[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 7 de agosto de 2009


Grandes festivais

Por acaso, na mesma data de hoje, calhou que tivesse tratado dos bilhetes para dois dos festivais que costumo frequentar há muitos anos. Porque se trata de uma realidade a que, de todo em todo, não há qualquer analogia em Portugal, talvez seja curioso e interessante partilhar convosco o procedimento habitual, por exemplo, em relação a Salzburg e Bayreuth, no sentido de garantir os lugares que tão cobiçados são a nível mundial

No que respeita a Salzburg – onde há oito festivais anuais! – sempre me desloco, pelo menos, aos de Inverno e da Páscoa. Cada um depende de diferente entidade e de distinta organização, apesar de haver articulação entre si. Dispensar-vos-ia dos detalhes do da Páscoa já que em tudo são semelhantes aos do primeiro referido, apenas diferindo o calendário.

Como princípio geral, tudo começa a tratar-se com um ano de antecedência, altura em que sai o programa detalhado. Assim sendo, para a Mozartwoche de 2010 que, como todos os anos, se realizará durante a última semana de Janeiro e primeira de Fevereiro, fiz a encomenda dos meus bilhetes no dia 27 de Janeiro de 2009, recebi a factura correspondente no dia 3 de Agosto e hoje procedi à definitiva liquidação do montante que me comunicaram. E dentro de dias terei os bilhetes em meu poder.

Para além da Catedral e igrejas, são cinco as salas onde os concertos, recitais e óperas sempre acontecem, ou seja, a Grosser Saal(Grande Auditório) e a Wiener Saal, ambos da Fundação Internacional Mozarteum, o Grosses Festspielhaus, o maior da cidade e dos maiores do mundo, bem como nos mais recentes Solitär (Grande Auditório) da Universidade Mozarteum e Haus für Mozart. À excepção da Wiener Saal, onde não há lugares marcados, em todos os outros, mantenho o mesmo ao longo dos anos.

O caso de Bayreuth, festival de ópera de Wagner, ainda é mais crítico. É mesmo muito, muito bicudo. Diz-se que a lista de espera actual é de doze anos, de dez para os mais optimistas. Desde sempre, por todo o lado, se moveram grandes empenhos, nos meios governamentais e diplomáticos de todos os países civilizados, para obter os mais cobiçados bilhetes do mundo. Actualmente, é inimaginável pretender aceder, com regularidade, ao Festival de Bayreuth sem ser membro de um dos Círculos Richard Wagner.

Há quarenta anos que vou a este festival. Tal como em Salzburg, conheço-lhe os truques. Todos e, em especial, quanto ao modo de fazer estadas longas sem gastar muito dinheiro. A propósito, estou à disposição para passar toda a informação de modo a facilitar a vida aos interessados. Isto não é blabla e, a comprová-lo, há gente em Sintra que pode confirmar como os meus conselhos facilitaram a vida em determinados destinos onde, para além destes dois, há famosos festivais de música, casos de Lucerna, Viena, Edimburgo, Aix-en-Provence, Verona, Schleswig-Holstein, Leipzig e outros.

Continuando com Bayreuth, informei hoje o Círculo Richard Wagner a que pertenço acerca do meu interesse para 2010. Pretendo assistir a três óperas, uma nova encenação de Lohengrin, Mestres Cantores de Nuremberga e Parsifal já que, no ano passado, vi a produção da nova Tetralogia que ainda se manterá por mais uns anos. Até ao fim deste ano tudo ficará regularizado, com os bilhetes pagos e o meu nome neles impresso, pela própria organização do Festival, para evitar o mercado negro. E, em Agosto de 2010, lá estarei na cidade bávara, para mais uma peregrinação wagneriana.

A capacidade de organização, a sofisticada gestão que estes festivais germânicos evidenciam, emparelham com os índices socio-culturais e económicos dos países e cidades que os promovem. Constituem invejáveis paradigmas, são objecto de estudo e não podem ser considerados ilhas de excelência – como a Gulbenkian* entre nós – porque, naquelas latitudes, tudo funcionando impecavelmente, não existe uma perniciosa cultura de desleixo que mine os melhores projectos. Basta pensar em Sintra e no saudoso Festival de Sintra…

*vd.
sintradoavesso, Outras músicas, 02.07.09


PS:

Se quiserem ter uma agradável surpresa, acedam ao sítio da Internationale Stiftung Mozarteum [Fundação Internacional do Mozarteum de Salzburg, da qual sou membro efectivo], servido por textos em Alemão e tradução inglesa, cuja ligação está aí ao vosso lado direito do painel.

Fiquem sabendo que, no dia 2 do corrente, a ISM apresentou duas peças inéditas de Mozart. Para além de poderem aprender alguns curiosos apontamentos inerentes ao seu enquadramento, é possível escutá-las imediatamente, embora a primeira apresentação em espectáculo público só aconteça, precisamente, na próxima Mozartwoche, portanto, em Janeiro de 2010. Boa audição!




2 comentários:

Ricardo Duarte disse...

Prof. João Cachado,

De volta a este seu espaço mas só de forma interventiva, pois enquanto leitor por ele passo quase diariamente, é minha vontade dar-lhe os parabéns pelo artigo em questão. Não por ser um conhecedor ou especial interessado em música erudita mas por reconhecer as mais-valias que as suas informações transmitem, até porque conheço de certa forma do que fala.

Como já referi num comentário a um dos seus artigos faz algum tempo, a nível musical ando por outras áreas e embora diferentes e opostas, no que toca a questões de organização e identidade, o que lá por fora se faz é de certa forma semelhante com o que o Professor transmite. Festivais altamente estruturados e organizados com um público fiel é a norma e inconcebível é admitir o contrário. Ainda assim por cá também exista uma ilha de excelência.

Em relação à Áustria, país que infelizmente ainda não pude visitar, as informações que vou tendo chegam por parte de uma amiga que vive em Linz e que por lá está a estudar…. Cerâmica!!!!! Apesar de ela entender de música erudita tanto quanto eu (pouco mais que zero) lembro-me de me contar que vale a pena pagar o bilhete de um concerto quanto mais não seja para usufruir da sala onde se está.

Quanto à Alemanha, o meu país preferido até à data, aí a conversa é outra. É a excelência em termos de organização, de desenvolvimento, de educação, de cultura…
A nível de música e cultura existem circuitos altamente organizados fora do habitual mainstream com uma funcionalidade a todos os títulos surpreendente pelo menos para nós.

Também é de louvar quando o Professor refere. ”A propósito, estou à disposição para passar toda a informação de modo a facilitar a vida aos interessados” É este o espírito, partilhar a sabedoria. Uma postura muito fora do habitual nos dias que correm.

A exemplo dos seus artigos sobre o Festival de Sintra, este também está excelente.

Cumprimentos,

Ricardo Duarte

P.S.: Quando um dia se deslocar a Amesterdão (se é que ainda lá não esteve) poderei indicar-lhe 2 lugares que o irão fazer-se sentir muito bem

Teresa Silva disse...

Colega João Cachado
Noutro dia o Presidente da República esteve em Salzburg e nenhum canal de televisão aproveitiou a ocasião para fazer um programa mais completo sobre a cidade e a região o que foi uma pena. Acompanhei durante anos as suas impressões dos festivais Mozartwoche e da Páscoa no Jornal de Sintra (a nível nacional era o único jornal presente em festivais tão importantes) tendo aprendido muita informação que daria um bom guião para programas de televisão. Um abraço

Teresa Silva