[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 9 de junho de 2009

Festival de Sintra 2009,
o palmarés

Comecei a frequentar o Festival de Sintra quando ele se iniciou, em 1957, ainda sob a forma de Jornadas Musicais. Lembro-me perfeitamente, não só de ter assistido ao primeiro evento, Ballet em Seteais com o grupo de Margarida d'Abreu, mas também, passados poucos dias, de ter vindo ao então Carlos Manuel para um concerto da Orquestra da Emissora Nacional dirigido por Pedro de Freitas Branco.

Na realidade, tive o enorme privilégio de meu pai, para além de pertencer a uma família de gente com belíssima preparação musical - ele e uma das minhas tias tinham feito o curso superior de violino e ainda outra sua irmã o de piano e harpa, o avô tocava excelentemente piano e a avó cantava - ser um frequentador de festivais cá e no estrangeiro que, desde muito cedo, me iniciou nesta vida.

Sintra, ia eu nos meus nove anos de calção, foi o meu primeiro festival e rampa de lançamento para, jovem adulto, ir à descoberta do que se passava em Salzburg, Luzern, Verona, Bayreuth, etc, onde me tenho perdido, encontrado e reencontrado com tudo o que conheço de melhor, ao nível da Beleza, da Música e da grande Arte em geral.

Claro que, a uma tal distância no tempo, embora tivesse algumas ressonâncias, não me recordava de pormenores dos programas mas, recentemente, no âmbito de um trabalho que me ocupou durante umas semanas, tive oportunidade de confirmar como, desde o início, houve a enormr preocupação de trazer a Sintra os melhores intérpretes, primeiramente a nível nacional e, pouco depois, nomeadamente devido à interferência da Senhora Marquesa de Cadaval, os melhores do Mundo.

Para que os mais interessados tenham uma ainda que pálida ideia acerca do fabuloso palmarés do Festival de Sintra, eis uma abreviada lista de intérpretes que, portanto, de modo algum, se poderá considerar exaustiva:

Piano

Aldo Ciccolini, Alexander Uninsky, Andre Tchaikovsky, Andrea Luchesini, Anna Tomasik, António Rosado, António Vitorino de Almeida, Artur Pizarro, Bruno Leonardo Gelber, Christopher Ross, Cristina Ortiz, Elena Bashkirowa, François René Duchable, Georges Pludermacher, Gleb Aksselrod, Gyorgy Cziffra, Grygory Sokolov, Helena de Sá e Costa, Helène Grimaud, Imogen Cooper, Jean-Yves Thibaudet, Julius Katchen, Katia Labèque, Leif Ove Andsness, Maria Antoinette Levèque de Freitas Branco, Maria João Pires, Marielle Labèque, Mário Laginha, Martha Argerich,Michael Beroff, Mikhail Rudy, Nella Maissa, Nelson Freire, Nikita Magaloff, Nicolai Lugansky, Olga Pratts, Paul Badura-Skoda, Pedro Burmester, Peter Donohe, Rafael Orozco, Robert Szidon, Sequeira Costa, Sérgio Varella Cid, Stephen Kovacevitch, Stanislav Bunin, Tania Ashot, Vladimir Krainev, Wilhelm von Grunellius, Yuri Egorov, Yuri Boukoff.

Violino


Alberto Lysy, Antonino David, Augustin Dumay, Christian Ferras, Eivind Aadland, Gerardo Ribeiro, Henri Mouton, Ygor Oistrakh, Yuri Gitlis, Jean-René Gravoin, Leonor de Sousa Prado, Max Rabinovitsj, Maxim Vengerov, Michel Chauveton, Régis Pasquier, Robert Gendré, Salvatore Accardo, Sandor Végh, Stoika Milanova, Thomas Zehetmair, Vadim Gluzman, Vasco Barbosa, Vasco Broco.

Maestros


Álvaro Cassuto, András Kórodin, Arild Remmereit, Camargo Guarnieri, Claudio Scimone, Daniel Stirn, David Zinman, Eduardo Fischer, Fernando Eldoro, Filipe de Sousa, Frederico de Freitas, Gerard Oskamp, Gianfranco Rivoli, Helmut Froschauer, Ivo Cruz, Jaime Silva, Joly Braga Santos, Jorge Matta, Lawrence Foster, Mario Benzecry, Michael Zilm, Michel Corboz, Paul Daniels, Paul Polivnick, Pedro de Freitas Branco, Pierre Colombo, Pierre Salzmann, Rudolph Barshai, Rudolph Schwarz, Shlomo Mintz, Silva Pereira.

Violoncelo

Amaryllis Fleming, André Navarra, António Meneses, Heinrich Schiff, Janos Starker, Karen Georgian, Ludwig Hoelscher, Madalena de Sá e Costa, Maria José Falcão, Mário Brunello, Mário Camerini, Maud Martin Tortelier, Maurice Eisenberg, Maurice Gendron, Mstislav Rostropovitch, Paul Tortelier, Pedro Corostola, Pierre Fournier, Truls Mork, Yvan Chiffoleau.

Clarinete


Artur Moreira, Ian Scott, Keith Puddy, Paul Meyer, Sabine Mayer.

Orquestras e Cojuntos de Música de Câmara


Academia de Instrumentistas da Emissora Nacional, Academia dos Instrumentistas de Música de Câmara, Orquestra Filarmónica de Budapeste, Conjunto de Instrumentistas de Sopro da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, Conjunto de Música de Câmara de Lisboa, Coro de João Sebastião Bach, Endellion String Quartet, Ensemble Baroque de Paris, Ensemble Instrumental Andrée Colson, Ensemble Instrumental de France, Orquestra de Câmara da Comunidade Europeia, European Soloists Chamber Ensemble, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Israel Chamber Orchestra, Kammermusik di Napoli, New York Philarmonic Orchestra Soloists, Octeto da Orquestra Filarmónica de Berlin, Opus Ensemble, Orquestra de Câmara da Emissora Nacional de Radiodifusão, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Nacional, Quarteto de Lisboa, Quarteto de Madrigalistas de Madrid, Quarteto de Sopros Amadeus, Trio Da Vinci, Trio Paganini, Trio Tortelier, Trio Wanderer, Orquestra Sinfónica de Zurique.

Como poderão verificar este é outro património de Sintra. O fiel depositário de tão brilhante memória é o Festival. Cada ano que passa, a sua organização vai dando prova de estar ou não à altura do passado que, para sempre, definiu os contornos de um sofisticado produto cultural.

Assim como, hoje mesmo, me foi possível apresentar-vos este rol de maravilha, também dentro de cinquenta anos haverá distanciamento bastante para perceber se as linhas de força actuais honram aquele passado. Naturalmente, sem pressas, a Música e o Tempo farão o seu trabalho.

6 comentários:

emilia disse...

Caro João Cachado,
Embora a lista dos músicos que refere e que honraram os Festivais de Sintra ao longo dos anos não seja exaustiva, como escreveu, permito-me acrescentar o pianista Arturo Benedetti Michelangeli que tocou no Palácio de Queluz no dia 28 de Agosto de 1973, Bach, Schumann e Brahms (XVII Festival de Sintra).
Eu não assisti mas, tenho muita pena.

José João Marques Simões Arroz disse...

Meu Caro João,

Já noutro dia me pronunciei e mesmo no ano passado, se te lembras, dei a minha opinião acerca do actual pobre Festival de Sintra. Parece mentira. O tempo das vacas magras não justifica tudo. Se não entrasse essa coisa dos contrapontos, o festival seria pobrezinho mas digno. Assim é uma miscelânea inacreditável, não se sabendo como é que a responsabilidade do Pereira Leal e do Wellenkamp está envolvida nessa trapalhada. Infelizmente, já descaracterizaram o festival.
Se não têm dinheiro para vedetas, paciência. Mas não se compreende o que é que tem a ver o concerto para bebés com as «fronteiras longínquas». Se eu quiser até arranjo uma ligação mas será sempre um insulto à inteligência de qualquer pessoa. Até parece que se limitam a introduzie no Festival, como contrapontos, uma série de coisas que o Centro Cultural de Sintra apresentaria nesta altura mesmo que não houvesse festival...
Nós que frequentamos festivais de prestígio lá fora, sabemos quem são e quem foram aqueles grandes artistas presentes na lista que ontem publicaste no blogue. Termino na esperança de que os responsáveis do festival compreendam a tua atitude quanto ao efeito que a lista poderá ter. Espero que sejam bons entendedores...

Um grande abraço

José João M. S. Arroz

emilia disse...

Sobre o Festival de Sintra cujo programa, é verdade, temos visto a emagrecer, em qualidade, de ano para ano e, depois de ler o comentário anterior, permito-me relatar um acontecimento que o João conhece em parte.
Em Maio de 2008, numa carta que dirigi ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra, alvitrei, depois de ter falado com o João Cachado e por sua sugestão, que no Festival de Sintra 2009 pudesse ser incluído um momento musical com eventuais músicos portugueses que até enumerei, que evocasse a figura da Condessa d’Edla, cujo aniversário de falecimento ocorreria em 2009. Despachou assim em Setembro de 2008, quatro meses depois, o Senhor Presidente da Câmara: “Porque me parece pertinente a sugestão, enviarei a sua carta e anexo à Sintra Quorum, unidade de gestão e programação do Festival de Sintra”.
Em Fevereiro de 2009, antevendo que nada de positivo ia acontecer, escrevi ao senhor Vereador da Cultura, Dr. Luis Patrício, também presidente da Sintra Quorum, enviando-lhe cópia de todos os documentos, incluindo a carta em que tomei conhecimento do despacho do Presidente da Câmara e, pedindo-lhe o favor de me receber quando lhe fosse possível,o que, até hoje não aconteceu.
Encontrei o Dr.Luis Patrício, há dias, num evento no dia dos museus e falei-lhe sobre o assunto da Condessa d’Edla. Apanhado desprevenido e, perante o tom frontal e crítico com que o abordei respondeu-me, um tanto irritado, que a programação do Festival era feita com dois anos de antecedência.
Não é uma questão só de falta de verbas, é isso sim, uma grande falta de cultura.

Eduardo Alves disse...

João,

Telefonou-me o Arroz num alerta para intervir neste debate sobre o Festival de Sintra. Pois muito bem. Ou, melhor, muito mal porque já é o segundo ou terceiro ano que o festival começou a resvalar. Como sabes no ano passado só fui ouvir o SoKolov e neste ano não prevejo sequer ir a Sintra. Digo-te mais: se houvesse qualquer programa na Pena, mesmo sem um daqueles nomes que fazem percorrer uns quilómetros eu até ia. Assim fico-me pela Malveira.
Gostaria de intervir mas de posse de mais elementos. O Zé João disse-me que tinhas publicado ou ia sair um artigo teu no Jornal de Sintra. Como é difícil o acesso, faz o favor de publicar o artigo no blogue, um favor a mim e a todos os interessados no assunto. Vou mesmo meter a colherada porque o Festival de Sintra mexia muito comigo, como sabes.

Abraço

Eduardo Alves

Sintra do avesso disse...

Minha Cara Emília Reis,

Muito obrigado pelos seus contributos e as minhas desculpas por responder tão tarde.

Na realidade, só posso corroborar o seu lamento. A hipótese de integrar, no programa do Festival de Sintra deste ano de 2009, peças originais, que foram dedicadas ao Senhor Don Fernando II, algo em que a Emília se empenhou e que, com naturalíssimo interesse, tive oportunidade de secundar modestamente, não encontrou gente à altura do seu alvitre.

Nada podia ter melhor enquadramento no Festival de Sintra do que as composições em apreço. Complementarmente, para além da sua específica valia musical, poderiam proporcionar um momento de comemoração especial da Condessa e do próprio Rei. Mas, para isso, preciso era encontrar interlocutor à altura.

Hoje em dia, minha cara Emília, não carecemos de provas mais evidentes para perceber que, quem introduz concertos para bebés no programa do Festival de Sintra, chamando-lhe contraponto - sem razão aparente, e sem perceber o que é contraponto - dificilmente poderia estar sintonizado com a sua sugestão...

Como a Emília sabe, eu tenho obrigação de conhecer e conheço - quanto mais não fosse enquanto membro da Fundação Internacional do Mozarteum de Salzburg - os meandros de programação de festivais a sério, exigindo compromissos com vários anos de antecedência. Por isso, causa-me uma certa perplexidade a resposta que o Senhor Vereador Luís Patrício lhe devolveu. Tenho a certeza de que, contactado com a antecedência que se depreende, em relação ao momento em que a Emíla iniciou a sua «via sacra», que o Dr. Pereira Leal, o absolutamente irrepreensível director artístico da componente musical do Festival de Sintra, teria desencadeado as medidas adequadas. Penso, contudo, que o assunto deve ter dado «outras voltas»...

Sabe que mais? Como Sintra está numa onda demasiado difícil para as nossas possibilidades, parece que, muito sinceramente e a sério, o melhor será contactar o Festival do Estoril. Desde já me coloco à sua disposição para o efeito. Estou certo que ali haverá interlocutor.

Por um lado, enquanto Cascais se afirma inequivocamente como Europa, por outro, em Sintra, algumas entidades «responsáveis» teimam tratar a terra como subúrbio periférico de país periférico. Nós, Emília, os que continuamos a remar contra tal corrente, vamos deixar de o fazer porque não nos consideramos masoquistas? Enfim, seja qual for o sentido da nossa intervenção, alguma coisa teremos de fazer para que os nossos filhos e netos não nos entendam, sim senhor, como gente muito interventora em termos cívicos, mas com alguma falta do sentido das realidades... Isto não é arrogância, isto não é sobranceria, tenta ser expressão de lucidez.

As melhores saudações do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Meu Caro Eduardo,

É óptimo que tenhas vindo. Sim senhor, vou publicar também aqui o tal artigo, precisamente sobre o mesmo assunto, que entreguei para publicação no Jornal de Sintra desta semana. Mas só o farei na próxima sexta-feira ou a partir desse dia. Olha, quanto à Pena, eu também tenho muita pena... Já no ano passado nada lá aconteceu. Até esse gosto especial o festival está a retirar.

Espero os teus comentários. Um abraço

João Cachado