[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 25 de abril de 2009

Sintra, 25 de Abril de 2009

Sem mais comentários, eis a mensagem que o amigo Fernando Castelo hoje nos enviou:

Apenas este poema(*) me obrigaria a resistir. Pois resistir também é a nossa alma efervescente de indignação.

Tivesse assistido àquele indigente espectáculo do içar da bandeira nos Paços do Concelho de Sintra e não sei que palavras mais adedquadas.

Mandam as regras da má educação e de inconformidade política que nada se cumpra com rigor. Mandam os sentimentos degradados que quem vive da causa pública, despreze as regras mínimas dos cargos que ocupam.

Hoje, 25 de Abril de 2009, trinta e cinco anos depois da revolução, senti-me o mais envergonhado dos portugueses, apesar de - numa primeira impressão - ter julgado que estava a sofrer de uma terrível paramnésia.

Marcada para as 10 horas, só depois das 10h e 10 minutos devem ter dado instruções para a banda musical avançar para o local.

Ficou a convicção nos assistentes, na maior parte gente com muitos anos de vida, que o atraso se deveria justificar com a espera pelo Presidente da Câmara. Mas a cerimónia acabaria por começar cerca das 10,15 notando a relevante ausência de desse político.

Inicidado o Hino Nacional, nenhuma das figuras postadas ao longo do passeio fronteiro (estava presente o Vice-Presidente) se destacou para a saudação às bandeiras que iam subindo no mastro, cada uma a seu tempo, a cargo de agentes da polícia municipal que estavam fardados com aqueles reflectores verdes, desconhecendo se é essa a farda oficial para cerimónias.

Na verdade, talvez pela pouca prática nos andamentos do Hino, a Bandeira Nacional subiu mais depressa, seguindo-se a do município que ficou a três quartos quando acabou o Hino, apreciando-se a da União Europeia a meio do mastro, como se de algum luto se tratasse.

A cerimónia, com vários hiatos entre marchas da Banda dos Aliados, durou 8m,06s e 26/100, o que é superior ao ano passado.

Apeteceu-me gritar contra tal despudor político.

Apeteceu-me gritar para que estes políticos beijassem as pedras pisadas pelos militares, porque foram eles que lhes criaram condições para procederem como procedem.

Faltou-me a voz. A vergonha que senti foi tamanha que apenas consegui soletrar a palavra "degradante".


(*) Nevoeiro (Post precedente)

8 comentários:

Fernando Castelo disse...

Caro João Cachado,

Não eram as minha palavras merecedoras de transposição para uma crónica, bastando-me o desabafo de um comentário.

Abusarei, decerto, do seu espaço, para retomar o tema, apesar de continuar indignado.

Apreciada a colecção dos envolvidos, só por cá, na nossa Sintra, isto poderia suceder. Que equipa de assistentes...

Em plena cerimónia, uma carrinha branca entra no largo Dr. Virgílio Horta, para parar junto ao restaurante Regional.

Enquanto se tocava o Hino Nacional, como o trânsito tinha sido cortado no sentido Volta do Duche/Estação da CP, também tivemos acordes de buzinas.

Não vi que a Banda dos Aliados fosse cumprimentada e saudada por qualquer edil.

Num concelho em que - quanto a mim com notável mau gosto e falta de humanismo - se pretende utilizar as crianças como beneficiários de não sei quantos milhões de refeições escolares - nenhuma dessas crianças foi convidada para estar presente e, quem sabe, ser honrada com o acto de içar a bandeira. Nem os Escoteiros.

Como poderão querer o empenho da juventude?

Abril é pois oponível àquele acto que, em boa verdade, ficou adiado para quando se fizer justiça social e os responsáveis se empenharem devidamente na causa pública.

Um abraço e até Abril.

Anónimo disse...

Perante a amarga descrição do amigo Sr Castelo, só me resta manifestar a minha solidariedade na vergonha que sente e lamentar que aqueles que só exercem determinados cargos, devido «às portas que Abril lhes abriu»,revelem tanta falta de respeito,pela simbologia da data e pelos sentimentos patrióticos que à mesma estão associados.
Tendo estado presente no tradicional almoço do 25 de Abril, na Urca, na Abrunheira, assinalo com alguma tristeza, a redução da participação de pessoas, relativamente ao ano anterior, a ausência notada de outras,por falta de convite e o facto de ninguém, de tantas ilustres figuras ali presentes, mais uma vez, não ter saudado ou referido o motivo pelo qual todos ali estávamos.Assim se «comemora» Abril,pelo nosso Concelho,só porque faz parte do calendário mas sem se atribuir qualquer dignidade à data;ainda por cima,que chatice,nem sequer deu para fazer feriado...
Entristece qualquer português que saiba bem o que significava o 24 Abril de 74,entristece que esta «espécie»de políticos de trazer por casa, que à boca cheia, se fartam de falar sobre o desinteresse dos jovens pela política e pela participação cívica, nem saibam dar o exemplo, comportando-se com decência,perante os símbolos nacionais.Será que ninguém na Câmara tem acesso ao livro do Protocolo do Estado, para saber o que fazer durante o içar de uma bandeira e o Hino Nacional?Que vergonha!...
Margarida Paulos

Sintra do avesso disse...

Fernando Castelo,
Margarida Paulos,

Caros Amigos,

Embora todos os sintomas nos induzam à conclusão em sentido inverso, a verdade é que, para tudo, há um limite.

A decência, pois claro, também tem limites. O relato que o Fernando Castelo nos trouxe sobre o cerimonial das comemorações oficiais do Vinte e Cinco de Abril em Sintra, reporta-se a um quadro do maior despudor, em que o agente da indecência vai de braço dado com a implícita estratégia de brincar com os símbolos nacionais que, em qualquer latitude, são merecedores do maior respeito.

Mas, não nos esqueçamos, «isto» não é caso isolado. Este aviltamento tem justificações a montante, na própria maneira displicente, irresponsável, como os cidadãos observam o exercício de todos os poderes, executivo, judicial e legislativo, ou seja, Governo, Tribunais (Justiça) e Parlamento, cujos actores, em geral, pouco ou nada dignificam o modo como servem a "res publica". Chega-se a este ponto devido a um estado de geral abandalhamento que coincide com a tal cultura de desleixo que não me canso de denunciar.

Nestes termos, minha cara Dra. Margarida, não há formal protocolo de estado que nos salve. Aliás, o protocolo é desprezado, gozado como coisa careta, como coisa do tempo da outra senhora.

Pois é. Estamos mal e vamos mal. Os sintomas estão por todo o lado. Um rei fraco faz fraca a forte gente... Ou seja, um poder fraco é a matriz de todas as fragilidades, de todas as más práticas, de todos os desrespeitos. Só não vê quem não quer, como o pior cego.

Tentemos prosseguir com a lucidez com que Deus Nosso Senhor, na Sua infinita misericórdia [deixai que brinque um pouco com coisas sérias], considerou nos devia dotar. A lucidez é óptima, mas, também estupenda maldição. "Merda, sou lúcido!", escreveu o poeta. E tinha toda a razão.

Abraços amigos do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

AT:

Protocolo do Estado, com maiúsculas. Desculpai a falta de respeito...


JC

Sintra do avesso disse...

AT:

Protocolo do Estado, com maiúsculas. Desculpai a falta de respeito...


JC

Anónimo disse...

Desculpem lá, meus amigos mas afinal, a imagem que o Jornal de Sintra, na sua edição de hoje nos dá,sobre esta notícia,é muito mais simpática.Viram por lá os jornalistas ou eles só escreveram o que lhes «encomendaram»?é que parece que o jornal está a relatar outra cerimónia, diferente daquela a que o senhor Castelo assistiu.
Margarida

Sintra do avesso disse...

Cara Dra. Margarida,

Tem toda a razão. Alguma coisa se deve passar para que, acerca da mesma «cena», dois observadores possam não ter coincidido tão distintamente.

Aquilo que Fernando Castelo relatou é absolutamente inequívoco. E aquilo que AF relatou é demasiado inócuo para que não fiquemos intrigados quanto à razão que o terá levado a não acolher, sequer «de raspão», aquilo que, tão evidentemente, escandalizou o nosso referido amigo.

Não consigo perceber como os relatos não coincidem. Por isso se impõe que o Jornal de Sintra dê explicações.

Para já, é o que se me oferece escrever. Como assíduo colaborador do semanário, reservo a tomada de posição consentânea com as explicações que obtiver.

Fez muito bem apontar este facto tão evidente. Trata-se de um caso cujos contornos definem uma situação bastante mais grave do que, à primeira vista, possa parecer.

Em função dos indícios que a circunstância suscita, pois muito naturalmente, e, de imediato, vou enviar ao Jornal de Sintra cópia do seu comentário e da minha resposta.

Fico-lhe muito grato.

Melhores saudações do

João Cachado

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

Há factos que nunca podem ficar pelas meias tintas. O 25 de Abril é um deles.

Como sabe, e muita gente também, procuro sempre o maior rigor no que - publicamente - escrevo. Até peso as palavras uma a uma.

Com imensos artigos de Opinião, nunca passei por dúvidas no que se relacione com a matéria envolvida e os factos.

Não sendo jornalista, penso sempre O Quê? Quem? Como? Quando? Onde? e Porquê?. Isso chega-me.

Neste caso da cerimónia ocorrido nos Paços do Concelho, tive o privilégio de ver e sentir exctamente o mesmo que qualquer jornalista que estivesse presente. E o que vi, foi exactamente - de forma reduzida - aquilo que aqui relatei.

Sem querer qualquer querela, afigura-se-me que o Jornal de Sintra ter remetido a notícia para a página 11 da Edição já reflecte qualquer coisa. A foto apresentada é melhor que mil palavras e, se atentarmos a ela, as bandeiras já estão todas no devido lugar mas o maestro está de costas para a Banda. A carrinha branca é visível lá ao fundo. Os representantes partidários e outras figuras são as que se vêem. Pode ainda ler-se no JS: "Já com as bandeiras tremulando no cimo dos mastros, a bandeira executou depois uma peça musical (...)". Chega-me perfeitamente, pois quando o Hino terminou, apenas a Nacional estava no cimo.

Importante, sim, terá sido o Hotel de Seteais, ganhando uma 5ª página completa, com a foto de família adequada. Lá estavam a brilhar alguns daqueles que não tomaram posições adequadas para que o terreiro não fosse vedado às populações, uma ofensa que nunca tinha ocorrido em Sintra.

A este propósito, até uma dúvida se me levantou: a entidade que tutela o Hotel de Seteais (a Parques de Sintra-Monte da Lua) não esteve presente? E a autora do artigo não foi apurar o facto, para enriquecimento da peça?

Nota: Outro Jornal da região, nem fala sobre a cerimónia. Entende-se.

Um abraço

FCastelo