[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Fingimentos

Ao deixar a Rua Dr. Alfredo da Costa, com tantas fachadas e entranhas degradadas, bastará que passemos pelos Paços do Concelho e continuemos a caminhar em direcção à Vila Velha para perceber como esta é uma terra que não consegue respirar sem pequenos e grandes fingimentos.

Já em plena Volta do Duche, pelo passeio do lado direito, reparemos nos candeeiros. Como o lampadário, do outro lado da rua, não estava à sua altura, certo autarca de serviço acabou por autorizar a instalação de umas luzes do estilo lanternal modernaço. Claro que a canhestra decisão, fingindo a adopção de uma evidente tradição, denuncia o desconhecimento de integração de elementos do passado num espaço urbano com as características do centro histórico de Sintra.

Passada a Sapa, eis umas peças de escultura, sugerindo ao desprevenido passeante que está numa galeria a céu aberto, semelhante às que conhecemos noutras latitudes. Desta vez, é Sintra a fingir que dá grande atenção à arte contemporânea. Todavia, logo cai por terra o disfarce. Onde está o suporte de comunicação? Onde pára o enquadramento, a informação acerca dos autores, dos materiais empregues, as datas, etc?

Seguidamente, baixemos a vista até ao Rio do Porto. Lá está a área de estacionamento que, pela tardinha e noite fora, finge ser parque de autocaravanas… Outro disfarce, é a fachada de uma das ruínas locais, ainda coberta por parte residual de apodrecido painel, à laia de tapume, mas a fingir-se dispositivo performativo do esquecido “Sintra floresce”…

Mas não é tudo. Reparem que, há anos, o antigo mercado também finge. Que se transformará, anuncia, no futuro (nado morto, adiado?) Museu de História Natural. Mais à frente, o que foi Hospital da Misericórdia finge esperar uma próxima utilização no âmbito do Sistema (Nacional?) de Saúde. O Netto finge contar com os bons ofícios da Câmara de Sintra para transformação no moderno hotel que tanta falta faz e a Pensão Bristol está embargada por uma Justiça que já não consegue fingir seja o que for.

Tanto disfarce! Tanto tempo perdido!



*publicado no Jornal de Sintra, 6ª Coluna, 10.07.09

4 comentários:

Fernando Gomes disse...

E depois não querem que esteja em perigo o Património Mundial...

Maria Alzira Santos disse...

Você chama-lhe fingimento. Para mim é incompetência, negligência e falta de respeito pelos múnicipes. Está nas mãos de todos mostrar o cartão vermelho a esta gente do centrão PPD/PS.

Alzira Santos

Álvaro Telmo disse...

Outro fingimento é a vergonha do eléctrico não estar a andar. Sintra também finge que tem um eléctrico.
A. Telmo

emilia disse...

Desta vez, nem sequer o costumado fingimento das obras em fim de mandato. Ainda mantive uma certa esperança na reposição do eléctrico até â Praia das Maçãs mas, nada.
emília reis