Silenciados ou insensíveis
“Se te portares bem, dou-te um rebuçado” promessa de Alice para calar políticos no Concelho das Maravilhas.
Devidamente organizados, uns três meses antes de actos eleitorais, é vê-los. Associações, clubes, instituições sociais, escolas, nada escapa a visitas, ao inventário dos problemas e carências, prometidas soluções. Tudo para a defesa dos nossos interesses – insisto, dos nossos – segundo nos fazem chegar.
Passadas as eleições, quaisquer que sejam os resultados, há sempre disponibilidade para integrarem aquele grupo de privilegiados que entram directamente para conselhos de administração, não descurando uns lugares noutras áreas, por vezes, com pompa, rotulados de assessores.
É a vida, as necessidades. Às malvas a prometida resposta aos mais profundos anseios populares...
Convergidos ou convertidos à dependência, dão assomos como prova de vida, com cuidadoso alarde porque, nestas coisas, é preciso contentar o benfeitor mas mostrar independência aos eleitores. E por aí ficamos, mesmo que nos deparemos com as mais indignas vicissitudes.
A morte de duas senhoras em Belas e a rocambolesca história do seu processo judicial, ou os jovens que, à falta de prometidas piscinas, encontraram o fim das suas vidas em lagoas improvisadas, apagaram-se na esponja do tempo, marcando muitos políticos cujo distanciamento ajudou ao silêncio.
O falhanço das políticas de desenvolvimento (falava-se em sustentado...), a patusca campanha para o romantismo turístico, o aproveitamento empolado das dificuldades sociais para fins de imagem política, não têm justificado a respectiva denúncia.
Sintra realmente cresce na sujidade, mas a falta de sensibilidade para o efeito justificará que não ocorram manifestações para o evitar. A qualidade de vida tem piorado porque, em vez da evolução, confrontamo-nos com o retrocesso.
Na componente histórica, a salvaguarda do riquíssimo património é um campo onde a sensibilidade não campeia, mais parecendo que existe uma cumplicidade com os atentados, não nos devendo esquecer da famigerada construção em Vale dos Anjos, da destruição do tanque ou do desaforo que foi a interdição de acesso dos munícipes aos jardins de Seteais.
Agora, como se não bastasse, passou a haver um parque de caravanismo em pleno Centro Histórico. Nem uma palavra sobre tal ofensa. Nada. Como se a proximidade de uma zona classificada pela Unesco como Património Cultural da Humanidade não merecesse respeito.
No âmbito da vivência cultural, a carência de bibliotecas públicas, ano após ano, passa despercebida.
O panorama que se vive em Sintra reflecte a oferta de lugares, de cargos, de benesses.
Lembrem-se meus amigos, três meses antes das próximas eleições, eles andarão por aí. A ouvir os nossos problemas, fingindo nada terem a ver com a situação que vivemos.
Fernando Castelo
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