[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rio do Porto,
o amor e uma cabana

Hoje não sei o que aconteceu, não passei por lá. Ontem, cerca das nove da manhã, havia uma dúzia de avantajadas autocaravanas, todas da zona Euro - espanholas, francesas, italianas e belgas - estacionadas no parque de campismo do Rio do Porto. Na altura, antes de se fazerem novamente aos seus caminhos, os respectivos ocupantes desentorpeciam as pernas depois da pernoita.

Por acaso, não havia toalhões turcos pendurados nem mesas de campismo com restos de comida. Mas já vi, fotografei e publiquei. Por acaso, ontem, parece não ter havido desacatos mas, há uns tempos, registaram-se assaltos. Naturalmente, alguns dos poucos residentes da zona temem, sempre à espera de que qualquer coisa aconteça.

Se quiserem, pensem nas condições sanitárias. Se aí chegar a vossa preocupação, também podem imaginar ao que, em termos de segurança, se sujeitam aquelas estrangeiras pessoas. Há anos que denuncio a situação, inclusive junto da autarquia e da autoridade policial, sem qualquer resultado.

Tudo isto se passa a escassas dezenas de metros dos Paços do Concelho. Olímpica e sintomaticamente, os doutos autarcas toleram e autorizam o despautério. Conjugo esta situação com uma recente notícia do DN, acerca da oferta hoteleira de Sintra, capital do romantismo. Não tenham dúvida, o Rio do Porto deve inscrever-se no capítulo de «o amor e uma cabana»...



6 comentários:

Luís Coelho disse...

Bastava cumprir a lei que o problema nem se punha. A CMS, a GNR, o Delegado de Saúde devem intervir. Leis existem muitas neste país mas não há quem cumpra e quem exija que se cumpra.
Luís Coelho

Artur Sá disse...

Caro Dr. Cachado,

No dia em que houver um acidente qualquer dizem que foi azar, como tantas vezes temos visto. Ainda hoje no Diário de Notícias vem uma notícia sobre um fulano que teve um acidente numa estrada municipal junto à Terrugem. O homem pretende indemnização da Câmara mas não consegue. O jornal lembra o caso das duas mulheres que morreram em Belas no dia da inundação em Fevereiro de 2008 sem a Câmara se responsabilizar dizendo que a estrada não é municipal. É uma vergonha Dr. Cachado. O próprio presidente não sai bem do retrato.
Abraço do Artur Sá

José Rodrigues Nunes disse...

É uma situação vergonhosa que coloca Sintra muito mal como terra de turismo.
Os candidatos à CMS deviam comprometer-se a resolver este e outros problemas de estacionamento que o João Cachado tem apontado.
Concordo com Luís Coelho: a questão só não se resolve porque os responsáveis não querem.
Rodrigues Nunes

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

Tenho procurado não atender às surpresas que os políticos reservam a Sintra, talvez até por razões humanitárias.

Ontem, jantando com o nosso comum amigo Eng. Diogo Palha, dizia-me – com a autoridade da sua idade – que o problema de Sintra já não é político mas sim de flatos incontrolados.

Entre outras coisas, referia-se à forma como, cheios de gás, alguns políticos cozinham o nome de Sintra temperando-o com o romantismo, ou falando em "especificidades únicas no mundo", levando-nos depois a deglutir a prática de caravanismo selvagem no Centro Histórico.

Aliás, face ao que se vai assistindo, não está posta de parte a hipótese de, um destes dias, o Largo Dr. Virgílio Horta acordar com várias tendas lá montadas, com políticos cordatos a levarem o pequeno-almoço aos campistas.

No meio da nódoa que, internacionalmente, está a ser dada, quer ao prestígio de Sintra quer ao seu Turismo e pretensa Marca, ao menos a Câmara Municipal de Sintra, com mais um empréstimo bancário, poderia adquirir – para ofertar aos caravanistas – uns tantos baldes de alumínio com cordas para retirarem água do canal que por lá corre.

Talvez a moda pegue para envergonhar os milaneses que poderiam fazer campismo na Piazza del Duomo, ou os austríacos que só ganhariam com umas tendas à entrada da Abadia de Melk; um estendal de roupa debaixo dos olhos da Neues Rathaus, em plena Marienplatz seria o orgulho dos muniquenses tal como seria belo um lavar de tachos na Piazza della Libertà em Florença.

Não admirará, pois, que o parque de estacionamento junto à estação da CP também sirva de sanitários públicos, com as virtudes de ser ao livre: só lá faltam uns canteiros com florinhas...

PV disse...

Outros dois locais onde já assistimos ao fenómeno: Frente à entrada principal da Pena e frente ao Portão dos Lagos!

Sintra do avesso disse...

Caros amigos,

Se há alguma coisa comum aos vossos comentários é a ideia de que se a lei se cumprisse, se não estivesse generalizada essa prática devastadora que é a tolerância irresponsável, outra poderia ser a qualidade de vida em Sintra.

Por exemplo, no que se refere à utilização do parque de estacionamento do Rio do porto como parque de caravanismo, tal acontece porque, não dispondo da solução adequada, o poder local - que dispõe da autoridade democrática decorrente do voto popular - resolve abdicar do exercício dessa autoridade, autorizando, tolerando comportamentos tão lesivos do bem estar comum.

Enquanto esta atitude prevalecer, nada de bom pode esperar-se. Quanto a este caso específico, nada se está a fazer para o remediar. Enquanto a solução não se concretizar, nada autoriza o poder vigente a tolerar atitudes condenáveis. Ou se institui a tolerância zero ou cada vez mais nos afundamos.

Um abraço do

João Cachado