[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 25 de agosto de 2009


Cascais,
tão perto, tão longe…

Se outros elementos nos faltassem para concluir como Sintra passa mal, bastaria pensar na grande quantidade de munícipes sintrenses que procura outras paragens, em especial Cascais, para satisfação de prazeres tão comezinhos como passar umas horas agradáveis numa esplanada de praia, acompanhar os netos a um bom parque infantil, ou simplesmente passear à beira mar, mas sem a agressão do desleixo que Sintra deixou se instalasse por toda a parte.

Por exemplo, fazer o Paredão, entre a Azarujinha e Cascais é um verdadeiro assombro, comparável e mesmo melhor do que pode encontrar-se em muitos países estrangeiros. São três quilómetros de arranjo quase sempre irrepreensível, com boas zonas de ajardinamento, belas e sossegadas esplanadas, praias seguras e civilizadas, limpas, com excelentes instalações sanitárias de apoio, onde a Câmara Municipal de Cascais não deixa o crédito por mãos alheias.

Em Cascais não há trânsito caótico e os transportes urbanos satisfazem as necessidades sem razões de queixa. O cosmopolitismo de Estoril-Cascais vem de longe e nenhum mal lhe causou. Pelo menos, ao nível das consequências nos mais novos, não consta que, por ali, as criancinhas sejam menos felizes do que as de Sintra…

Cada vez mais, encontro pessoas que, em conversa informal, no café, na rua, afirmam isto mesmo que aqui dou conta. Cascais é melhor, muito melhor, é um concelho bem gerido, onde se notam marcas insuspeitas de desenvolvimento e de qualidade de vida. Por exemplo, as estruturas desportivas, para todos os gostos e bolsas, falam por si, desde o golfe, e hipódromos, aos clubes de vela e de outros desportos aquáticos, bem como ciclovias bem concretas, se é que me faço entender….

No campo cultural, confrange a comparação com Sintra. Em tempo oportuno, foi determinante a acção de José Jorge Letria como Vereador da Cultura. Com ele, multifacetado homem de cultura, Cascais mudou, avançou para onde devia uma terra com as suas características, perto da metrópole, em íntima articulação com a metrópole, enquanto Sintra estagnou. De Sintra, nem será bom lembrar a quem tem estado entregue a Cultura...

Faz-se em Cascais do melhor teatro do país. A novel Orquestra de Câmara de Cascais está alcançando um nível que não escapa ao interesse e curiosidade dos melómanos. Por outro lado, mas em domínio afim, enquanto entre nós, definha e já está em estertor o Festival de Sintra, em Cascais cada vez maior é o sucesso do Festival de Música do Estoril e, inclusive, multiplicam-se as provas de reconhecimento internacional como a mais recente, da União Europeia, para já não falar do conceituadíssimo Festival de Jazz.

No que respeita os museus e animação cultural, lembremos apenas o Centro Cultural de Cascais, a Casa Verdades de Faria (Museu da Música Portuguesa), Fábrica da Pólvora, Espaço Memória de Exílios, Museu dos Condes Castro Guimarães, Museu do Mar, Museu do automóvel Antigo, para além de todo o dispositivo de espectáculos e actividades culturais dependentes do Casino, do Centro de Congressos, de grandes hotéis que promovem eventos culturais, etc, etc..

E, agora, para que a inveja ainda seja maior, então não é que vão inaugurar, já em Setembro, a Casa das Histórias, ou seja, o Museu Paula Rego, com projecto do Arq. Souto Moura e que, indubitavelmente, vai constituir um pólo de atracção cultural de primeiríssima ordem e categoria, tanto a nível nacional como internacional? Pois ainda bem! E, melhor ainda, porque Cascais fica tão perto…

António d’Orey Capucho, Presidente da Câmara Municipal de Cascais e Conselheiro de Estado, com a sua postura de elegante descrição, vai acrescentando obra atrás de obra, sem alarido e sem a mínima transigência ao mau gosto, sem qualquer ponta de evidência ou notoriedade popularucha. É um homem respeitado, cuja futebolística preferência desconheço e que, tanto quanto me parece, é coisa que nem sequer faz parte do seu currículo oculto.

Pelas nossas bandas, como é sabido, outros são os modelos e estilo de actuação. Para o caso de subsistirem quaisquer dúvidas, aconselharia a elucidativa leitura da entrevista que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra concedeu ao jornal 24 Horas, no passado dia 16 do corrente. Na verdade, só lido, em directo e a cores. A bem dizer, para rematar o ramalhete das sugestões de popularidade, só falta mesmo o apoio do mediático casal Castelo Branco…

6 comentários:

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

Confesso que, nos últimos tempos, me tenho dedicado mais a Cascais. Não é que não ame Sintra, mas porque Sintra se tornou um pretexto para as mais disfarçadas influências.

O quadro político começa a mostrar o primado da incompetência, a pedinchice pode ser resolvida com um cargo autárquico, gostos e amizades podem influenciar lugares de eleição.

Há quem, alegando não precisar disto, prefira andar por cá a ter de desempenhar a sua profissão noutro lugar adequado.

O que se conhece sobre algumas candidaturas, deixa sérias preocupações sendo os munícipes vítimas do cruzamento de interesses.

Nunca o lema "fala do futuro, mas mantém o passado" teve tanta aplicação.

António Capucho não tem necessitado de TV para propagandear a obra feita, pois isso está à vista da população de Cascais, onde não existem grandes desvios na sua caracterização multi-étnica e social comparativamente a Sintra. Não é com camisolas clubistas que ganha votos. Nem com alusões sistemáticas ao número de refeições que fornece nas escolas.

Por isso, meu Amigo, ou isto muda por cá ou o tempo de Sintra começa a esgotar-se.

Anónimo disse...

Cascais é outra coisa. Conheço um pouco da Europa e a única terra portuguesa que na minha opinião emparceira com as melhores do género no mediterrâneo é mesmo Cascais.
O Cachado não referiu a animação nocturna, os restaurantes, bares e também não falou do comércio local.
Cascais é outro mundo e um grande exemplo para Sintra. Sintra nunca pode competir com Cascais em nenhum campo.
Vivo em Sintra (São Martinho) e amo muito esta terra mas tenho grande desgosto pelo estado em que a câmara deixou chegar isto tudo.
Carlos O.

Anónimo disse...

Caro colega João Cachado,
Acabo de ler o texto e os comentários só sobre Cascais e as vantagens deste sobre Sintra. Eu também estou de acordo mas acrescento Mafra. Moro em Sintra e desloco-me todos os dias a Mafra porque sou lá professora. Por isso acompanho as melhorias na Vila onde o Presidente, do mesmo partido que o Dr Fernando Seara, tem feito uma obra notável. Está tudo um encanto, limpo, muito arranjado, dá gosto.

Mas vale a pena ir à Ericeira onde dizem os mais antigos que só há cinquenta anos esteve tão bem como agora. Não percebo como Sintra não progride e pelo contário a qualidade de vida piora a cada dia com a falta de estacionamento, as casas degradadas, a sujidade incrível no próprio centro histórico. Tenho visto alguns estrangeiros criticando Sintra ao perceberem que a realidade que encontram não tem nada a ver com os panfletos turísticos. Por vezes sinto vergonha.
Maria Emília

António disse...

Caro João Cachado

Compreendo bem as razões que o levam a estabelecer este paralelo: em período eleitoral, há que pôr os pontos nos ii, e depois há sempre aquela tendência para acharmos a galinha do vizinho melhor do que a nossa. Eu mesmo tenho já feito esse cotejo com terras das cercanias. A Ericeira, por exemplo, tem muito a ensinar a Sintra - e trata-se duma mera freguesia. São indiscutíveis os méritos que aponta à parte de Cascais que se vê do mar, embora não me pareça que o acesso a algumas das mais-valias que refere esteja assim tão democratizado. Contendas eleitorais à parte, não posso deixar de lembrar que já o Ramalho dizia, nas "Praias de Portugal", que o maior atractivo de Cascais era a proximidade de Sintra. É verdade que os adeptos dos Estoris chamavam à Praia das Maçãs o "bidé dos marqueses", por ser a estância de vilegiatura da aristocracia pelintra - e que mesmo os ditos marqueses rareiam já por aquelas bandas. Mas as praias de Sintra têm ainda uma boa frequência (excepto aos fins-de-semana, como do Minho ao Algarve) e alguma atmosfera familiar que em Cascais há muito que desapareceu de todo. E depois, num certo sentido, aqui entre nós sintrenses, para o bem e para o mal, é como se Cascais estivesse para Sintra como os Estados Unidos para a Europa. Contendas eleitorais à parte, volto a frisar.

Saudações cordiais

António Lourenço

Anónimo disse...

(Ainda António Lourenço)

Caro João Cachado

Só uma breve nota, que desejaria não ver publicada (vi na mensagem anterior ter activado a filtragem de comentários e uma dificuldade com o outlook não me permitiu aceder ao seu mail), para referir que a Fábrica da Pólvora se situa em Barcarena e está sob alçada da Câmara de Oeiras. É uma confusão normalíssima, pois essa área está na fronteira entre Oeiras e Sintra, e não muito longe dos limites de Cascais. Já ouvir dizer que os candidatos autárquicos de Sintra vão fazer campanha para aquela zona e são repelidos pelos populares, que votam em Oeiras.


Com toda a estima,

António Lourenço.

João Paulo Gonçalves disse...

Subscrevo a opinião de Maria Emilia. Mafra transformou-se numa localidade excelente a todos os níveis e não só a própria Vila como quase todo o concelho. Em minha opinião é superior a Cascais...