[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Independência

A propósito de independência, gostaria de confirmar que, nem em Sintra nem noutro lugar, tenho estaminé de porta aberta para qualquer tipo de comércio ou traficância. Livre de compromissos com os poderes locais, posso piar o que me apetece, sempre que me apraz e como mais me convém.

Isto, que já não é pouca coisa, acrescentado à liberdade da independência partidária, é algo que, cada vez mais, estimo e recomendo. Com os partidos políticos transformados em agências de emprego, que compensam a fidelidade dos militantes através de cargos relativamente bem pagos, poder dizer que não tenho nem jamais tive cartãozinho, constitui a melhor condecoração a que poderia aspirar.

Vem tudo isto a propósito de pretender louvar a coragem de três militantes do Partido Socialista, meus amigos e conhecidos, Margarida Paulos, Graça Pedroso e Cortês Fernandes, que decidiram apresentar-se, nas próximas eleições autárquicas, respectivamente, como candidatos às Juntas de Freguesia de São Pedro Penaferrim, Colares e Rio de Mouro.

São excelentes pessoas, cidadãos de primeiríssima água, capazes do melhor que sabem e puderem fazer pelas freguesias em questão. Desejo-lhes o melhor sucesso, por eles próprios e, em especial, pelos fregueses que pretendem representar.

Contudo, não se admirem se, no contexto desta independência que apregoo, daqui a uns dias, me passar pela cabeça saudar, em idênticos termos, as candidaturas de amigos e conhecidos, militantes de qualquer dos outros partidos do espectro partidário, igualmente excelentes pessoas, que decidirem candidatar-se aos mesmos cargos…

Para todos os efeitos, na minha modesta opinião, não se coloca a questão da coerência, já que, constituindo esta um princípio conjugável com o da independência, não são coincidentes.


5 comentários:

Anónimo disse...

Dr. João Cachado,

Sou leitora habitual deste seu blogue e nunca participei porque aborda muitas questões, directa ou indirectamente associadas a Política o que não é de todo assunto que me agrade.

Ironicamente, logo a minha primeira intervenção está associada a tal.

Em primeiro lugar, acho que estas eleições autárquicas são umas eleições da “lata”. Numa altura em que começam a vir a público nomes de pessoas dos diversos partidos como candidatos a funções, quer nas Juntas de Freguesia, quer na Câmara Municipal, é gritante a tal “lata” que algumas pessoas ainda têm para se apresentar a sufrágio considerando as acções que tiveram num passado recente em funções públicas. É pois uma questão até de “vergonha na cara” mas enfim…

Depois pretendo fazer-lhe uma crítica tendo como base este seu artigo. Não considero que haja uma total coerência e independência nos seus artigos. É óbvio que o espaço é seu, escreve o que entende e só o visita quem quer. E digo isto porquê? É conhecido que a ideologia base do Dr é de “esquerda”, e muito bem formada e estruturada confesso. Já o vimos defender ou apoiar diversas pessoas da nossa praça pertencentes aos partidos de esquerda. No entanto já o vimos também criticar de forma fundada outras personalidades “não de esquerda” enquanto que não usou a tal fundamentação na análise às acções dos que defendeu. Não considero por isso coerente que nuns casos se apoie ou defenda somente por serem apenas “…excelentes pessoas…” e noutros se critique somente pelas acções tomadas.

Também a questão da independência sai fragilizada porque os juízos que o Dr faz têm como suporte a amizade e moralmente compreendo o quanto é difícil criticar em público um amigo. Concordará comigo que se publicasse uma opinião sobre os seus amigos ou pessoas mais próximas baseadas nas percurso das funções públicas, o resultado poderia ser diferente.

Não quero que tome por mal este meu comentário, apenas o faço porque o considero de muito interesse e muito forte na actualidade da nossa terra, em termos de opinião construtiva e intervenção cívica.

Com os melhores cumprimentos,

Ana Paula Sousa.

Anónimo disse...

Dr João Cachado,

O último parágrafo do meu comentário antes da saudação não está muito correcto, por isso envio agora o adequado:

"Não quero que tome por mal este meu comentário, apenas o faço porque considero o seu blogue de muito interesse e muito forte na actualidade da nossa terra, em termos de opinião construtiva e intervenção cívica."

Obrigado

Ana Paula

Sintra do avesso disse...

Ana Paula Sousa,

Muito obrigado pelas suas palavras. Por todas as suas palavras, sublinho. Chamou a atenção, e muito bem, para aquilo que designou como fragilidades do meu discurso. E tem toda a razão. Existem, efectivamente.

Gostaria, tão somente, que enquadrasse tais «fragilidades», no devido contexto, que melhor definirei nos seus contornos. Na realidade, e, muito concretamente, fui eu que me propus saudar amigos e conhecidos que resolveram candidatar-se a cargos políticos. Cá está, «fragilizando» o meu discurso, a questão da amizade e/ou do conhecimento.

Sabe, Ana Paula, se há coisas que, constantemente, «fragilizam» o meu verbo, são as considerações conotadas com o campo das emoções. Assumo e, mais, orgulho-me disso. Não sou um tipo nada frio, distante, racional. Para saudar alguém, como o fiz, ou «sinto» qualquer coisa por essa(s) pessoa(s) - uma afinidade de certa ordem, simpatia (mesmo no sentido etimológico do termo), admiração, orgulho pela relação eventualmente estabelecida, etc. - ou, então, não seria sincero e, por isso, não seria capaz.

Repare, no entanto, que eu escrevi "afinidade". Basta que tal exista para que eu dê o passo em direcção à pessoa. É nesses termos, aliás, que deverá entender as palavras com que me referi a Domingos Quintas, alguém que apenas conheço superficialmente, mas cujas atitudes, acções e actividades políticas me merecem o maior respeito.

Porém, por certo, não se surpreenderá se lhe confirmar que, no que me diz respeito, o caso mais paradigmático é o do Presidente da Câmara. Não o conhecia antes de assumir o cargo. Creio poder dizer que as suas imensas qualidades me conquistaram. É um homem informado, elegante, educado, com carisma, a quem não é difícil conceder o maior crédito. Lembro alguns momentos da sua actuação política que me cativaram enormemente, como foi a questão da Sintralândia à qual soube pôr um ponto final definitivo, ou a do Vale da Raposa que tem sabido manter fora da avidez dos promotores comerciais e imobiliários, ou o modo discreto como foi gerindo o problema da defesa de certas zonas da serra, dotando-as de adequada armazenagem de água em caso de SOS, bem como outras que seria fastidioso enumerar.
Por outro lado, infelizmente, muitas têm sido as situações - como, por exemplo, a do estacionamento na sede do concelho - em que, em vez de resolver, não actuou capazmente, noutras, pura e simplesmente, não actuou, noutras ainda, mais complicou.

Pois, Ana Paula, se, como afirma, tem seguido os meus textos neste blogue, e, presumo, também no Jornal de Sintra, sabe, perfeitamente, os amargos de boca que tenho tido, tanto por apoiar como, em sentido contrário, por ter criticado o Prof. Fernando Seara, a tal pessoa que, posicionado ao centro-direita, soube insinuar-se e suscitar o apoio deste homem de esquerda que subscreve as palavras que está lendo.

Como calcula - e vai perdoar o emprego da expressão - estou-me nas tintas para o enquadramento partidário do Prof. Fernando Seara. Aliás, quanto aos eleitos, primordialmente, o que me interessa é aquilo que eles são e demonstram como pessoas, a sua noção de serviço à coisa pública, a dedicação às causas mais pertinentes dos eleitores. Muito naturalmente, antes de eleitos, mais gostaria que os lugares fossem ocupados por homens e mulheres de - inequívoca - esquerda e, pois claro, é nas suas listas que voto. Uma vez eleitos, nada me interessa que sejam comunistas, centristas, bloquistas ou outra coisa qualquer.

Certo, certo, «o meu programa político» passa por não me limitar à participação nas eleições periódicas, pelo controlo sistemático do meu voto, numa actividade cívica permanente, no envolvimento nas lutas e na exigência aos eleitos do máximo respeito pelos programas através dos quais se fizeram sufragar. Repudio qualquer atitude «clubística» na defesa e no ataque das lutas partidárias e privilegio o combate cerrado à enraizada cultura do desleixo que, na minha modesta opinião, enquina sobremaneira a maioria dos factores determinantes da qualidade de vida local e nacional.

E, nestes termos, estou ao lado de todos os bem intencionados que, independentemente da cor partidária, se enquadram nestes princípios. O problema é que, na polis, há imensa gente a afirmar esta tabela de propósitos mas, na prática do quotidiano, é o que se vê.

Terei, Ana Paula, esclarecido e/ou acrescentado algo ao que me escapou, para o cabal entendimento do escrito que hoje apresentei?
Renovando o meu sincero agradecimento inicial, aceite

As melhores saudações do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

AT:

MENSAGEM DA DRA. MARGARIDA PAULOS

Com autorização da Dra. Margarida Paulos, permito-me tornar pública uma mensagem que, em princípio, era apenas pessoal. No entanto, por conter matéria que torna presentes, com a maior veemência, um conjunto de irrepreensíveis princípios que subscrevo totalmente, aí vai a transcrição do mail que acabei de receber:



"Querido amigo João

Alertada por um mail do nosso amigo Fernando (pois que só cheguei a casa agora e não tinha ainda visitado,como é habitual,diariamente, o seu blogue), fui agora surpreendida por uma manifestação de solidariedade e carinho, da qual sobra uma profunda e sincera emoção e o receio de não ser merecedora de tal.Por isso, meu amigo, venho agradecer-lhe, via mail, dado que a coragem para o fazer directamente no blogue, subitamente, me faltou.Mais ainda, porque esta nossa «amizade virtual» e a admiração que me inspira, me levou a exprimir mais «em privado»,o meu reconhecido agradecimento.
Reportando-me agora ao seu post, caro amigo e à tal independência de que ali fala, quero dizer-lhe que apesar da minha militância partidária, nunca senti,por via disso, nem como autarca de Freguesia, nem como funcionária da Câmara Municipal de Sintra, onde durante três anos fui Técnica Superior, na Divisão de Educação, qualquer limitação ou pressão ao meu desempenho.Talvez seja essa uma das razões que continua a mover-me, a de pertencer a um partido onde o pluralismo, a honestidade intelectual e a cidadania, ainda podem ser exercidos em liberdade (eu, pelo menos, sinto-o deste modo).Assim encaro este desafio, como mais um exercício de cidadania e como um dever para com os concidadãos da minha Freguesia, porque, consciente da enorme evolução que S.Pedro vinha sofrendo, não posso agora conformar-me com o marasmo a que a Freguesia foi votada e com o aniquilar de tantos Projectos de importância simbólica e efectiva, que se têm verificado:dois exemplos, para mim absolutamente chocantes , não só por ter sido a respectiva autora mas também pelo que representavam para os jovens e famílias, foram a extinção da Banda Infantil e Juvenil e do Serviço de Psicologia, (um Projecto de Intervenção precoce em meio escolar),para além do encerramento das delegações da Junta, em Vale Flores e Linhó, por razões pseudo-economicistas que, no entanto, não se reflectiram numa melhor gestão dos dinheiros públicos mas sim na assumpção de outros «Projectos», que oneraram as finanças da autarquia e não se projectaram na melhoria efectiva, da qualidade de vida dos cidadãos.Estas são algumas das razões que me levam ao tal acto de coragem de que o meu amigo fala, nada mais do que isso, a consciência do dever e da «causa pública» e a obrigação de dar resposta a tantos problemas e às expectativas de tantos cidadãos que ainda acreditam em mim e sabem que sempre puderam contar com o meu trabalho e dedicação;só neste ponto, não posso ser modesta, amigo, senão seria, verdadeiramente hipócrita,sei que quando me lanço num Projecto, a ele me dedico inteiramente, de alma e coração, e as pessoas que me conheceram na Junta, durante 8 anos,individualmente, nas escolas e nas associações, sabem com quem contam.
Meu amigo, não quero maçá-lo com este discurso que já quase se assemelha a um manifesto eleitoral, não sendo esse o seu objectivo.
Quero apenas dizer-lhe de como fiquei sensibilizada com as suas palavras, com o facto de fazer parte dos primeiros candidatos às freguesias que seleccionou e com este, inusitado, estímulo.
Com profunda humildade e com igual admiração, farei os possíveis por não decepcionar, nem defraudar as expectativas aqui espelhadas
Creia-me sinceramente grata

Um abraço sentido

Margarida Paulos"

............................

Quanto mais não fosse, a possibilidade de receber uma mensagem deste teor, já encheria de orgulho o autor de um blogue com as características deste que, sem qualquer imagem, é enriquecido por maravilhas que tais. Bem haja, Margarida. Os votos do maior sucesso, com um abraço do

João Cachado

Anónimo disse...

Dr João Cachado,

Muito obrigada pela sua resposta e foi enorme a sua capacidade em atribuir ao meu escrito o seu total sentido e enquadramento. Não é para todos creio, examinar à lupa uma critica.

Em resposta à sua pergunta no final do texto, fiquei esclarecida faltando talvez uma análise mais concreta ao perfil 3 das pessoas que apoia a exemplo do que fez com o Prof. Fernando Seara. A descrição que faz do Presidente coincide na totalidade com a que a imagem que tenho, embora não o conheça como o Dr.: uma pessoa que, não obstante algumas figuras escusadas que faz em programas televisivos, é uma pessoa culta e séria. Pena é que ao nivel da nossa Sintra pouco ou nada de capaz fez. Daí os seus amargos de boca (e de todos também, creio).

Ora, vindo apoiar pessoas a cargos públicos, seria útil até para os leitores/eleitores que o Dr. lhes fizesse a mesma análise primeiro porque os conhece ou é próximo e depois porque lhes conhecerá também o passado em funções públicas, saindo assim fortalecida a tal análise e evitando a si possíveis "amargos de boca" no futuro.

Seria também uma forma de atenuar tal dependência moral. Mas Dr, não se preocupe com as "fragilidades" do discurso quando associadas às emoções. São próprias das pessoas cultas, honestas e bem-formadas (quantos exemplos temos na nossa História assim??).

Mais uma vez muito obrigada.

Ana Paula