[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Capital do quê?


Por se tratar de coisa ainda muito recente, não haverá quem possa já ter esquecido que o executivo municipal lançou um programa, talvez enquadrável no âmbito da promoção turística, designado Sintra, Capital do Romantismo, no sentido de cativar forasteiros para estadas mais prolongadas. Mesmo os de mais curta memória, se lembrarão de que aquela pérola carnavalesca foi apresentada na Quinta da Regaleira, lugar ao qual ninguém negará conotações tardo-românticas.

Muito provavelmente, o que a maioria das pessoas já não recorda, é que, uns meses antes, o mesmo executivo camarário anunciou concordar com a instalação de um parque de estacionamento dentro da mesmíssima Quinta da Regaleira e que, na desajeitada tentativa de limitar os contornos do dislate, o Senhor Vereador do pelouro da Cultura tenha justificado tratar-se de um parque para cerca de trinta automóveis…

Não haja dúvida, tão preclaros e doutos edis, já asseguraram destacado lugar no anedotário sintrense das propostas desmioladas. Na realidade, dificilmente se faria pior. De uma penada, contrariam tudo quanto está adquirido, não só relativamente à necessidade de não induzir a circulação de viaturas particulares no centro histórico, mas também no propósito de defender os monumentos classificados de agressões várias como as causadas pela entrada, saída e permanência de automóveis no espaço afecto a um monumento classificado.

Por um lado, a Câmara Municipal promove uma alegre campanha, convidando os visitantes à romântica dormida em Sintra [houve logo quem aludisse à cintura periférica com vários motéis profusamente publicitados…] e, por outro, não hesita em colaborar na ofensa a um património de feição, perfil e afinidades românticas, num lugar cuja defesa a deveria posicionar em primeira linha absoluta.

Enfim, num texto em que, mais do que uma vez, aludi às capacidades de memória, não poderia deixar de rematar fazendo votos no sentido de que, dentro de umas semanas, os eleitores não se esqueçam deste e doutros episódios que radicam em marcas de incultura que, embora risíveis, pressupõem uma avaliação de inequívoco sinal.

3 comentários:

José Castro disse...

Caro João Cachado
Temos razões de queixa em muitos lugares de Sintra sendo muito lamentável que os próprios serviços culturais sejam os primeiros a ofender o património. Até a UNESCO já ameaçou desclassificar mas com a habilidade de sempre a Câmara vai conseguindo enganar. A única entidade que dá garantia de seriedade é a Monte da Lua que, com muita justiça o colega João Cachado tem elogiado tantas vezes nos seus artigos.
J. Castro

Anónimo disse...

Tudo é possível neste reino de Sintra, até parece que estão a fazer de propósito para alcançar essa desclassificação.E sob as nossas «barbas» e perante o nosso apático, mudo, silencioso e desinteressado conhecimento.
Margarida

Fernando Costa disse...

Chegar a este blogue é um lenitivo especial. Parabéns.

Fernando Costa