[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 25 de abril de 2010

A bancarrota?
Se calhar...


Para vos dizer com toda a franqueza, apesar de me considerar pessoa interessada e informada acerca de tudo o que, a nível nacional e internacional, se vai sabendo relacionado com a lusa vidinha, não previa que, tão rapidamente, tivesse de andar neste desassossego galopante dos últimos dias, tentando adivinhar o comportamento dos principais mercados internacionais.

Para que conste, não tenho contas em paraísos fiscais nem jamais comprei qualquer papel na bolsa. Preocupação tão estranha deve-se, pois certamente, à necessidade de perceber o verdadeiro estado da nação, em especial, no que às contas diz respeito, uma vez que é mentiroso e susceptível da maior desconfiança o discurso oficial do estado a que isto tudo chegou.

Felizmente, já há muitos anos, aprendi a descodificar os mecanismos da especulação, a montante da avidez de certas instâncias, sem rosto nem bandeira, que se perfilam na sombra dos juros agiotas das operações overnight, ou no campo de batalha monetarista, em que autênticos predadores, pretendendo abater determinada moeda, isolam do grupo o seu elo mais fraco para, tal como na caça, mais facilmente poderem matar a peça…

Não deixa de ser sintomático que, a tentativa de saber o que se passa cá dentro, deva pressupor o acesso ao que se escreve e diz lá por fora. Que ironia! No preciso dia em que comemoramos trinta e seis anos do Vinte e Cinco de Abril, dou por mim a fazer o mesmo que fazia no dia 24, ou seja, tentando sintonizar outras fontes, porque as do regime, não são credíveis...

Enfim, como assim é, logo que posso, lá estou, vorazmente, ou com o The Economist, tentando digerir, nas linhas e entrelinhas, as referências mais explícitas e implícitas ao caso português ou, por exemplo, num blogue do The New York Times, com Simon Johnson, em tempos economista-chefe do FMI, a considerar, sem escândalo nem surpresa, que a Grécia e Portugal são mais arriscados do que a Argentina em 2001.

Multiplicam-se os manifestos do descrédito internacional através do testemunho de insuspeitos especialistas. É o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, no El Pais, advertindo quanto à possibilidade de Portugal e a Espanha sofrerem processos de falência análogos ao da Grécia. É Nouriel Roubini, o guru que previu a crise global em que estamos mergulhados, chegando ao ponto de, no seu site, escrever que Portugal e a Grécia até poderão ter de abandonar a união monetária.

Sabem o que passou a acontecer-me nas horas que precedem a reabertura dos mercados, à segunda-feira? Perante perspectivas tão alarmantes, fico num autêntico frenesim. Interrogo-me se será desta que – tal como já fizeram na Grécia, com o sucesso que se conhece – os especuladores internacionais conseguem, também neste elo mais fraco que é Portugal, manipular o Euro a seu bel-prazer, atirando-o para o desgraçado buraco que os governantes, com os habituais óculos cor de rosa, recusam ver.

Porém, aí estão os avisos, pelas mais respeitadas vozes. Quem tem a coragem de afirmar que são profetas da desgraça? Quem quer cair nesse ridículo? Pois bem, apesar dos sinais de alerta, continuamos ouvindo a insistência na concretização do aeroporto de Alcochete, nas linhas de tgv sem qualquer hipótese de rendibilidade, bem como na nova travessia do Tejo. Que falta de lucidez! Que cegueira é esta, de braço dado com as grandes construtoras?


De facto, andamos a viver acima das nossas possibilidades. Há demasiado tempo. Acho que andamos mesmo a brincar com o fogo. Até que, um dia destes, provavelmente, numa das próximas segundas feiras, alguém nos irá acordar para o pesadelo bem real da mais negra situação financeira, que nenhuma comunidade gostaria de encarar. Mas, será que temos de levar com o descarnado murro da bancarrota? Quem dera que não...

5 comentários:

Fernando Sousa disse...

Aproveito estar "com a mão na sua massa" para comentar mais este seu trabalho. Aqui só há uma coisa mas fundamental, em que discordo do João Cachado: a bancarrota não é uma ameaça, nós já vivemos em bancarrota. Ponto final.
F. Sousa

Pedro L. da Fonseca disse...

Caro João Cachado,

Como o Cachado, também penso que a nossa situação nunca foi tão má. Desde o 25 de Abril, talvez a situação seja pior do que quando ficámos sem o 13º mês. A propósito, aproveito para dizer que regressei anteontem de um seminário em Donaueschingen, onde me encontrei com engenheiros de toda a Europa. Em geral, não queira saber como consideram que Portugal está prestes a sofrer um revés tão grande como a Grécia. Em certos sítios no estrangeiro, sabe-se mais acerca do nosso país do que se julga. Oxalá que o mau bocado que aí vem não seja pior do que a Grécia. Mas tenho dúvidas. Abraço do

Lopes da Fonseca

Carlos Duarte disse...

Longe vá o agouro, não me convinha nada que daqui a umas horas entrássemos em bancarrota... Deixe isso lá para depois do Verão que antes ainda tenho umas despesas a fazer... Abraço amigo,

Carlos Duarte

David Sequeira disse...

Ainda não foi hoje que rebentou a castanha. Mas não deve faltar muito com tantos gurus a dizer que isso vai acontecer. Muito interessante o comentário de Pedro da Fonseca.

David Sequeira

Anónimo disse...

Estas noticias não são novidade para pessoas simples como eu mãe que tenta governar uma casa e família com cerca de 1500 euros mês a geração dos 1500 sente-se um pouco como o país (tenho 36 anos - como o 25 de Abril) nunca ninguém me falou nos benefícios de poupar, os bancos e empresas de crédito inundam-me a caixa do correio com publicidade e ofertas para gastar dinheiro a crédito.. Vivo já à muitos anos com quase o dobro do nosso salário em dinheiro emprestado, seja em contas ordenado seja em cartões de crédito e sei que maior parte das pessoas assim vive. Tal como o país... O país e as famílias tem de aprender a viver melhor com o dinheiro que verdadeiramente possuem, sem cair no "vício" de depender de dinheiro emprestado.