[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sintra… quê?
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Continuo o assunto que, nestas páginas, tem dominado as últimas intervenções. E, de acordo com o compromisso anterior, aqui trago uma questão relativa a outra empresa municipal. Infelizmente, o facto de, nos últimos dez anos, já a ter abordado vezes sem conta, tanto neste blogue como no saudoso Jornal de Sintra, não contribuiu para a sua resolução. É relativa à SintraQuorum e não tenho a mínima dúvida em afirmar ser um seríssimo problema de estacionamento, dos mais graves da sede do concelho.

A partir de um imóvel a vários títulos degradado e vítima de incêndio, cujas estruturas e proposta estética geral inicial tinham a dignidade de um projecto assinado por Norte Júnior, um dos mais prestigiados arquitectos portugueses do século vinte, o executivo municipal liderado por Edite Estrela, dotou Sintra de um complexo de instalações que, muito justamente, constituem um dos seus orgulhos, ou seja, o Centro Cultural Olga Cadaval, em honra da mecenas que não poderia ter sido escolhida com maior justeza e inequívoca pertinência.

De cine teatro de âmbito local, onde, durante décadas, se acedeu sem quaisquer problemas, fosse a pé, em transporte público ou em viatura própria, passou-se à dimensão de algo cuja polivalência residual permite a realização de congressos, seminários ou simpósios bem como, naturalmente, a promoção das mais diversas iniciativas de índole performativa.

No entanto, aquele que se transformou num edifício que até poderíamos considerar interessante – não fora a atrocidade do pórtico desconforme, adossado à fachada da construção primitiva – acabaria por se revelar uma inequívoca fonte de problemas de solução nada fácil no domínio do estacionamento.

Afinal, tudo resulta da sua implantação em malha urbana sem que, oportuna e tão naturalmente quanto o exigem as normas de segurança de pessoas e bens em latitudes civilizadas, se tivesse pensado na resolução das várias questões relativas ao parqueamento das centenas de viaturas dos interessados que demandam o local e as imediações em dias e noites de eventos.

Deixo a questão do encravamento do edifício, praticamente sem capacidade de manobra nas traseiras, sem uma adequada plataforma de encosto ao nível do estrado dos camions, que permita a expedita saída e entrada de mercadorias, circunstância que, de uma penada, acabou por inviabilizar uma vertente da rentabilização financeira.

De facto, assim acontecendo, é impraticável a recepção de produções de espectáculos que circulam pela Europa a bons preços. Não há espaço para os grandes TIR acederem, encostarem, etc. Parece impossível mas é verdade. Quando a obra ainda decorria e me apercebi do que iria acontecer, alertei para o facto. Mas ninguém me ouviu, acabando por ficar prejudicada a própria vocação do edifício.

O caso do dia

Por fim, o que mais me interessa focar é, pois claro, o problema do estacionamento que, escandalosamente, desde a inauguração há dez anos, continua por resolver. Não há que ter receio das palavras. É inadmissível! Tendo nascido para agilizar a gestão, face aos constrangimentos provocados pelos circuitos da administração pública, causa revolta que, tanto tempo passado, ainda não tenha sido possível concretizar a solução alternativa ao caos que, habitualmente, ali se instala.

Actualmente, a coisa suscita maior perplexidade já que o Presidente do Conselho de Administração da SintraQuorum é o próprio Presidente da Câmara Municipal de Sintra, alguém que não poderia estar mais bem colocado no sentido de promover a actuação integrada das forças da ordem em articulação com a SintraQuorum e Emes. É incrível como não tem sido possível concretizar algo que não é particularmente sofisticado.

A propósito, convém-me recorrer a alguns parágrafos do texto aqui publicado no passado dia 18 do corrente que passo a transcrever:

“(…) Como tenho tido oportunidade de demonstrar, neste específico caso das imediações do CCOC, transformadas em terreno de intervenção prioritária quando há espectáculos, até há alternativa. Pressupõe a intervenção articulada das forças de segurança, Câmara Municipal de Sintra e empresas municipais Emes e SintraQuorum. Por favor, entendam-se!

A propósito, não posso deixar de recordar que tenho uma carta em meu poder, assinada pelo Chefe do Gabinete do Senhor Presidente da CMS em 14 de Março de 2006, através da qual fui informado de que o Senhor Vereador Luís Duque tinha sido incumbido desta missão de coordenação afim da solução constante do parágrafo seguinte. Sublinho, em 14 de Março de 2006.

De facto, o parque de estacionamento adjacente ao Departamento de Urbanismo, fica a escassos três minutos a pé. Para o efeito da sua sistemática e imperiosa utilização, basta informar devidamente – por exemplo, também através de indicações nos próprios bilhetes, avisos na comunicação social, placares de sinalização, etc – e encaminhar os condutores para o local onde, civilizadamente, poderão deixar as suas viaturas. Esperemos que, desta vez, o
Senhor Vereador seja mais lesto para que o resultado não demore outros quatro anos...

Estão em jogo princípios de gestão que se perspectivam sistemicamente, num quadro de actuação tão caro ao Senhor Presidente da Câmara. Estamos em presença de valores tão evidentes como a segurança de pessoas e de bens e a qualidade de vida de munícipes que, directa e indirectamente, fazem chegar aos cofres municipais os recursos bastantes que proporcionem a resolução do assunto. Continuar o statu quo, fazendo ouvidos moucos à razão, constitui manifesta declaração de incompetência pessoal e institucional de todos os envolvidos.

Tem-se olhado para este como se fosse um caso de somenos. De modo algum o é! A propósito do acesso à Regaleira, também já o escrevi, e repito, que o próprio modo como se acede ao local onde é suposto assistir a uma qualquer oferta cultural, já é, em si, um acto cultural. Dificilmente se aceita que, não entendendo este princípio, se possa dirigir, administrar ou gerir equipamentos culturais como os que estão em presença.

Enfim, ele há gente para tudo e até para conviver com um quadro de referência que, tão degradantemente, se lhe cola à pele. Mais uma vez, espero que haja a decência de resolver a contento. Independentemente da prova de estar esgotado o estatuto de empresa municipal e do piedoso dever se lhe rezar por alma, impõe-se que, no caso vertente, as duas ainda EM e as restantes entidades não nos envergonhem por mais tempo.

[SintraQuorum continua]




9 comentários:

Pedro Soares disse...

Como o Dr Cachado informa que continua fico a aguardar que escreva sobre a quebra de qualidade do Festival de Sintra em relação ao tempo em que era trabalho da Câmara. Não é só nos serviços de limpeza que houve quebra de qualidade. No festival é mesmo um dó.

Pedro Soares

Raquel Lopes disse...

As empresas municipais são
um poço sem fundo cheio de lixo que é preciso pôr a descoberto.
O lixo chama-se incompetência, compadrio, despesismo,
um total desrespeito pelo dinheiro dos cidadãos.
Em Sintra e por todo o país,
acabar com as empresas
municipais é ceifar uma boa
percentagem da despesa
do país que não serve a ninguém.

Raquel Lopes

Teles Roque disse...

A única coisa que podia preocupar é o desemprego como resultado do fecho das empresas municipais. Como os antigos funcionários voltam às câmaras não
há problema. Os outros são compadres e comadres,
sobrinhos e afilhados que
arranjam trabalho com o cartãozinho do partido
ou através dos padrinhos.
Teles Roque

Anónimo disse...

Então e o que se faz dos trabalhadores que verdadeiramente trabalham mas que não são nem nunca foram funcionários da CMS, não são afilhados, nem sobrinhos, nem enlaçados em qualquer outro tipo de compadrio, que não têm nem querem cartão do partido A,B ou C ? E as carreiras dessa gente? Mais uma vez a cegueira habitual, resultando na injustiça para com quem trabalha e tem valor e na falta de justiça para com aqueles que deviam ser chamados à responsabilidade dos seus actos.

Anónimo disse...

O que me parece extraordinário aqui em Sintra são as tomadas de posição antagónicas da CMS. Por exemplo, a autarquia está envolvida na gestão tanto da Regaleira como de Monserrate e o modelo de exploração turistico cultural não podia ser mais diferente. Em Monserrate temos o rigor, a contenção e a protecção do património e ao contrário, na Regaleira temos o descalabro, são as maçanetas das portas do palácio levadas pelos visitantes, a enorme quantidade de gente que livremente para não dizer caoticamente por lá circula e por aí em diante. Não se entende, onde está a coerência, ou melhor onde é que está a politica de protecção do património monumental em Sintra?

Carla Soares disse...

Estou horrorizada: segundo o autor anónimo do comentário anterior há visitantes a levarem consigo as maçanetas das portas do Palácio da Quinta da Regaleira. Há gente capaz de tudo e também "responsáveis" que deviam ser postos na rua por não tomarem medidas impedindo tal roubo do
nosso património.
Tem toda a razão o João Cachado. A Regaleira também é uma "fundação" da treta que deve acabar para recuperar certa saúde
das finanças e dignidade municipal.
Carla Soares

Anónimo disse...

A Regaleira é gerida por uma fundação que financeiramente é auto-sustentável, logo não há motivo para a sua extinção! O que realmente se tem passado na Regaleira é uma péssima gestão do espaço, criminosa até! Daí passar-se à sua extinção é um absurdo! Não se deveria simplesmente e de modo exemplar chamar à responsabilidade os "gestores" da Regaleira? Mas que modelo de justiça reclamam aqui estes comentadores? Reclamam um fim que garante a impunidade dos responsáveis da asneira, porque no barulho saem de cena e rapidamente são esquecidos! Generalizar é muito fácil e facilita a vida a alguns!

Anónimo disse...

Isto é incrível, manda-se a malta que trabalha para o desemprego só para não se incomodar os "senhores". Natalia Sales Gomes

Anónimo disse...

Na Regaleira é praxis recorrente a politica sempre util do "para inglês ver". Engana-se o poder politico também com "bolos" e porque este politico, o autarca é bem tolo, por ali fazem-lhe o "bolo" à sua medida.