[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Haydn, sempre

Venho lembrar-lhes a efeméride dos duzentos anos da morte de Joseph Haydn (1732-1809). Adjectivar a obra deste grande mestre da Primeira Escola de Viena resultaria num exercício de pura redundância. Haydn é compositor que qualquer verdadeiro melómano comemora muito frequentemente, ouvindo, ouvindo. E, para proveito vosso - que, como sabem, se reflectirá à vossa volta, como as ondas de choque após a pedra que se lança à tranquila superfície do lago - sugiro a audição de Die Schöpfung (A Criação).

Ouçam na totalidade, claro. Não façam como, actualmente, se procede na Antena Dois, ficando-se pelos excertos dos momentos mais conhecidos, em especial, o que corresponde à altura em que, a partir do caos, o Criador fez a Luz, uma das mais conhecidas gloriosas explosões da História da Música. Não deixem de confirmar como se trata de uma obra maior da nossa cultura ocidental judaico-cristã, um orgulho civilizacional para todos.

Em Salzburg, já este ano, durante a Mozartwoche, tive o privilégio de ouvir esta oratória interpretada sob a direcção de René Jacobs, com a Orquestra Barroca de Freiburg, o Coro de Câmara da RIAS e vozes do soprano Julia Kleiter, do tenor Maximilian Schmitt e do baixo Johannnes Weisser. Para mim, que conheço esta obra de trás para diante, tal audição constituiu uma autêntica epifania. Acreditem que não será fácil fazer melhor.

É obra que se ouve recorrentemente. Devem fazer-se acompanhar do libretto para não perderem nem uma do imenso caudal de belíssimas palavras, em que estão plasmadas O Genesis, o Livro dos Salmos, para os hinos corais de louvor, o Paradise Lost de Milton e o trabalho de corte e costura do Barão Gottfried van Swieten que, para o efeito, terá produzido o primeiro texto bilingue alemão/inglês.

Apenas para aqueles que ainda não disponham de uma gravação deste fundamental monumento, aconselharia a do maestro Wolfgang Gönnenwein, dirigindo a Orquestra do Festival de Ludwigsburg e Süddeutsches Madrigalchor de Stuttgart, solistas Helen Donath, soprano, Adalbert Kraus, tenor e Kurt Widmer, baixo.

Boa audição! E podem estar certos de que hoje ainda podem receber muito bons conselhos de índole cultural mas nenhum melhor...








3 comentários:

AOM disse...

Obrigada, Prof. Cachado, por partilhar as suas sugestões tão eloquentemente, que não me deixa alternativa senão procurar segui-las...
Ana Margarida

José João Arroz disse...

Caríssimo,

Quando hoje publicas este texto sobre A Criação do Haydn, eu entendi muito bem e concordo por a classificares como uma das obras grandes da humanidade. Mas conhecendo também o teu interesse especial por Amadé (como WAM gostava de se chamar) percebes certamente que lembre o conjunto dos quartetos que ele dedicou a Haydn. Assim recordo os dois grandes mestres da Primeira Escola de Viena que referiste a propósito. Porque não dás uns conselhos aos teus leitores sobre audição da música que conheces e sabes divulgar? Tenho muitas saudades das páginas de crítica musical que publicaste semanalmente no Jornal de Sintra durante três anos. Acho que podias criar uma «secção» semanal neste blogue só sobre assuntos musicais. Deixo-te a ideia e um abraço
José João Arroz

Sintra do avesso disse...

Amigos,
Muito obrigado pelos incentivos. Darei sequência às sugestões. Só agora reparei (e já emendei) no erro da data da morte do compositor.
Abraço e saudades,

João cachado