro histórico, uma vez que as características deste são incompatíveis com a inerente necessidade de defesa de um património tão singular quanto vulnerável. Trata-se, aliás, de uma regra inquestionável.

Todavia, na Regaleira, contra estes princípios e agravando a questão, a Fundação CulturSintra pretende construir, intramuros, um parque de estacionamento, para trinta viaturas. O Vereador da Cultura da CMS deu cobertura à inqualificável proposta, comunicando ao Jornal da Região que o despautério deverá nascer na zona da quinta onde existe uma espécie de galinheiros degradados. E o IGESPAR? Tal como para a destruição do tanque de Seteais, já deu parecer favorável…

Há algum tempo, sustentando-se nos habituais e estafados argumentos, comerciantes locais tiveram o despudor de pretender que, novamente, o Terreiro do Paço de Sintra se transformasse num parque de estacionamento. É coisa que não surpreende, justificada que está pela proverbial impreparação e ignorância atávica de
agentes económicos de trazer por casa.

Será aceitável que a administração da CulturSintra, fundação de recorte cultural, mais o Vereador da CMS e o referido organismo do Ministério da Cultura tivessem subscrito atitude ainda mais grave? Não é aceitável, embora possível, já que não passam de agentes culturais de trazer por casa. Maior falta de nível? Não é fácil…


*Texto publicado no JS, 10.04.09


2 comentários:

Fernando Castelo disse...

Meu estimado João Cachado,

A questão dos estacionamentos e acessibilidades em Sintra envolve pormenores tão misteriosos que merecem ser devidamente explicitados.

Um pequeno exemplo é o que se passa com os RESIDENTES na zona de estacionamento pago entre o Largo Afonso de Albuquerque (à entrada da Estefânia)e a Vila Velha. Os RESIDENTES têm o direito alargado de tal forma que mais parece estarmos perante um PASSE de RESIDENTE. Com o mesmo cartão, tanto se pode estacionar junto à Estefânia como na Vila, e, pela manhã, deixar-se o carro junto à estação, evitando a salutar caminhada a pé pela Volta do Duche. Em que mais zonas de estacionamento se passa coisa semelhante?

Depois temos os acessos até à Pena. A Câmara Municipal, no que concerne à sua aparente vocação verbal para enaltecer - sem saber bem - o desenvolvimento turístico, ainda não se terá apercebido de como os utentes dos transportes públicos são iludidos nos preços dos bilhetes. Com efeito, se utilizarem o transporte a partir da Estação da CP ou no percurso até à Pena, é-lhes IMPOSTO um bilhete de IDA e VOLTA de 4,50 euros, mesmo que só queiram utilizar um percurso. Se apenas quiserem regressar a Sintra, a partir da Pena, acaba por existir um bilhete de VOLTA, que custa 2,50 euros.
Consultado o site da empresa, o bilhete oficial de IDA e VOLTA consta como "BILHETE DIÁRIO" o que não é a mesma coisa do que é vendido. O de "VOLTA" nem consta do preçário. A CÂMARA NÃO SABE? NÃO VÊ? OU O QUE HÁ NO MEIO DISTO TUDO?

Por fim, cá para mim, ao falar-se de meios mais expeditos de acesso, usados por esse mundo fora para protecção ambiental e do património, estamos a ser incómodos para o poder instalado, que por certo terá outras razões mais nobres para servir as arcaicas estruturas existentes.

Acredite, meu caro, estou quase a compreender.

Anónimo disse...

Caro Professor, sobre a brilhante ideia do parqueamento dentro da Quinta da Regaleira só há a dizer o seguinte: o conselho de administração da dita fundação é uma anedota pegada, uns sabem de tudo e não fazem nada, assinam, outros nem vão ás reuniões e outros ainda fingem que não vêem, mas todos assinam! Já agora a titulo de novidade, na ultima 4ª feira passada, á noite o piso terreo do palacio da Regaleira foi alugado a uma empresa de eventos que organizou por lá um tamanho evento que descambou numa autentica rave com musica a "partir" até ás 4 e tal da manhã, maquina de fumos na sala da renascença reconvertida em discoteca e muita cerveja... por fim ficou o tragico cenario das beatas de cigarro no chão das salas, copos partidos vidros por todo lado cerveja entornada o cenario habitual a determinadas festas que nunca deveriam ter lugar em patrimonio classificado. È um crime!