[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nós por cá

(a pretexto da programação de cinema do CC Olga Cadaval)


Bem cedo, como poderão verificar, no espaço reservado aos comentários, já tinha uma mensagem subscrita por um colega e amigo de muitos anos, que ontem encontrei na Gulbenkian, a quem sugeri que visitasse o blogue, através do qual comecei a dar conta das minhas impressões sobre a Mozartwoche de Salzburg, cidade donde regressei há poucos dias, depois de umas semanas de permanência para o festival e outras actividades culturais.

Afinal, não se pronunciou ele acerca do primeiro evento a que me referi, uma récita da ópera Idomeneo, mas a um texto sobre o abismo cultural que separa a oferta cultural de Sintra e de Cascais, no qual, anteontem, aludi à programação de cinema do Centro Cultural Olga Cadaval. Espero que, depois de lerem estas linhas, concordarão comigo no sentido de que, só na aparência, o tal comentário do meu amigo Jorge Reis se refere ao estafado fenómeno do nepotismo.

Estou em crer que, de facto, não se trata apenas de galopante sobrinhismo que, então, no campo da cultura é uma verdadeira vergonha. Há outras razões e uma das que mais afecta a qualidade de vida dos portugueses, minando os alicerces da democracia e prejudicando a grande maioria dos serviços à comunidade, passa pela proverbial cultura do desleixo que, primorosamente, se articula com a fura vidas propensão do cidadão comum para a habilidade, para o remendo ordinário, porque o que é preciso é safar

Ora bem, como no lugar certo acaba por não estar a pessoa certa e, como a pessoa errada, na maior parte dos casos, obedece ao «virtuoso quadro» que acabo de caracterizar, o resultado é o que se vê, não só na manta de retalhos, bem patente no cartaz do Olga Cadaval* – apenas mera insignificância no todo local e nacional – mas também um pouco (ou muito) por toda aparte, como se tem visto, tão recentemente, ao mais alto nível do poder central. Olhem que o fenómeno é exactamente o mesmo…

Sim, porque casos como o da programação cultural da Câmara Municipal de Cascais que a Sociedade Portuguesa de Autores muito bem soube distinguir e premiar, são absolutamente excepcionais. Em Sintra, em particular, e em Portugal, na generalidade, o que impera é um atavismo poucochinho, pobrete mas alegrete, do deixa andar que isso ó pois


PS



A propósito, não consigo deixar de relacionar toda esta compósita bomba sócio-cultural, esta caldeirada que tão bem conhecemos, com uma zona do mundo onde, a vida comunitária, a própria democracia, quando se afirma existir, é tão parecida com a nossa. Por lá, constantemente, afluem desgraças que, só na aparência, estão longe de nós. Pois é, na América do Sul, por acaso, onde se fala português e castelhano. Claro que não é por acaso. No domínio da exportação de matriz identitária tão sui generis, nós, os ibéricos, fomos inultrapassáveis…

* O melhor é ler o texto precedente, aqui publicado na 3ª feira, 9 do corrente.




3 comentários:

Raúl Henriques disse...

Caro senhor,
Sabe uma coisa, infelizmente não há muita gente como o senhor que pode escrever o que escreve porque não tem rabos de palha. Tal como hoje escreveu o seu amigo no comentário ao texto de ontem, a Câmara está minada por compadrio e em todos os partidos há compromissos de uns com os outros, tapam-se uns aos outros, tapam as incompetências e as asneiras uns dos outros e mesmo os jornais vão sendo comprados para se calarem e não incomodarem (veja o Jornal de Sintra que não sobrevivia sem aquela publicidade toda da Câmara). As empresas municipais são a Câmara com capa de santo de pau carunchoso e mais nada, estão falidas e fazem os jeitos que o presidente da Câmara precisa que façam. Esta do Olga Cadaval diz o senhor que deu cabo do festival de Sintra que é coisa que eu não percebo nada. Só sei que quando lá quis ir ouvir o Camané, estive quase uma hora para sair do buraco onde consegui arrumar o carro. É horrível e jurei para nunca mais. Também antes prefiro Cascais onde tudo é muito mais fácil. Parabéns por este blogue onde se vê que há liberdade.
Raúl Henriques

José Pinto disse...

A sua ironia toca uma série de defeitos dos portugueses. Mas é ironia e não ciência provada. Isso não significa que esteja enganado. Tudo o que escreve nós conhecemos "de algum lado", talvez daqui, do Olga Cadaval, da Câmara, do supermercado, da bomba da gasolina ou dos correios. Igualmente lhe dou os parabens. Devia haver mais gente com coragem a escrever estas coisas sem receio de ficar sem emprego.
José Pinto

Anónimo disse...

O problema de Sintra não é só a programação cultural, é a programação geral. Sintra está parada e parece que ninguém manda em nada. Para a gestão corrente, bastava os serviços e os técnicos porque os políticos não fazem nada.

(desculpe não assinar mas não posso, sou funcionário "dos serviços")