[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 5 de agosto de 2009



Política e politiquice

Brada aos céus este caso do Presidente da Câmara que, olimpicamente, se afirma nas tintas para a Justiça que o condenou a uma data de anos de prisão efectiva, e reitera a intenção de, novamente, se apresentar a sufrágio nas próximas eleições autárquicas. Brada aos céus, escandaliza mas, infelizmente, como todos sabemos, está longe de ser caso único.

Tanto quanto parece, este é, tão só, mais um sinal dos tempos que correm. Qual mancha de óleo, alastra o efeito de berlusconização de certo modo de fazer política. Em vez de irrepreensíveis e exemplares, certos cidadãos, candidatos a parlamentares ou autarcas, fazem gala em espezinhar valores ortodoxamente considerados como respeitáveis, recorrendo a todos os truques de mediatização para cativarem o favor das massas desoladoramente ignaras.

Pelo que se tem visto e confirmado, correm de feição os tempos para esta perigosa fauna de auto denominados animais políticos. A galope nas garantias dos ultra civilizados códigos de Direito em que radicam os Sistemas de Justiça dos nossos países de cultura e civilização ocidental judaico-cristã, estes sílvios e izaltinos, valentins e quejandos - pedindo meças ou em santa aliança com ultra-farisaicos banqueiros que a Obra de Deus acolhe e beatifica - não conhecem obstáculos à sua voracidade.

Para consumação de programa tão florescente, estão esses próceres conluiados com bem oleadas máquinas de comunicação social, que também controlam, servidas por péssima classe de maus escreventes alcandorados à condição de jornalistas. Às suas mãos o quarto poder soçobrou, praticamente definhou.

Negro quadro, é verdade. Este é mais um daqueles momentos em que parece ter chegado a besta do Apocalipse. Tenho a impressão de que, afinal, apenas se trata de uma máscara. Toda poderosa, a ignorância travestiu-se de personagem indispensável, não à política - que é coisa nobre e afim da vida na polis - mas, isso sim, à ordinária e rasteira politiquice.

No entanto, apesar de cada vez mais inermes, há braços que resistem. Por isso, muito errado está quem se convencer de que este é um terreno definitivamente conquistado.


4 comentários:

Raul Domingos disse...

Caro amigo,
O Cachado escreve o que quiser no seu blogue. Embora de acordo completo com o seu texto de hoje parece-me que o seu blogue devia estar voltado exclusivamente para assuntos de Sintra. Acho que devia fazer um blogue para os seus comentários à política em geral e outro para a música ficando este só para Sintra e a justificar o nome.
Raúl Domingos

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

As entrelinhas são terríveis. A leitura por vezes é difícil.

O comentário anterior, subscrito por Raúl Domingos, que compreendo, acabou por remeter este seu artigo exactamente para Sintra: - Então não foi o Presidente da Câmara de Sintra, três dias antes da sentença (Num Tribunal de Sintra), dar um protocolizado abraço político ao Presidente de Oeiras, com a celebração de um acordo sobre o SATU, coisa virtual e bem a despropósito sobre as carências sintrenses?

Um abraço,

Fernando Castelo

Eduardo B. Alves disse...

Meu caro João,

Este texto está muito bem concebido, parabens. Discordo de Raúl Domingos pois o teu blogue tem de ser como tu e divulgar os teus interesses. Na minha opinião gostava que tivesse muito mais artigos sobre questões musicais que são a tua grande especialidade. Todos os leitores ganhavam com isso.

Desconfio que a maioria dos sintrenses desconhecem os teus conhecimentos no domínio da música. Se não leram as centenas de páginas de crítica musical que escreveste no Jornal de Sintra (apenas um exemplo) não sabem o que podiam ganhar contigo. Noutro dia escreveste que aceitavas a sugestão de alguém quanto a escreveres sobre música. Espero que faças isso mesmo e com urgência. Só a tua experiência dos festivais de música por esse mundo davam pano para mangas. E as conversas que já tiveste com os grandes intérpretes, em Salzburg... Fico à espera.
Abraço
Eduardo Alves

José João Marques Simões Arroz disse...

João,

Já sabes que os teus amigos da música o que querem é mais textos teus sobre questões musicais. Dá-nos música... Repara no caso desgraçado do festival de Sintra deste ano. Embora praticamente só tivesses escrito algo sobre música quando te referiste ao concerto em que o Vengerov apareceu como maestro, tiveste imensos comentários. Claro que estou com o Eduardo pedindo que te voltes para este domínio. Abraço grande

José João Arroz