[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fernando Castelo - Sintra

Por estas e noutras paragens


Meus caros amigos,

Regressado há dias da Alemanha, tenho evitado manifestar-me sobre a realidade cultural e de vivência naquele País de que sou tão amigo.

No entanto, duas situações me levam a escrever estas palavras.

A primeira, por ter recebido uma mensagem do Centro de Turismo Alemão, do seguinte teor:

2010: ALEMANHA CRIATIVA

2009 foi um ano de grandes acontecimentos na Alemanha. Comemorámos os 20 anos da Queda do Muro de Berlin e, com ele, o fim de tempos muito difíceis para o país.

Mas, até hoje, mesmo em tempos difíceis, temos motivos suficientes para continuarmos optimistas! Graças à sua parceria e ao seu apoio, 2009 termina com excelentes perspectivas para o próximo ano!

Em 2010 iremos falar muito da Alemanha criativa. A Alemanha criativa na moda, no design, na arquitectura e na arte.

Especialmente na arte! O Vale do Ruhr será a capital cultural da Europa em 2010, com as suas 53 cidades ansiosas por recebê-lo em alguns dos eventos programados para a região.

A Oktoberfest comemorará o seu 200º aniversário! Muito mais alegria na maior festa popular da Alemanha. Meissen festeja os 300 anos da mais fina porcelana ocidental. De Maio a Outubro, em Oberammergau, a famosa encenação da Paixão de Cristo, que se celebra de dez em dez anos, também acontecerá em 2010.

Não é à toa que um país que se reinventa sempre, em 2010 estará ainda mais criativo.

A Alemanha espera-vos em 2010!

Abraços


A segunda, prende-se com crianças portuguesas que, na sua actividade escolar em Munique, fizeram uma riquíssima pintura num túnel pedonal ao lado do rio Isar - do outro lado do Deutsches Museum - nela escrevendo: "O futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar".


Esta é a garra de gente, de quem olha para a frente sem rodeios, sem tagarelices disformes.

Nós por cá parece que desenvolvemos o turismo do quarto alugado, a cultura serôdia, do deixa andar, reservando para os finais de mandatos (ou agora será a meio?) anúncios de acções que não se sabe quando surgirão.

Lá, vive-se! E nós por cá?



2 comentários:

Anónimo disse...

Por cá, amigo Fernando,vegeta-se, finge-se que se vive, pois não se pode chamar «viver» a este «deixa andar» de sonâmbulos sem destino.
Aqui, amigo Fernando, concedemo-nos o direito à revolta contra a impunidade de quem tudo quer calar ou esconder, menos a desfaçatez que se usa na subida gratuita dos amigos, das namoradas dos amigos,etc.Por aqui, amigo Fernando, cresce silenciosa a vontade de partir que eu lhe conheço e cada vez mais entendo.Por aqui, fingimos orgulho por estarmos em Sintra e escondemos a vergonha do ridículo a que vão votando esta terra com «eventos»do mais mesquinho e puro provincianismo e disfarçamos,por mero pudor, o desprezo que nos causam os vendidos às benesses que a amizade de circunstância propicia.Amigo Fernando,tempos amargos por aqui, em época que devia ser de doçura,frio que nenhuma roupa aquece, melancolia que nenhuma luz afasta.Até o «falso brilho» das lâmpadas das tão propagadas iluminações de Natal, nos faz sentir pequenos, inibidos, envergonhados,pelo que esta Sintra, tão romântica na sua essência, se transforma,em puro mau gosto estético, este «kitsch» abominável, tão peculiar e próprio de quem nos governa.Sorte a sua,Fernando, que nos tempos que correm, tem a oportunidade de ir «lavar os olhos» noutras paragens...
Parabéns pelo seu texto, como sempre!
Mariana Reis

Raquel Pires disse...

Nós por cá, somos um pobre país sem grandes nem pequenas hipóteses, com um primeiro ministro que vai insistir em afundar-nos com investimentos ruinosos enquanto fica por fazer o importante. E em Sintra com um presidente de Câmara que nada faz para honrar o passado romântico de Sintra. Estamos mal e vamos de mal a pior. Já tenho netos e temo pelo futuro deles. É uma pena.
Raquel Pires