[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Eléctrico em curto circuito*

Há poucos dias, tentando ajudar um casal de alemães que pretendia ir de eléctrico até Colares – algo que lhes tinham dito ser possível – dirigi-me à Casa do Eléctrico. Infelizmente, conforme estava prevendo, ninguém soube esclarecer quanto à razão de apenas se chegar à Ribeira e, muito menos, quando seria reposta a normalidade.

De facto, não se entende como, actualmente, a Câmara Municipal de Sintra – que, desde 2002, assumiu a exploração da linha – apenas seja capaz de fazer circular o eléctrico, em curto circuito, entre Nunes Carvalho e a Ribeira. Impondo-se chamar as coisas pelos nomes, não há que hesitar.
Trata-se de um escândalo. É uma vergonha para Sintra.

Habituado que estou, nuns casos, a que ignorem as minhas palavras, e, noutros, a ser molestado por gente incapaz, nada me incomoda que, eventualmente, o responsável pelo despautério apareça por aí, com as esfarrapadas desculpas do costume, tentando iludir aquilo que não tem justificação possível. Por mais voltas que se dê, aí está mais um episódio de manifesta, desgraçada e pura cultura do desleixo.

E a verdade é apenas uma, ou seja, apesar da inequívoca facilidade dos meios a envolver para resolução da situação, nem uma dúzia de quilómetros de carris a Câmara de Sintra consegue garantir. A isto chegámos. O mais pitoresco e interessante meio de transporte de Sintra não circula – ou circula mas pouco!... – depois dos avultados investimentos dos munícipes, incluindo a compra e recuperação da Vila Alda.

Lembram-se de umas bocas acerca do prolongamento da linha do eléctrico, primeiramente, até à estação da CP e, depois, até à Vila Velha? Pois eu lembro-me muito bem. Foi mesmo uma promessa de alto nível. E, para que total fosse o engodo, até me mostraram fotografias virtuais do eléctrico atravessando a Heliodoro Salgado.

Em véspera de eleições locais, acautelem-se com a possibilidade do embarque numa destas manigâncias. É que, quando lhes dá para se candidatarem, há por aí uns turistas habilíssimos em cantos de sereia…

*Jornal de Sintra, 19.06.09

5 comentários:

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

O meu amigo aborda desta vez um conjunto de sentimentos, pois o Eléctrico é um deles.

Quase ao colo do meu pai, como me deliciava ao apanhá-lo junto à estação dos "caminhos de ferro". Ainda há pouco tempo, em obras na Avenida Miguel Bombarda, lá estava o carril a desafiar-me às recordações.

Quando a recuperação das Linhas começou, para alegria de quantos por lá passassem, até sugeri algumas placas ao longo do trajecto, que poderiam ter alguma poesia. Sugeri isso e, para meu conforto, encarreguei-me de fazer uns pequenos poemas (maus, certamente) que devem ter ido ou directamente para uma gaveta ou para o lixo, pois a recepção nunca foi acusada,nem o destino dos mesmos.

Estive na re-inauguração do Eléctrico, naquele dia em que de novo pude ir até à Praia das Maçãs.

Imaginarão, quantos me lerem, dos sentimentos em turbilhão que me invadiram e me levaram a voltar mais umas quantas vezes.

Era o Eléctrico um dos pontos do figurino turístico de Sintra. Que alegre ilusão me foi criada, mas que rapidamente se desvaneceu, nesta Sintra que cada vez se sabe menos para onde caminha, mas que de lado bom tem pouco.

Em qualquer parte do mundo este trajecto e este meio de transporte seria das coisas mais fabulosas da visita. Falo do que sei.

Aqui, já o meu amigo disse quase tudo. O ano passado, numa entrevista, ia durar só mais dois meses a recuperação, segundo foi dito por um autarca merecedor do maior crédito e que teve a coragem de dar a cara, na circunstância.

Falar em turismo para Sintra acaba por ser, infelizmente, uma quase aberração, já que este exemplo não é muito diferente de muitos outros.

A vida tem destas coisas e desculpe-me o espaço do desabafo.

Artur Sá disse...

Amigo João Cachado,

Não se trata só de vergonha e escândalo. Eu também acho que é uma verdadeira ofensa que a Câmara de Sintra faz aos munícipes. Vai-se a Mafra, à Ericeira, a Cascais e a Oeiras por exemplo e tudo vai melhorando ao passo que em Sintra tudo piora.
O eléctrico de Sintra devia merecer uma cautela especial da Câmara. Podia ser uma alegria por essa estrada de Colares. É um desgosto tanta falta de competência.
Abraço

Artur Sá

Diogo Palha disse...

Mes estimado Dr. João Cachado,
Não deixa de ser curioso (ou por coincidência) que o percurso do eléctrico esteja agora a ser parcialmente feito por uma rodoviária que descobriu esse caminho para o Cabo da Roca quando podia seguir por Monserrate e servir essa parte tão rica da nossa história colectiva.
O tal circuito feito em autocarro descapotável até já é conhecido pelo "que nem um lá vai" e receio que as coisas não sejam tão por acaso.
Já me tinha afastado destas lides mas mexem tanto connosco que não resisto.
Um forte abraço com amizade,
Diogo Palha

Pedro Sequeira disse...

O que falta em Sintra é autoridade. A Câmara Municipal de Sintra nem sequer consegue que os serviços camarários cumpram os seus deveres. O caso do eléctrico espelha bem a situação de falta de capacidade. E os próprios PPD e CDS que sustentam o executivo não conseguem que os seus homens e mulheres imponham a autoridade que o voto lhes deu. Está tudo às avessas.


Pedro Sequeira

Anónimo disse...

Para quê gastar massa cinzenta a resolver os problemas do Eléctrico de Sintra? Agora andam todos a tratar de conseguir um lugar nas listas autárquicas.

Os problemas de Sintra podem esperar o caciquismo não, tem de actuar agora, já!

Até já consta por aí que os homens do betão cá do burgo vão voltar a ter uma testa de ferro na Câmara, na pessoa da Srª Paula Neves, filha de empreiteiro, mulher de empreiteiro e nora de empreiteiro, isto é que vai ser uma empreitada.

Agora que parecia que o Professor Seara tinha contido a construção no concelho vai meter na vereação a engenheira testa de ferro de muitos técnicos do DUR e dos patos bravos saloios.