[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Humor e Amor


É coisa nada frequente que um dos mais conhecidos portugueses tenha sido uma excelente pessoa, ao ponto de estar no coração de todos, sem que se lhe aponte algo que desmereça a geral estima e o grande carinho que todos lhe manifestam. A circunstância de ter morrido há apenas dois dias propicia a lembrança. Porém, é a sua condição de membro da Maçonaria que pretendo evidenciar, ao partilhar convosco considerações tão pertinentes quanto aplicáveis a outros maçons, a maior parte dos quais ilustres mas anónimos.

Começando a ler estas linhas, e ao chegar à conclusão de que só posso estar a referir-me a Raúl Solnado, tenho a certeza de que poucos leitores saberiam da sua filiação. E, por outro lado, rarissimamente, a morte de alguém, tão querido, tão chegado que mais parece parente muito próximo, terá sido encarada de modo tão desdramatizado, tão natural.

A propósito, aproveitaria o ensejo para lembrar como Wolfgang Amadeus Mozart, em carta datada de 4 de Abril de 1787, partilhava com o pai Leopold o que ambos, católicos fervorosos e igualmente maçons, tinham aprendido na Maçonaria, ou seja, que “(…) a morte é o grande objectivo da nossa vida. (…) familiarizei-me com esta verdadeira e melhor amiga da humanidade, de tal modo que não só a encaro sem terror como inclusive se me revela apaziguadora e reconfortante (…)”

De algum modo, foi à luz desta mesma ideia, que também o próprio Raúl Solnado foi preparando a cena. Discretamente. Apercebendo-se do fim, deixou cair, aqui e ali, as palavras indispensáveis ao entendimento da mensagem. Mas não foi preciso chegar a este momento da passagem ao oriente eterno, para perceber como os grandes princípios e valores da Maçonaria – Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a famosa tríade que é matriz dos tempos modernos – nortearam os passos daquele homem.

Inteligente, paradigma de bondade, solidariedade, de cidadania activa, de lutador pelos grandes valores da humanidade, Raúl Solnado a todos nos marcou, tornando-nos melhores. Como verdadeiro maçon, ele era a simbólica pedra bruta cujo constante aperfeiçoamento é indispensável à construção do templo individual e colectivo, obra de e pelo Amor.

Gostaria de aproveitar este momento para sublinhar que o objectivo máximo da Maçonaria universal é o conhecimento e, nesse sentido, trabalham em comum os seus membros, para o aperfeiçoamento intelectual e moral da sociedade. Fundamentalmente para acabar com os preconceitos que impedem o diálogo e a harmonia. Entre outras coisas, o maçon é um homem que nasceu livre, precisamente porque, através da Iniciação, morreu para os preconceitos.

Infelizmente, nem sempre é pelas melhores razões que, na maior parte dos casos, a Augusta Ordem Maçónica e certos maçons ocupam espaço nos media. A partir de agora, quando tal voltar a acontecer, lembrem-se de Raúl Solnado. Sempre que vos apontarem um traste, que se aproveitou da condição de maçon em proveito próprio, não tomem a árvore pela floresta...



10 comentários:

Anónimo disse...

Há aqueles que apenas se preocupam em ser daquelas paedras rendilhadas, para que todos gostam de olhar. No entanto desprezam aquelas pedras lisas,cúbicas, sem adornos, mas que sustentam o templo. Sem alicerces, o Templo desmorona-se ao primeiro vento. Solnado trabalhou nas duas vertentes. Meu Irmão, agrdeço-te esta prancha, cheia de Força, Sabedoria e muita Beleza.

Padre Licínio disse...

Ser maçon é um acto de «escondimento» na sociedade. Só sabe depois de morrer.
Porquê? Falsa modéstia ou interesses «escondidos»?

Anónimo disse...

Querido Irmão
Gostei muito do modo como aproveitaste a passagem do nosso Irmão ao Oriente Eterno para alertares os profanos interessados a não julgarem tudo pela mesma bitola.

Seria bom esclarecer que o nosso Irmão Solnado e nós mesmos seguimos uma obediência Maçónica que se acolhe ao Grande Oriente Lusitano. Há outras obediências Maçónicas em Portugal e por todo o mundo que nós respeitamos fraternalmente mas nas quais não nos revemos. Muitas vezes, o GOL sofre as consequências de erros que irmãos maçons de outras obediências cometem. O povo em geral confunde naturalmente aquilo que é muito distinto. Na realidade, a Maçonaria não é toda a mesma.

Tal como o Irmão que me precedeu no comentário, eu também considero que te ficamos devendo uma boa prancha de grande oportunidade. Um abraço fraterno.

Sintra do avesso disse...

Caros leitores,

Devido à matéria que hoje resolvi trazer à vossa consideração, resolvi suspender o princípio de acordo com o qual não costumo acolher comentários anónimos. Isto porque, manifestamente, haverá maçons que vão querer participar sob anonimato. Cumpre esclarecer que só o próprio maçon decide se pretende que seja ou não publicamente conhecida a sua condição de membro da Augusta Ordem Maçónica. Há quem não tenha qualquer problema mas também há - e está no seu pleno direito - quem deseja manter essa filiação sob reserva.

João Cachado

Anónimo disse...

Será bom que aqueles que todos os não maçons, os que designamos como «profanos» percebam que por cada traste (como tu chamas aos maçons oportunistas) há muitos "solnados" que trabalham discretamente a pedra bruta em benefício das mais nobres causas.

César Ramos disse...

Companheiro 'Coordenador',

Explicar isso aqui, ocuparia muitas linhas e seria fastidioso para si. Porém, digo que a Maçonaria quer revelar-se, mas o sentimento de discrição de cada um, tem de ser respeitado!... quando uma mão faz bem, esconde-se da outra!

Lá, ninguém busca publicidade por praticar o Bem! Saber quem foi quem que que teve um gesto solidário, é acessório,... nem 'serve' para o IRS, como 'mecenato'!

Não sei se me estou a explicar bem!

E não é só depois da transição, a que nós profanos chamamos morte, se conhece a missão que se estava cumprindo!

Outrora não! era a fogueira inquisitorial! hoje sim,
o Grão Mestre dá a cara... e, muitos outros o fazem, se o quiserem... não há nada na "manga"!

Lendo História, indo à Quinta da Regaleira em Sintra etc., vai encontrar mais facilmente respostas a todas as suas dúvidas!

Um abraço fraterno!
Não é preciso ser "sócio" para se partilhar humanidade e espiritualidade...

Uma nota sobre mim:
eu, não sou Maçon!

Artur Sá disse...

Caro Dr. Cachado,

Este seu blogue é uma caixinha de surpresas. Não imaginava que o Solnado era maçon. Mas como o senhor, pelo que se vê, tem informação privilegiada... Já sabia do Mozart e de muitos outros músicos e políticos mas não sabia que se pode ser maçon e católico ao mesmo tempo. Julgava que eram incompatíveis.
Um abraço

Artur Sá

Maria da Graça O. Rodrigues disse...

Eu estimava muito o Solnado. Mas desconhecia esta dimensão de maçon. Agradeço-lhe pelo texto que é uma bonita homenagem e por me dar a conhecer outra faceta do artista que agora ainda compreendo melhor. Mais uma vez obrigada.
Graça Rodrigues

Anónimo disse...

Aconselho-te a repitir esta prancha nos fins de Setembro. Terá outro impacto mas compreendo que não ternhas perdido a oportunidade.
Força. Sabedoria. Beleza. Está lá tudo.

Anónimo disse...

Presumo, pelo teor do post, que sejas MQI. Deixo-te aqui TAF
Marco Aurélio, Leiria-Oriente .'.