[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Europa,
ao que chegaste...

Com mais de sessenta anos, tenho idade bastante para lembrar que, nos meus tempos de criança, tivesse crescido a ouvir os meus pais, avós, tios e amigos da casa conversando acerca do que acontecia em Portugal - com cuidado porque as paredes tinham ouvidos [tantas vezes ouvi esta expressão...] - e por esse mundo fora, na década de cinquenta e seguintes do século passado.

Já o escrevi neste blogue, mas não me recordo a propósito de que assunto, que me habituei a respeitar muito aquelas ilustres pessoas cujos nomes só me eram familiares porque os ouvia pelo meio das conversas, durante os almoços e jantares, em que nós, miúdos, não tínhamos mesmo nenhum voto na matéria. Naqueles tempos, nas casas que se prezavam de fazer alguma educação dos mais pequenos, ouvíamos e calávamos, sem qualquer licença para intervir. E, enfim, não consta que tivéssemos ficado particularmente traumatizados...

Nomes sonantes como os de Maurice Schumann, Paul Henry SpaaK, Konrad Adenauer, Charles De Gaulle faziam parte de uma realidade que só era distante porque correspondia a um conjunto de verdadeiros estadistas de países europeus, que aprendi a considerar como desenvolvidos, donde chegava a música, os jornais e os livros que iam entrando em casa, tão naturalmente, como tudo o mais. De resto, eram gente familiar, muito lá de casa, como diria o saudoso e querido João Bénard...

Vem tudo isto a propósito de uma notícia que encheu os telejornais de hoje. O português Durão Barroso foi reeleito, por maioria absoluta, para presidir à Comissão Europeia. Sinais dos tempos, não há dúvida e, pelo menos, desde os tempos em que a mesma Comissão deixou de contar com Jacques Dellors como seu presidente, talvez o último estadista com estatura verdadeiramente digna de ocupar um lugar que tal.

Quando a CE permite ser dirigida por um qualquer Durão Barroso, está tudo dito. Não direi que é a mediocridade abjecta no poder mas não será mais do que uma mediania muito comum, numa altura em que a Europa precisa de homens de grande rasgo, do mais alto gabarito, que suscitem a mobilização para as causas que valem a pena ser vividas por todos os cidadãos deste velho continente tão acomodado. Comparando com os referidos gigantes, o que só temos tido é direito a um pigmeu...

Não deixou de ser caricato ouvir Paulo Rangel afirmar que o cidadão comum nem imagina a importância que tem o facto de ser um português naquela posição. Tem-se visto a mais-valia... Aliás deve ser vantagem idêntica à que os italianos tiveram pelo facto de Romano Prodi ter presidido aos destinos da Comunidade Europeia durante vários anos. Estes tipos não têm mesmo noção do ridículo de tais opiniões. Muito provincianos, coitados, muito poucochinho...

4 comentários:

Artur Sá disse...

Amigo Dr. Cachado,

O Barroso é muito fraquinho mas verificou como o francês encolheu as unhas? Para fazer papel de lacaio o actual presidente da CE tem jeito e experiência. Já nos Açores foi muito bem como mordomo da reunião antes da guerra do Iraque...

Cumprimentos amigos

Artur Sá

Anónimo disse...

Este ou outro está lá para fazer os jeitos que os países grandes precisam, a Alemanha, a França, etc. Todos pagamos o ordenado do Barroso mas os países maiores é que controlam se o homem faz o serviço que lhes interessa. Se o Barroso não fizesse o que os grandes esperavam, agora não o tinham ajudado a ganhar as eleições.
Pedro Ventura

Anónimo disse...

Ainda todos recordamos que Durão Barroso abandonou o barco para ir para Bruxelas, deixando isto tudo feito num oito. Antes o Guterres também se fartou do pântano em que deixou o país afundar. De facto temos estado muito bem servidos e para rematar temos um PM que sabe safar-se. Eu se pudesse emigrava.
Saul

Eduardo Salles disse...

Sabe que estes senhores se governam todos muito bem com os cargos que arranjam na política. Alguns têm o descaramento de dizer que a sua vida é um grande sacrifício em serviço das grandes causas e do povo. Depois admiram-se que a abstenção seja cada vez maior.
Eduardo Salles