[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Governar em Portugal…

No começo de um ano lectivo que se prevê bastante animado, espero bem que os decisores políticos que tutelam o Sistema Educativo nacional sejam tocados pela necessidade de moderarem as suas expectativas. De uma vez por todas, imperioso se revela que assumam a realidade sociocultural portuguesa, deixando-se da veleidade de que o nosso é um país médio da União Europeia.

Em particular, muito bom seria que se coibissem do exercício de relações perfeitamente disparatadas, quando não caricatas, com o que se passa em países cujos agentes e actores dos respectivos sistemas educativos nada têm ou muito pouco apresentam de relacionável com o nosso.

O caso mais flagrante de dislate institucional tem acontecido com o atrevimento de se equacionarem medidas afins de resultados manifestamente positivos em enquadramentos finlandeses…

Apenas um exemplo. Tem Portugal um problema relacionado com a elevada percentagem de retenções? Mas porquê tanta preocupação? Faça-se como na Finlândia, meus senhores, imitem-se os bons exemplos. É só analisar as estratégias, adoptá-las, procedendo às devidas adaptações…

Todos nós temos assistido a este abusivo e escandaloso tipo de abordagem. É uma questão seríssima do nosso sistema que, de modo algum, se pode articular com a realidade finlandesa em particular ou sequer com a escandinava em geral. Mesmo que fosse possível adoptar e adaptar o complexo dispositivo nórdico, restaria sempre o pequeno problema do enquadramento familiar e social das crianças e jovens portugueses...

Já pensaram os responsáveis portugueses na distância incomensurável que separa a família média finlandesa da sua congénere portuguesa? Têm em consideração os nossos dirigentes que, na Finlândia, ao deparar-se com o problema de apoio a um estudante em dificuldades, tal circunstância tem contornos específicos, também relacionados com os altos índices do nível e qualidade de vida do país na sua globalidade?

Num país onde não há analfabetismo, em que são elevados os níveis de escolarização dos cidadãos, com hábitos de consumo cultural excepcionais, a estratégia para obviar os chumbos dos meninos não é exportável para Portugal onde a iliteracia, o analfabetismo funcional e pleno têm contornos insuportáveis em termos europeus.


Haja decoro! Acabemos com estas manobras para deslumbrar papalvos.





7 comentários:

Carlos Faria disse...

O João Cachado pede decoro a estes políticos de baixo nível? Isso é a mesma coisa que pedir a um cego que leia o sermão da Montanha. Os nossos governantes como desconhecem o país, acham que podem adaptar soluções hoje da Finlândia, amanhã da Alemanha, etc. no campo da educação e noutros.
Concordo consigo mas isto não é questão que dê discussão. A maior parte das pessoas nem percebe a preocupação do Cachado. Abraço,
Carlos Faria

Anónimo disse...

Mas a Isabel Alçada não é sua amiga? Há um post publicado neste blogue em que o Dr. Cachado escreve acerca disso. Agora já não presta?

Anónimo disse...

Infelizmente, o M.E. tem sido ao longo de décadas um laboratório de experiências de metodologias pedagógicas, também uma arena onde se degladiam egos. Mas também é verdade que este povo não ajuda nada. Exige-se o impossivel, julgando viver-se num país que não é este. Mina a educação dos nossos jovens, o partidarismo, os maus técnicos, alguns maus professores, os pais de muita criança "mal-educada" e também o pervertido jornalismo que nada ajuda nesse sector, apenas tirando proveito para a guerra de audiências. Nestes ultimos tempos, só me lembro um ano lectivo que teve o seu inicio comprometido e que de facto não começou atempadamente por causa dos politicos. Tal sucedeu durante o "reinado" "Durão/Santana Lopes". A memória é curta! Adelino Santos

Anónimo disse...

Anda a opinião publica a reboque dos telejornais. A suposta isenção das TVI's e SIC's é pura cosmética!

Anónimo disse...

Isto é na educação. Mas já viu o que aconteceu hoje com o TGV? Alguém se entende com estes ministros que um dia dizem uma coisa e noutro o contrário, chefiados por um tipo sem qualquer nível... Governar em Portugal é isto e ainda dizem com uma grande preocupação de manter o estado social. Como estamos à beira da tragédia não dá para rir.

Pedro Soares disse...

João Cachado,

O que ainda nos vale é a saúde. E como não é mau, o PSD está desejoso de acabar com o Serviço Nacional de Saúde. A saúde deve ser o único sector do Estado que se pode comparar com o que se passa no estrangeiro.

Pedro Soares

Anónimo disse...

Satisfaz-me bastante esta nova posição do governo acerca do TGV. Acho necessário, o TGV, mas a conjuntura deste exacto momento impossibilita-o, e a conjuntura deste exacto momento não é a mesma de alguns meses atrás. Por isso não vejo incongruência da parte do governo. A economia/finanças de um país é algo de complexo, não se trata aqui de se aplicar um modelo de gestão doméstica e generalizar a "coisa". Acredito que os PSD's vivam momentos de alguma ansiedade motivada pelo desejo de governar, mas não são santos, logo não fazem milagres. Paciência em relação à adversa conjuntura e firmeza em relação aos princípios do estado social parecem-me primordiais hoje para que possamos amanhã continuar a ser aquilo que foi sonhado e construido por homens como o António Arnaut. Fiat Lux