novamente em Sintra
Ao longo dos anos, o que não tem faltado é cruzar-me com pessoas convencidas de que conhecem razoavelmente os motivos, o geral enquadramento das viagens e, inclusive, se afirmam ao corrente de detalhes da estada de tantos conhecidos estrangeiros que, para sempre, acabaram por deixar o nome colado à história de Sintra.
Na verdade, não raro, basta trocar umas singelas ideias para que, tão rápida quanto surpreendentemente, conclua pela extrema superficialidade da informação que detêm tais pessoas. E são professores, gente mais ou menos interessada pela vida cultural em geral.
O rol de notáveis é infindável. Por ordem cronológica e, apenas lembrando aqueles que deixaram obra publicada acerca de Sintra, poderia citar, desde Luísa Sigea, passando por Carl Israel Ruders, William Bradford, William Kinsey, James Murphy, William Beckford, Heinrich Friderich LinK, Robert Southey, até Byron, o grande poeta romântico inglês que merecerá especial referência neste texto.
Entretanto, sem que me alongue em exaustiva referência, ainda poderia continuar nomeando Lady Jackson, J. Moyle Sherer, Lovell Badcock, Dora Wordsworth, Hans Christian Andersen, Tennyson, Príncipe Lichnowsky, Conde de Schack, Padre Prospero Peragallo, Valéry Larbaud ou Thomas Bernhard.
Porém, como já dei a entender, é a figura de Byron que, de novo, se apresenta perfeitamente incontornável, na semana que agora começa, para quem se interessa por este universo dos visitantes ilustres. E tudo porque, em boa hora, a Parques de Sintra Monte da Lua decidiu promover uma actividade que, não tenho a menor dúvida, vai deixar marca indelével no programa de animação cultural que está a concretizar com tanto sucesso.
Trata-se de uma oportunidade excelente para, realmente, ficar a saber mais sobre Lord Byron, a sua personalidade, as impressões sobre o Portugal que conheceu, sobre Sintra que tanto o impressionou. Tal vai acontecer de uma forma tão viva quanto nos garante o trabalho de The Live Literature Company, sob a direcção de Valerie Doulton, com duas peças, Byron in Love e Byron the Poet, de Anne Fleming, escritora inglesa que já publicou três obras sobre o poeta.
Desta vez, trata-se de teatro. Byron regressa a Monserrate, mais precisamente ao Terraço Sul do Palácio, nos dias 16, 17 e 18 de Julho, às 18,30 pela mão dos actores, Rufus Wright e Madeleine Worrall. Faça o tempo que fizer, será sempre propício este encontro tão promissor. E não esqueçam que, ao intervalo, será servido um Collares de honra.
Além dos momentos de arte e de beleza que nos esperam, será Sintra no seu melhor. Reparem que, ao mesmo tempo que recupera tantas das peças do património nacional e local que lhe estão confiadas, por exemplo, na Pena e em Monserrate, o Professor António Ressano Garcia Lamas, Presidente da Parques de Sintra Monte da Lua, e a sua excelente equipa de colaboradores, não deixam o crédito por mãos alheias. Mais uma vez.
De facto, já passámos a contar com este tipo de atitudes por parte de gente de tão bom gosto e perfeitamente à altura das circunstâncias. Em Sintra, como sabem, é coisa rara, raríssima. Assim sendo, não deixem de acorrer a Monserrate e de colher o proveito deste meu conselho de Verão. Vão por mim, só quero o vosso bem...
PS:
Certamente, haverá detalhes que me escapam quanto à marcação e compra de bilhetes. O melhor é contactarem com Suzana Quaresma, através do telefone 219237333 ou do sítio www.parquesdesintra.pt
2 comentários:
Quando se fala de Sintra no sec XIX a figura mais recorrente é a de Byron,que no Lawrence Hotel terá escrito parte do seu Child Harold Pilgrimage,onde dedica uns versos a Sintra:
"Lo! Cintra's glorious Eden intervenes
In variegated maze of mount and glen.
Ah me! what hand can pencil guide, or pen,
To follow half on which the eye dilates
Through views more dazzling unto mortal ken
Than those whereof such things the bard relates,
Who to the awe-struck world unlocked Elysium's gates?"
Porém,consigo viajou em 1809 um outro inglês,John Cam Hobhouse,que nos deixou um relato da sua visita a Sintra,no âmbito dum diário de viagem escrito em latim,e de que respingamos extratos,traduzidos em português:
2ªF,12 de Julho de 1809"-Fui com Marsden de caleche até Sintra,numa estrada com muitas curvas,três jugos de vinho,pão e queijo e trinta dinheiros.Vimos o palácio de Marialva em Sintra e os jardins de
Monserrate,antes propriedade do sodomita inglês Beckford,agora deserto e sem mobília.Entretanto,Byron foi a Mafra visitar o palácio e convento,onde antes da invasão francesa os frades eram 150 e agora só 30(...)Jantei em Sintra com três clérigos Scott,Simmons e Turner e passei lá a noite"
3ªF,13 de Julho de 1809-"De burro,fomos a Nossa Senhora da Pena,ao mosteiro de S.Jerónimo onde vivem 4 monges,pobres mas não mal vestidos.E ao Cork Convent(Capuchos?)na parte mais alta da região,com 17 franciscanos que não comiam carne nem bebiam vinho e se flagelavam.Mostraram-nos uma cave no jardim (...)o seu abade pôs-nos queijo e laranjas numa mesa de pedra.Descemos então das alturas e visitámos Colares,bela vila,com vinho abundante,clarete,e tornámos a Monserrate,um palácio só excedido pelo de Marialva em Sintra.Aí jantámos com o bom reverendo Turner.Noite em Sintra".
4ªF,14 de Julho de 1809-"-Fomos visitar com Byron,e por sugestão da irmã de Marialva,o seu palácio,ricamente decorado em estilo inglês(Seteais)e estivemos na sala onde a famosa Convenção(#) foi assinada e vimos um mosteiro do lado oposto.Dissemos adeus a Sintra,onde havia no hotel vários hóspedes embriagados e uma mulher suja irlandesa nos entregou uma monstruosa conta de 40 dollars e meio(...)Lendo acerca de Sintra,descubro que a humidade é causada por exalações de vapor"
Depois,foi o regresso a Lisboa e ao navio inglês,e ás revistas da R.dos Condes.Terá sido por estes dias,e na companhia de Hobhouse que Byron escreveu os célebres versos.
Boa tarde, Prof. Cachado,
Escreve-lhe a Ana Margarida.
Obrigada pela sua sugestão!
Um abraço,
AOM
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