[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

João Cachado - Sintra

O melhor de Sintra

É natural que alguns dos habituais leitores ainda desconheçam que a Parques da Sintra Monte da Lua (PSML) aumentou recentemente o seu património, através da incorporação de três novas propriedades que, tal como todas as restantes parcelas, se incluem na zona classificada como Paisagem Cultural.

Lembremos que Convento dos Capuchos, Tapada D. Fernando II, Parque de Monserrate, Tapada de Monserrate, Tapada do Mouco, Parque da Pena, Tapada dos Bichos, Castelo dos Mouros e Quinta de Seteais somam 361 hectares, um conjunto cujos contornos e respectiva toponímia tão grato nos é registar por saber como tudo tem estado tão bem entregue.

Pois, a partir de agora, a PSML passa a responder por um total de mais de quatrocentos hectares de terras naquela zona, uma vez que, à área precedente, foram acrescentadas a Tapada das Roças (43 ha), a Mata da Trindade (1,9 ha) e a Tapada da Quinta do Ramalhão (4,75 ha). No caso em apreço, aquilo que, para outra empresa não passaria de um saudável aumento de propriedade, foi oportunidade para uma atitude que saúdo com o maior apreço.

Ora vejamos o que me leva a este encómio. É que, desta vez, a PSML veio ao encontro de alvitres que apontavam no sentido de privilegiar uma estratégia de comunicação com os cidadãos de Sintra, na tentativa de esclarecer inequivocamente o que, por exemplo, estava a montante das decisões que levaram às manobras de limpeza e desbaste florestal nas tapadas sob sua alçada.

Ainda não há muito tempo, estarão lembrados, armou-se para aí uma controvérsia dos diabos a propósito de tal actividade. Meia dúzia de pseudo defensores do ambiente, autênticos ecologistas da treta, implícita ou explicitamente, na peugada de um grupo – (infelizmente) sem dimensão que, volta não volta, aparece à luz do dia como arauto da defesa do património sintrense – insinuou ou acusou mesmo aquela empresa de crimes cuja existência apenas tem cabimento na sua incomensurável ignorância.

Afinal, como tive reiterada oportunidade de confirmar, esclarecer e justificar,** tratou-se de concretizar atitudes radicais de gestão florestal, absolutamente fundamentais e indispensáveis à saúde e segurança das espécies em presença, que foi desempenhada com o maior cuidado e inexcedível competência por parte de quem a tarefa foi cometida, sob coordenação do Engº Jaime Ferreira, um amigo de Sintra que apraz aplaudir.

Faltava fazer alguma coisa? Faltava sim senhor. Faltava mostrar, à saciedade, a razão que assiste à PSML para fazer e continuar a fazer aquilo que tem feito, e tão capazmente, no âmbito da gestão da floresta, nos terrenos em que não pode deixar de intervir. É neste contexto, portanto, que acabou por ser colmatada a falta a que me refiro.

Com a avisada descrição que o caracteriza, o seu Presidente convidou quem lhe aprouve, para mostrar e demonstrar, perante a obra por fazer na Tapada das Roças, em comparação com a que já foi realizada, por exemplo, na Tapada de Monserrate, como está certo o caminho traçado. Lá diz o povo, na sua proverbial sabedoria, que não há nada como realmente… É a atitude de São Tomé, ou seja, ver para crer. E assim se fez.

Das trevas para a luz

O Prof. Lamas concentrou as dezenas de convidados no topo da Tapada das Roças e, acompanhado da sua equipa de técnicos, conduziu toda aquela boa gente através de um matagal praticamente intransitável, com uma perigosíssima carga de biomassa, onde a luz do Sol mal chega, até à vizinha Tapada de Monserrate onde idêntico cenário ao que acabei de aludir, tão pela rama, foi devidamente corrigido.

Depois de uma experiência tão esclarecedora, pelo caótico inferno da Tapada das Roças, o que a vista alcançou, uns hectares mais à frente, na Tapada de Monserrate, claro que não sendo o céu, é um inequívoco descanso que, ao contrário do que alguns incautos poderiam ser levados a julgar, não dá tréguas seja a quem for. Para assim se manter, não se pode parar pois, caso contrário, repetir-se-á o dantesco ambiente tão caro aos tais apressados ambientalistas.

Para que todos pudéssemos ficar perfeita e totalmente identificados com as questões que fomos levados a partilhar naquela tarde, foram distribuídos dois mapas esclarecedores. Um primeiro, que fornece todas as coordenadas relativas às propriedades da PSML. O outro refere-se ao loteamento da Tapada do Saldanha que, para quem não se lembre, fica exactamente do outro lado da estrada, em frente à Tapada das Roças, servida esta pelo portão que dá acesso à Quinta das Sequóias, na estrada entre a Pena e os Capuchos.

Milagres em Sintra

Basta olhar, cá de fora, para a Tapada do Saldanha para perceber porque razão se lhe chama a mãe do fogos da Serra de Sintra… Aquilo, tal como a Tapada das Roças, é um paiol de autêntica pólvora. Enfim, oxalá (passe a ecuménica evocação a Alá, nesta companhia com a Santa Mãe de Jesus…) que Nossa Senhora de Fátima não se distraia. Se calhar, já terá sido por sua intercessão que, na sequência do 25 de Abril, ao loteamento não se seguiu a concomitante construção. Nesta coisa de milagres, preciso é respeitar uma certa reserva, não vá dar-se o caso de acabarmos por meter a foice em seara alheia…

De qualquer modo, a divisão daquela propriedade, em tão pequenas parcelas, tem inviabilizado a intervenção que se impõe no sentido da salvaguarda de uma zona crítica que, durante tantos anos foi descurada. Vale-nos a certeza de que, de facto, o Prof. António Lamas está atento a tudo quanto se passa ali à volta, pelo que tudo estará fazendo com o objectivo de que a questão se resolva a contento da comunidade.

Na realidade, o advento do Conselho de Administração presidido por este homem providencial, foi determinante para Sintra. É por esta e por outras que não me canso de salientar como o Prof. António Lamas e a sua equipa fazem tanta diferença dos gestores de pacotilha e de cartãozinho, tão medíocres na forma como, sem excepção, dirigem as empresas municipais de Sintra e a própria Câmara Municipal, sem um rasgo de originalidade, sem definidas estratégias. De facto, os milagres de Sintra não estão ao alcance de quem se move sob a fasquia da vulgaridade… De facto, o melhor de Sintra está na Parques de Sintra Monte da Lua!

Amizade iniciática

Mas voltemos à tarde daquele dia 4, durante a qual ainda foi possível constatar quanto valem o companheirismo militante e a amizade de gente como Ema Gilbert, da Associação dos Amigos de Monserrate, Maria José Rau, da Associação dos Proprietários de Quintas da Serra de Sintra, de José Manuel Carneiro, director do Palácio da Pena, do Fernando Castelo, senhor de tantas lides e lutas, e de muitos outros que, tão gostosamente, continuo a encontrar nas periódicas cenas edificantes patrocinadas pelas iniciativas da PSML que, elas sim, nos animam e compensam do destempero da Sintra que sobra e soçobra.

Falta registar que, naquela vespertina caminhada, muito contei com o profundo conhecimento do jubilado e célebre biólogo, Prof. Doutor Fernando Catarino, outro amigo do Prof. António Lamas que, ao meu lado, ia caucionando, em amena conversa, todo o trabalho que por ali se processou e vai continuar. Era o Mestre que, seguro, ia conduzindo à Sabedoria o Aprendiz, beneficiando eu daquele percurso iniciático, através das trevas e dificuldades da Tapada das Roças para, finalmente, ver a Luz da Tapada de Monserrate.*

Não há dúvida, se preciso fosse, era o contraponto da descabelada ignorância dos mentores da campanha de desinformação que, pasmemos todos, apesar de radicar em tão frágeis bases, não deixa de ter quem lhe dê ouvidos e crédito. Exagero da minha parte? Mas, então, assim não sendo, acham que a imprensa local perderia tempo procurando colher a opinião do tal grupúsculo, cuja inactividade é prova cabal da sua falta de qualificação e só proporcional, aliás, à fraquíssima penetração numa comunidade, como a de Sintra, que se depara com tão bicudos problemas de defesa do património natural e edificado?

Aqui chegados, entraríamos já noutra questão, relacionada com certos meandros do quarto poder em Sintra. Todavia, sendo este mesmo o derradeiro parágrafo – embora a funcionar como um epílogo entre parêntesis – apenas me limitarei a remeter os meus leitores, eventualmente interessados na matéria, para um breve exercício de análise e interpretação da última página dos jornais locais, de há uns meses a esta parte. Verão como o patrocínio é deveras concludente…
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*Vão deixar que aqui introduza a componente musical que ali faltou. Nem mais nem menos do que, em A Criação, de Joseph Haydn, o momento em que, logo na introdução, do caos inicial, Deus fez a Luz. Neste ano jubilar do ducentésimo aniversário da morte do compositor, ouvir esta obra máxima da Cultura ocidental é a melhor homenagem que se lhe pode prestar.

**A propósito, ler neste blogue: Incoerência, 04.09.09; Na Serra, o descanso, 03.04.09; Monserrate, o cinco de Março, 06.03.09; Tomar a árvore pela floresta, 06.02.09; Monserrate, o castigo do sucesso; Paisagem Cultural, 09.10.08; À Cruz Alta, a pé, 25.07.08. Entre muitos outros que tenho escrito sobre a actuação do presente Conselho de Administração da PSML, nestes textos aludo à actividade relacionada com os desbastes florestais.



4 comentários:

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

Realmente tive a alegria de conhecer esta nova realidade da nossa Serra e de tão determinante parte do nosso Património Cultural.

Antes de mais, porque a história merecer ser o mais completa possível, sinto-me na obrigação de recordar que na anterior Administração, contra a vontade do Eng. António Abreu, na Tapada do Mouco foi autorizada aquela aberração televisiva em área de património a preservar, justificada - em parte - com a entrada de não sei quantas centenas de milhar de euros...que não sei se se concretizou. Recentemente acabei por recordar esse facto quando uma das "vedetas" daquela época se destacou num beijoqueiro abraço de campanha eleitoral...

À obra já feita na limpeza das propriedades devemos acrescentar as recuperações em curso em diversas edificações, nos aspectos das entradas, nas novas plantações.

Na sua área de intervenção, a PSML foi confrontada com as polémicas autorizações dadas para a destruição do tanque de Seteais (como seria interessante este blogue publicar aquele filme do escape e do barulho da máquina a trabalhar) e para a construção cada vez mais agressiva que vai crescendo em Vale dos Anjos.

Ao sentir que agora tudo se parece encaminhar no sentido certo, não podemos meter a cabeça debaixo do braço e fingir que antes não poderiam ter sido tomadas medidas no mesmo sentido.

Nas condições actuais, tudo indica que a nova Administração da PSML é credora de novos poderes para o desenvolvimento efectivo das vertentes cultural e turística de Sintra.

Daí as minhas felicitações.

Laura Cardoso disse...

Dr. João Cachado,

Concordo completamente consigo e com Fernando Castelo. A PS Monte da Lua é uma lição e um exemplo que os autarcas deviam copiar. Além de António Lamas está lá o ex Vereador Lacerda Távares que a gente de Sintra sabe distinguir do grupo que estava na CMS e continua.
Depois de tantos anos de degradação dá gosto ir à Pena e a Monserrate. Através de si parabéns a todos.

Laura Cardoso

Rosário Caldas disse...

Está visto que o João Cachado se rendeu. Tudo o que a PSML faz tem a sua concordância e realmente há coisas criticáveis. Aquilo que o João Cachado tem escrito acerca do desbaste florestal não é unanimemente considerado como impecável. Julgo que é preciso ter cuidado com tantos elogios. Você é ponderado mas às vezes perde a noção da medida. Mas admiro muito o seu trabalho a favor de Sintra. Parabens.

Rosário

Maria A. Almeida disse...

Caro João Cachado,

Concordo consigo. A Monte da Lua está a fazer as melhores coisas que acontecem em Sintra. Só me parece que o Cachado devia insistir mais no aspecto da actividade de uma equipa de muitas pessoas que estão a fazer muito bom trabalho embora a coordenação passe por António Lamas. Como sabe, acompanho muitos alunos e tenho observado a evolução dos parques de Sintra pelos anos fora, em especial depois do mau tempo de Serra Lopes. Sei do que falo. A gente que está no núcleo de animação é óptima. É justo sublinhar. Cumprimentos amigos

M. A. Almeida