[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Conselho pascal

Já em plena Semana Santa, começo por vos convidar para Seteais. Primeiramente, com especial agrado, hão-de acolher o positivo aspecto da recuperação do palácio e, finalmente, a tão reclamada reabertura do terreiro de que vos dei oportuna conta, com a possibilidade de acesso ao Penedo da Saudade que, não sendo o que outrora foi, melhor está do que encerrado…

O pior é o que se passa na Quinta do Vale dos Anjos, mesmo em frente. Não percam a oportunidade de subir as poucas dezenas de metros da azinhaga à esquerda, para se escandalizarem com a construção da grande residência que, como verificarão, entre outros desmandos, vai ficar a uma cota mais alta que o monumento vizinho, fruto de um duvidoso processo de licenciamento que o Tribunal Administrativo de Sintra analisa.

Depois, sempre a pé, vão seguir no sentido de Monserrate. Naturalmente, logo têm de passar pela casa de máquinas, cuja construção pressupôs a destruição do tanque que o IGESPAR autorizou, no contexto de um atentado ao património que não me canso de continuar a denunciar.

Por ali abaixo, palmilham um dos percursos onde mais gente me vê, nas minhas diárias andanças dos tais seis quilómetros à hora. Até ao mirante, junto à Capela, sobre a Quinta da Piedade, à nossa esquerda, são três quilómetros bem medidos pelo que, com o adicional do trajecto em sentido inverso, perfazem a minha medida quotidiana.

Não me vou armar aqui em guia turístico. Muito teria que contar sobre as quintas que ladeiam a velha estrada de Colares. Nesse sentido, José Alfredo fez um trabalho extremamente meritório cuja leitura e releitura muito vos beneficiará. Quem, de algum modo, também sempre me acompanha é o meu querido Agostinho da Silva. Não resisto, de vez em quando, ao registo da sua memória.

Fomos amigos, mesmo muito amigos, uma amizade que nem sequer partilho em termos públicos, de tão reservada que era. Mas posso confirmar como contei com a sua companhia, por esta estrada fora, onde, por exemplo, ouvi o seu sonho de fundar um Instituto do Oriente, na Quinta da Penha Verde, por onde vão passar, propriedade que foi do Vice-Rei da Índia, D. João de Castro.

No entanto, o que hoje fundamentalmente pretendo é chamar a vossa atenção para outros monumentos. É que, como resultado do trabalho de desbaste florestal em curso, agora é possível ver e observar, detalhadamente, inúmeras e fantásticas árvores, de porte magnífico, que estavam escondidas no perigoso e emaranhado matagal que, durante décadas, cresceu e se multiplicou perante a incapacidade de muita gente.

Confiem no meu testemunho. Conheço estas vistas, muito de perto, para poder sublinhar como, apenas a pé, tudo isto é possível. Verdade é que atravessamos a Semana Santa, período dos maiores jejuns e abstinências… Privem-se de tudo menos do acesso a esta Beleza. E, se vos sobrar tempo, entrem no Parque de Monserrate. Vão e, depois, não esqueçam: cá espero o agradecimento.


PS:


Estarei ausente durante uns dias. Para onde vou, terei música a toda a hora. Uma das peças que ouvirei, a Paixão segundo São Mateus BWV 244, de J.S. Bach, é obrigatória por estes dias. Não é preciso deslocarem-se a Leipzig para o privilégio de uma obra máxima da cultura universal. Para aqueles que não disponham ainda de alguma gravação, aconselharia, em tempo de crise, uma muito acessível.

É da etiqueta Brilliant, com os solistas, Rogers Covey-Crump, Michael George, Emma Kirkby, Michael Chance, Martyn Hill, David Thomas, coros do King’s Colledge e do Jesus Colledge de Cambridge, os músicos do Brandenburg Consort, sob a direcção de Stephen Cleobury. São três CD, com livrinho de acompanhamento de audição, num total de duas horas e três quartos da melhor música.

Boa Páscoa.


1 comentário:

V. Martins disse...

Senhor Dr. João Cachado
O senhor pode ter toda a razão mas ninguém está preocupado com o que aconteceu com o tanque em Seteais, nem com a quinta do Vale dos Anjos, mas concordo totalmente com a sua chamada de atenção para as árvores que agra se podem ver.Esta gente em Sintra é especial pois quando alguém faz bem alguma coisa em vez de aplaudir ataca. O caso da Monte da Lua é so mais um a somar a outros.
Cumprimentos
Fernando V. Martins