[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 6 de abril de 2009




O estadista…


No âmbito da Cimeira G-20 da passada semana, vieram à baila certas considerações de alguns intervenientes que, mais ou menos laterais, não deixam de fornecer pistas sobre quem as produziu.

Durão Barroso, rapaz muito perspicaz e de prolixo discurso, afirmou que uma das chaves para o sucesso da Conferência fora a humildade com que o Presidente Obama se apresentara na Europa.

Pessoalmente, fiquei perfeitamente siderado com tanta sagacidade. E não pude deixar de articular tal opinião com a do então Primeiro Ministro de Portugal que, há cinco anos – apesar de tantos e evidentes sinais da gigantesca e galopante asneira que se avizinhava – não foi capaz de discernir a sobranceria do anterior presidente americano.

Aliás, com a sua atitude de reles mordomo, ao acolher Bush e Blair nos Açores, acabou por ligar indissociavelmente o governo e a diplomacia de Portugal a uma das mais negras páginas da História recente, colaborando na farsa de quem jurava possuir provas indesmentíveis de que o ditador iraquiano dispunha de armas de destruição massiva.

Passados uns meses, Barroso seguiu o exemplo do predecessor Guterres. Pôs-se ao fresco e fugiu para outras águas mais serenas e rentáveis. Hoje em dia, não passa de mais um desses homens sem chama, figurantes da cena política internacional que apenas sabem navegar à vista.

Aqueles que somos do tempo de Charles De Gaulle, Maurice Schumann, Paul Henry Spaak, Konrad Adenauer, Harold Mac Millan, Harold Wilson, Aldo Moro, Amitore Fanfani, Olaf Palme, Willy Brandt ou John Kennedy, ilustre plêiade que terá terminado com Jacques Dellors, sabemos que, para ser estadista, não basta ocupar um lugar de Estado… É preciso muito mais.

Desaparecida esta fantástica gente que tanto nos ajudou a crescer, como homens e mulheres da geração de sessenta, não surpreende que os pequenos barrosos desta Europa envelhecida e causticada, fiquem embasbacados com a luz de Barack Obama que, finalmente, se perfila como
O estadista dos nossos dias.


2 comentários:

José João M. S. Arroz disse...

Caro João,

Felizmente tens boa memória.
Já reparaste que estás na excelente companhia do Mário Soares?
Continua a apontar os camaleões. Um abraço e votos de Santa Páscoa,

José João M. S. Arroz

Heitor J.P. Nunes disse...

Amigo Dr. Cachado,

Acerca de estadistas à portuguesa estamos conversados. São suficientes os casos que menciona: Guterres e Barroso. Quando a coisa ficou mais turva o primeiro disse que era o pântano sem reconhecer a sua contribuição... O outro fartou-se da viver de tanga dando o governo de mão beijada ao grande estadista Santana. Com a rapaziada que milita nas jotas o futuro ainda vai ser pior.
O melhor da vida continua a ser a nossa música. Se não o vir logo na Gulbenkian, votos de

Boa Páscoa.

Heitor Nunes