Hoje, aniversário da Condessa d’Edla, o meu escrito para o blogue apresenta-se sob a forma de carta aberta. Lendo-a, perceberão logo porque é seu destinatário o Professor Engº António Ressano Garcia Lamas, Presidente do Conselho de Administração da empresa de capitais públicos Parques de Sintra, Monte da Lua.
Caro Prof. António Lamas,
Como sabe, passa hoje mais um aniversário da Condessa d’Edla. No dia em que todos nos lembramos da sua presença em Sintra e, muito especialmente, no Parque da Pena, faço de si o intermediário das palavras de tributo que dirijo à mulher com quem D. Fernando se consorciou em núpcias morganáticas.
Ao longo de anos, no sentido de fazer justiça à herança de todo um património que, amorosamente, o casal concebeu, construiu e legou aos vindouros, a verdade é que, muita gente, se tem empenhado, na luta pela sua defesa porquanto, já há décadas, o Estado negligenciou a sua missão de fiel depositário de bens que se degradaram a um ponto inusitado.
Depois de muito trabalho cívico de denúncia quanto ao que estava a acontecer no Parque da Pena, a Administração da Parques de Sintra Monte da Lua, a cujo Conselho o meu amigo preside, finalmente, tem vindo a evidenciar como, certeira e eficiente, foi a série de decisões tomadas com o objectivo de reparar os males que, inapelavelmente, o local vinha acumulando.
Sem entrar em pormenores, descabidos no contexto destas singelas considerações, é em tal enquadramento que também se está a processar o cuidadoso trabalho de recuperação do Chalet da Condessa onde, permita-me uma particular lembrança, tantas aulas e sessões de formação de professores monitorei, durante anos, antes do incêndio.
Tem cabido a si, Prof. Lamas, o protagonismo da melhor homenagem que Sintra está a prestar à memória da Condessa d’Edla. Elise, como sempre a recordo, há-de estar, cada vez mais, em seu sossego. E o senhor bem tem feito por isso. Sei-o, em discurso directo, nas conversas que, de vez em quando, temos mantido. Sei das suas preocupações em relação ao futuro daquele espaço, uma vez concluída a sua recuperação.
Já não é a primeira nem segunda ocasião em que falamos de música, da música que, eventualmente, ali poderá acontecer, em recitais, concertos de câmara, no âmbito da mais que previsível animação cultural do local. Até já chegámos a falar acerca da música que Fernando e Elise ouviriam, e que bom seria recuperar para partilha com todos os interessados.
No ano passado, neste mesmo blogue e nesta mesma data aniversária, escrevia eu:
“(…) Não vos deixaria sem que aconselhasse a música mais apropriada à celebração do aniversário. Tenho a certeza de que, na sua devoção por Richard Wagner (que também nasceu num dia 22 de Maio…), Elise e Fernando terão ouvido e, provavelmente, cantado ela, as 'Wesendonck Lieder', de 1857. O próprio compositor chegou a afirmar, bastante mais tarde, que não tinha feito nada de melhor… Muita da música que poderão escutar nestas canções, está plasmada na ópera 'Tristan und Isolde'. Depois de começarem a ouvir 'Im Treibhaus' (“Na Estufa”), tão presente no Acto III daquele drama lírico, logo dirão que estamos na atmosfera da Pena…Pois é. Os que ainda não conhecem, passam a dever-me a epifania deste sublime momento de Beleza…”
E, Caro Prof. Lamas, quanto ao alvitre, nada me convém alterar nesta carta que lhe dirijo. Agora, concluindo, em dia também marcado pela partida do nosso comum amigo João Bénard, melómano inveterado, atrever-me-ia a sugerir-lhe a melhor gravação que conheço e, graças a Deus, também disponho, com Kirsten Flagstad, Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Malcom Sargent.
E, com este conselho, absolutamente imperdível, me subscrevo, com os parabéns devidos e as melhores saudações,
João Cachado
PS:
Por favor, logo que possível - e tão bom seria que ainda se concretizasse em 2009, quando passam 80 anos sobre a data da morte da senhora - não deixe de dispensar à questão da exposição sobre a Condessa d'Edla, o interesse que o assunto merece. A verdade é que grande parte da tarefa está concluída.
2 comentários:
Tem sido muito interessante seguir este espaço.
Parabéns.
Caro João Cachado,
Se não fosse a Condessa d'Edla não sabiadesta gravação das Wesendonck que o senhor aconselhou. Ontem fui à procura mas didderam-me que só encomendando. Eu encomendei mas enquanto não vem ouço a que tenho com a Gwineth Jones.Obrigado pelo seu conselho
Pedro Arrais
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