Festival de Sintra 2010
– não, não é normal…
Já vamos na primeira semana e, segundo a organização, a 45ª edição do Festival de Sintra começará no próximo dia 24 deste mês de Maio. Porém, em termos da sua divulgação, nada transparece. Ou, melhor, alguma coisa acaba por se descortinar se a insistência for qualidade maior de quem procura a informação e não esmorecer a persistência. É que, como poderão verificar, não é fácil. Em Sintra, se tudo é particularmente difícil, em especial no campo cultural, porque haveria de ser fácil a disponibilização do calendário do festival?
Não dou qualquer novidade ao lembrar que, em latitudes mais civilizadas, no caso de festivais de grande renome e com programações de nível absolutamente excepcional, daqueles que suscitam uma extraordinária procura internacional de bilhetes, é perfeitamente normal ter o programa na mão e comprar os ingressos com um ano de antecedência, como em Salzburg e Bayreuth, por exemplo.
Tal não é nem nunca foi o caso de Sintra. De qualquer modo, apesar de não passar de festivalzinho de Verão de país periférico, chegou a gozar de reputação invejável até que o advento dessa coisa execrável, sob a espúria designação de contrapontos* – o tal saco de gatos sem conexão onde tudo cabe – a reboque da impreparação de quem ocupa lugares para os quais não está apetrechado, veio dar cabo do crédito da iniciativa que eu próprio cheguei a classificar como o mais sofisticado produto cultural de Sintra.
Todavia, não duvido de que, apesar de pálida sombra do que foi, o festival sempre apresentará motivos de interesse. Os seus directores artísticos – que nada têm a ver com o destempero dos tais contra – lá estão assegurando a apresentação de propostas de qualidade. Para a edição de 2010, fui sabendo que, além de Grigory Sokolov, Brigitte Engerer, Abdel Rahman El Bacha, cá viriam também Alexandre Tharaud ou Jean-Marc Luisada, todos nomes muito interessantes da pianística actual.
Desde o princípio do ano, não deve ter havido uma única semana em que, pelo menos uma vez, não tenha tentado saber algo via internet. Sem sucesso. No entanto, é absolutamente normal que um festival deste género seja anunciado com vários meses de antecedência, de tal modo que os interessados possam programar as suas vidas contando com a assistência a determinados eventos.
No meu caso, por exemplo, se assim não for, isto é, se não me comprometer com a devida antecipação, arrisco não poder assistir a determinado recital porque, nessa data, já terei outra marcação que, entretanto, terá ficado sem qualquer hipótese de alternativa anterior ou posterior. Por inerência de compromissos profissionais e de outra ordem não tenho outra hipótese senão organizar a agenda com a normal antecedência de segurança.
Então, como procurar? Naturalmente, Festival de Sintra 2010 será aquilo que ocorrerá buscar na Internet para ter acesso ao programa. Tentem e verão que vos acontece deparar com uma desactualizada fotografia de Brigitte Engerer encimando a informação de uma dúzia de linhas de circunstância que remete para um programa a apresentar brevemente. Entretanto, dois amigos – daqueles que, coitados, também como eu, obedecem a apertadas agendas melómanas – contactaram-me para saberem pormenores, pedindo um programa detalhado. O que fazer?
Hoje, dia 3, em vez de telefonar ao meu amigo Mário João Machado que, sem qualquer dúvida, me daria toda a informação, resolvi agir como qualquer interessado que não tivesse essa hipótese de contacto. Cerca das três da tarde, dirigi-me ao balcão do hall do Centro Cultural Olga Cadaval. Mas ninguém havia que me pudesse elucidar e não seria do amabilíssimo segurança de serviço que eu esperaria a almejada informação. E confirmei que não havia qualquer programa em suporte papel. Nada, nem um desdobrável, nem um simples folheto.
Não protestei. Não procurei outra fonte, não pedi para ser atendido por alguém responsável. Estava numa óptima e não queria estragar o bom humor. Voltei a casa. Resolvi fazer mais uma tentativa. Disquei o número do telefone do CCOC. Sugeriram-me que fosse ao sítio do próprio CCOC. Muito grato, segui a sugestão. De facto, na agenda, entre outros eventos que nada têm a ver com o Festival de Sintra, lá aparece também a informação referente ao que me interessava.
Mas, vamos lá ver. Serei eu completamente desprovido ou terei alguma ponta de razão quando manifesto a perplexidade que vos dou conta? Então, para aceder ao programa do festival eu tenho de consultar o sítio do CCOC? Com base em que lógica? Por se tratar do edifício onde funciona o auditório mais conhecido, onde alguns eventos têm lugar? Mas porquê, se também há uma série de outros em quintas e palácios que distam alguns quilómetros… Nesse caso, provável e igualmente, a remota designação de Sintraquorum, empresa municipal, será outro sítio para aceder à informação. Ou seja, tudo menos Festival de Sintra 2010… Valha-nos Deus!
Não, isto não é normal. E, claro que não havendo, até parece intenção de dificultar. Pois, pelo contrário, aqui mesmo ao lado, se quiserem confirmar como tudo é fácil, no que respeita ao Festival do Estoril, acedam à informação pertinente. Façam a experiência e, muito naturalmente, entrem por Festival do Estoril 2010. É lógico! Trata-se de uma iniciativa de altíssima qualidade que, neste momento, já está totalmente divulgada, com todos os pormenores. Enfim, Sintra, ou mais do mesmo e Cascais no seu melhor…
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* Vd. textos sobre assunto neste blogue
4 comentários:
Meu Caro João,
Quando referes "(...)dois amigos com apertadas agendas melómanas(...", de certeza, um sou eu que realmente te pedi a informação e o outro deve ser o JJ Arroz. De facto, só te pedi o programa para ver se não perco o Sokolov. Nem a Engerer que está «passada» nem os outros me interessam particularmente.
Cheguei a um ponto que só me desloco para ver e ouvir o que é excepcional.
O que escreves acerca da organização, da falta dos programas a dias do início, etc não me espanta.
Sintra deu nisto, nada ahá a fazer.
Obrigado pelo esforço e pela tentativa.
Olha João, mesmo com o Sokolov, o festival de Sintra já está em coma sem retorno...
Abraço
Eduardo Alves
João e Eduardo,
Acabo de ver publicadom o comentário do Eduardo em que se referia a mim. Tem razão na presunção.
Na realidade também fui eu que pedi um "programazinho" para poder orientar a minha "vidinha".
Como sabem, moro na Parede que é Cascais. É outra coisa... O Festival do Estoril tem tudo em ordem.
Sabe-se tudo a tempo e horas e a qualidade é excelente. Este ano até vem o fabuloso e mítico Hopkinson Smith.
Sintra já foi, em todos os aspectos. Nem sei como têm coragem de continuar a aparecer.
Está bem, o Sokolov e os outros que o João refere. Mas se continua a história dos contrapontos e não sei que mais,
o festival de Sintra permanece na fancaria ordinária que esses contrapontos trouxeram a algo que até era em muitos aspectos excepcional.
Passem bem e o João que não se preocupe tanto com o festival de Sintra. Não vale a pena.
Coitado, como mora mesmo em frente ao Olga Cadaval deve sentir o problema de maneira diferente de nós...
Abraço aos dois
José João Marques Simões Arroz
Confirmo. Também já dei alguns passos para arranjar o programa e não se consegue nada. "Não, não é normal..." como escreve o Dr. Cachado. Ísto é incompetência. O pior é não haver quem chame os responsáveis à ordem.
Ninguém imaginava que o Festival De Sintra caísse desta maneira.
Carlos Jorge
Caro colega,
Dr. Cachado,
Já ninguém acredita no festival
de Sintra. Por outro lado, o Festival do Estoril há décadas
que se afirma e ultrapassa Sintra. O seu director
artístico também já esteve
ao serviço do Festival de Sintra mas deve ter-se fartado da incompetência que o Cachado tem denunciado com provas tão abundantes.
Vivo em Birre, Cascais,
há muitos anos vou ao Festival
de Sintra mas, infelizmente, deixou de ser uma «festa», agora é uma pobreza e Estoril cada vez está melhor.
É altura dos sintrenses
virem ao Estoril ouvir boa mísica. Este ano até temos Hopkinson Smith. Outra coisa,
finalmente: a grande diferença entre o festival do Estoril e o festival de Sintra é a mesma
que entre António Capucho e Fernando Seara: enquanto
Capucho é um senhor distinto o Seara é o careca do Benfica... Está tudo dito...
Pedro Soares Reis
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