[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 3 de setembro de 2009



A santinha

Depois de ter lido a lista de candidatos à Assembleia Municipal da Coligação Mais Sintra, fez-se-me luz. Ou melhor, para usar uma terminologia de pendor ainda mais religioso que, inevitavelmente, não deixará de marcar este texto, tive uma verdadeira epifania. É que, do mencionado rol, faz parte aquela que ficou conhecida como a nossa senhora de sintra.

Passo a explicar. Trata-se de uma militante laranja que, colocada em cargo de chefia de certa estrutura afecta à Câmara Municipal de Sintra, aparecia tantas ou tão poucas vezes no serviço onde recebia o vencimento mensal que os funcionários não tardaram em dizer que, de vez em quando, se dignava fazer o milagre de umas aparições. Enfim, estão a ver a conotação…

Este engraçado episódio não podia deixar de me manter num registo de caricatura que, aliás, de vez em quando, convém cultivar para que tudo isto não se resuma ao vale de lágrimas em cuja construção tantos estão apostados. Foi nesse contexto que me ocorreu entender os eventuais patrocínios alternativos de que estarão beneficiando os partidos da referida coligação.

Será na esfera da comunicação à distância que procuram intercessão de uma qualquer outra santinha para se darem ao luxo de terem consigo e de poderem servir-se das miraculosas figuras de futebolistas, cantores populares e comediantes que entram nas casas dos eleitores através do sagrado ecrã, embora com o inestimável contributo do cabeça da lista candidata ao executivo camarário?

Seja como for, pois que se cuidem todas as outras candidaturas. Para além do dever de atenção aos outros milagres que estarão na calha, impõe-se ir descobrindo a careca de quem tão altos recursos utiliza no sentido de preparar a procissão de acesso ao altar do poder local.


4 comentários:

Anónimo disse...

Essa, santinha (gostava agora de escrever santinha com letra ainda mais pequenina, vê-la tem sido um milagre, mas outras HÁ que se vêem todos os dias, isto é, de 2ª a 6ª num regime 9 to 5, but seriouslly a lot worst.Régios vencimentos a quem no minímo deveria estar internada no hospicio mais perto. Quando se trabalha num ambiente assim contaminado de maldade, incompetência e locura e se entende que quem manda fecha os olhos... restam os gritos mudos e assina-se anónimo

Artur Sá disse...

Caro Dr Cachado,

O seu texto é um achado. Parabéns. Faço ideia a fúria que não vai já por aí em certos meios afectos à candidatura que o senhor visa. Pelos vistos o anónimo anterior deve conhecer a santinha. Ainda se fosse caso único. Quantos e quantas andam por aí só por terem o cartão do partido?
Acho que fez bem publicar a mensagem do anónimo embora neste blogue a sua política não seja essa. Devemos respeitar o anonimato dessa pessoa que se sujeita a represálias. Chegamos a isto, é uma vergonha.Abraço

Artur Sá

Eduardo B. Alves disse...

João,
Em cinco parágrafos curtos não é fácil jogar com tanta ironia e atingir sem ofender uma força política. A figura da «santinha» é incrível nos dias que correm e não é ficção, é bem real.
Não sou de Sintra e estou longe de saber quem é a senhora mas «conheço-a» doutros lugares... E a outra ou outras santinhas dos dois últimos parágrafos, têm uma força dos diabos. Sabes que me apeteceu ver estas personagens numa caricatura de alguém com jeito.
Como escreve Artur Sá estás de parabéns, é um texto muito expressivo que me fez intervir a mim que só costumo aparecer quando escreves sobre matéria que tenha a ver com a música. Para mim "A Santinha" devia fazer parte de uma selecta local de textos da campanha para as autárquicas. Força João. Abraço
Eduardo

Anónimo disse...

Amigo Cachado
Bem pode a Dra. Ferreira Leite falar em verdade e reclamar moral Com exemplos como o da «santinha» nas listas da AM, não vai longe...
João Carlos