[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Promessas ou abusos?

Ainda com o penúltimo Jornal da Região nas mãos, não pude deixar de confirmar como, para além de magoarem quando não cumpridas, as promessas podem ser tão desgastantes, mesmo perniciosas. As promessas. Tantas vezes, tão pouco consistentes são, que até uma suave brisa, as leva… Coisa avisada será desconfiar de promessas. E tanto mais assim deverá acontecer quanto – e quando… – se trate de promessas feitas por políticos, quer em campanha eleitoral quer já no exercício dos respectivos mandatos.

Portanto, de promessas aos sintrenses são estas linhas, suscitadas pela leitura das páginas centrais do semanário acima referido. Já de seguida, lembrarei duas que foram expressas, atiradas para o ar, não afirmarei com o firme, premeditado e decidido propósito de não cumprir mas, isso sim, com uma ligeireza que, de modo algum, convém a um político com as pretensões de Fernando Seara.


Tenham os leitores em consideração o facto de aqueles compromissos se relacionarem com domínios em que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra se movimenta particularmente bem. Já começaram a deduzir, e muito bem, que têm a ver com futebol e comunicação social audiovisual. É um oceano em cujas águas, como autêntico peixe, ele nada como nenhum outro decisor político eleito. Por outro lado, assim acontecendo, muito maior credibilidade revestiram tais promessas já que o promitente vendedor é um verdadeiro perito.

A bola e os ecrans

Basta de preâmbulo, passemos aos casos concretos. Primeiramente, vendeu a promessa da Casa das Selecções. Sim, num projecto tão afim do futebol, quem duvidaria da sua capacidade de decisão e de concretização? Corroborando esta evidência, não o viram pedir aos potenciais eleitores que, na altura de votarem, se lembrassem do careca do Benfica – não do político do PSD, não do homem de Direito, não do Professor da Universidade Católica – mas, isso sim, daquilo que, definitivamente, decidiria a sua eleição, ou seja, o facto de aparecer mediaticamente indissociável do futebol?

Uns anos mais tarde, foi a Cidade do Cinema. Envolvidos estavam a TVI, os espanhóis da Prisa, muitos milhões a investir, milhares de postos de trabalho em perspectiva. Era o sonho? Depende do ponto de vista. É que, entretanto, alcavalado pela afectação ao regime PIN, com a previsão mais que certa de um crime ecológico a reboque, o projecto, que jamais passaria de coisa perfeitamente virtual, já deixara a dimensão de sonho para se revelar mais como pesadelo…

Sintomaticamente, ambas as promessas tinham um mesmo pano de fundo, o ambiente tranquilo, por vezes até impoluto, ainda caracterizado por certos aspectos de ruralidade muito marcada da Freguesia de Almargem do Bispo. Assim, de repente, quebrar-se-ia o sossego de décadas, que nem a Fábrica Portugal nem a Motra-Siemens, vanguarda da industrialização local da segunda metade do século passado, tinham conseguido pôr em causa?

Estava mesmo a ver-se que, pela mão de Seara & Cª, os arredores do Sabugo seriam transformados, por um lado, na Meca da formação nacional do desporto do pontapé na bola e, por outro, num misto de Hollywood e Globo lusitana… Chega a ser perverso o atrevimento de acenar com estas oportunidades ou janelas de desenvolvimento (??) que, afinal, não passam de promessas sem qualquer hipótese de concretização. Melhor seria designá-las como mentiras a prazo. Ou flagrantes abusos. Porém, neste contexto, qual mestre de prestidigitação, durante uns anos, o edil sempre vai encontrando quem se deixe embalar com cantos de sereia…

Mudança de paradigma

Coisa nada bonita é o público abuso da credulidade alheia para obtenção de dividendos políticos. À modesta escala da minha capacidade de intervenção, não me cansarei de apontar os manifestos mais evidentes dessa atitude que, entre outros prejuízos, é tão inconveniente à promoção da cidadania. A propósito, se nisso não virem incómodo de maior, acedam ao artigo aqui publicado em 4 de Dezembro de 2008, subordinado ao título Mais poeira para os olhos?..., através do qual poderão verificar como, já há dois anos, denunciava eu o que não podia calar.


Ainda acerca deste assunto, não percam a leitura das palavras de Rui Maximiano, Presidente da Junta de Freguesia de Almargem, objecto de abundantes citações no artigo assinado por João Carlos Sebastião que referi inicialmente. Leiam e percebam, nas linhas e entrelinhas, a desilusão, a descrença e a habituação do autarca ao esfumar dos projectos.


Provavelmente, não seria descabida a abordagem de outros filmes. Como o do Hospital de Sintra. Ou, ainda, o do pólo da Universidade Católica. E o da instalação de uma piscina em cada freguesia? Talvez o da construção de dezenas de quilómetros de ciclovias. Se valerá a pena, é a pergunta que colocam os mais lúcidos que vão esmorecendo cansados da luta.


Não tenho a mais pequena dúvida de que vale a pena. Mas enquanto os cidadãos, particularmente os jovens, se mantiverem alheios, enquanto os partidos da oposição não se mobilizarem para a sistemática e consequente denúncia destas situações, não se vai construindo a possibilidade de concretizar a mudança.


Ainda não terão percebido que, também neste domínio, preciso é que se altere o paradigma da intervenção cívica? Provavelmente, obedecendo a cartilhas completamente obsoletas, os estrategas dos partidos ainda estarão à espera da próxima campanha eleitoral para aplicação das receitas requentadas do costume. Enfim, que remédio senão confiar na renovação da classe política…

PS

Por favor, entendam que, embora compreendendo a desilusão do Presidente da Junta, não posso estar mais satisfeito por não se concretizar o projecto da Cidade do Cinema. De facto, as características anunciadas, nomeadamente no âmbito do ambiente, eram altamente lesivas de outros interesses verdadeiramente prevalecentes.


Quanto à Casa das Selecções, seria de esperar que a inserção de Fernando Seara no mundo futebolístico fosse absolutamente determinante do sucesso da iniciativa prometida. No entanto, contrariamente a todas as expectativas, nem num terreno que lhe é tão propício, o Presidente da Câmara foi capaz de levar a obra por diante.

8 comentários:

João Neves disse...

Fernando Seara só concretiza o que é fácil. Mas como Sintra não é fácil vê-se o resultado: paralização e asneiras por todo o lado. As promessas são fáceis e enquanto não se percebe que foi tudo mentira ele vai gozando
com a boa vontade dos eleitores.
É um grande actor.

João Neves

Anónimo disse...

Parabéns por esta cirurgica e clarificadora exposição. Fernando Seara não serve nem nunca serviu Sintra, trouxe com ele gente que só tem como real interesse servir-se. Vejam o caso do Duque e a Quinta do Relógio, a "maluquinha" e o "arquitecto" da Regaleira, aquele ex-vereador da cultura, o sr.cardoso martins, o outro que metia ao bolso na Sintraquoron, as empresas municipais que têm proporcionalmente um numero anormal de "chefes", a aquisição da Vila Sasseti para nada depois se fazer, a anedota do projecto Sintra capital do Romantismo, como calou a esquerda dando-lhes tacho( o SMAS). O rol parece não ter fim.

Rosa Peres disse...

O comentário anterior dá a entender que o Duque tem qualquer coisa relacionada com o negócio da Quinta do Relógio. Gostava que alguém possa esclarecer.
Rosa Peres

José Farinha disse...

Caro Dr. João Cachado,

EStá óptimo. O Dr Seara se pensa que não é apanhado nas suas falsidades está muito enganado. Ele pode julgar que engana mas as pessoas entendem as manobras e ir no terceiro mandato não significa nada que é um bom presidente. O atraso, a preparação escolar muito baixa, a falta de conhecimentos explicam como estes autarcas ficam muitos anos à frente das câmaras.
José Farinha

Pedro Távares disse...

Caro Dr. J. Cachado
Quanto à Casa das Selecções:
1. Se estivesse a funcionar, quase de certeza que a selecção nacional tinha melhor prerparação, não havia aquele episódio do controlo do xixi na Covilhã e os resultados muito diferentes para melhor.
2. Portanto, o Seara ainda é o culpado de tudo o que aconteceu de pior à selecção.
3. Agora percebe-se a vontade do Seara ir para a Federação: é para compensar... Como presidente da Federação vai concretizar o projecto da Casa das Selecções para dar muitas alegrias ao povo.

Quanto à Cidade do Cinema:
Nada a fazer. A promessa foi só para proveito dele: foi assim que conseguiu a transferência para a TVI...
Se não levar a coisa para o sorriso ainda fico tão deprimido como o presidente da Junta de Almargem.
Pedro Távares

Anónimo disse...

À gestão do Dr. Seara eu chamo conjunto de aldrabices para enganar tolos. Disse muito bem o João Cachado, as promessas dele são mentiras a prazo porque enquanto o pau vai e vem, folgam as costas... Anda a empatar e a ganhar tempo Há dez anos. Vá para a Federação do futebol pois lá deve fazer trabalho de alguma qualidade, coisa que aqui nunca se viu.
Custódio

Celeste Simões disse...

Caro Dr. João Cachado,
O que ele tem é uma lata enorme. O Dr. Cachado tem denunciado as promessas, mentiras,adiamentos, aproveitamentos(fome nas escolas), despesismo (empresas municipais), desperdício de instalações (auditórios do Centro Olga Cadaval, Quinta da Ribafria), loucuras de endividamento (compra da Quinta do Relógio) e já vai em 10 anos de ruína sem qualquer investimento significativo.
Sintra nunca esteve tão parada.
Tem sido um tempo perdido.
O Dr. Seara fica na história de Sintra como o presidente
mais inactivo.
Mas foi o que mais apareceu nas televisões.
Celeste Simões

António Madeira disse...

Olá João Cachado,
Claro que estou de acordo consigo. Mas acho que não há política nem políticos sem estas promessas baratas.
De outro modo não tinha graça nenhuma. Em última análise se o Seara e os outros não fossem
assim, acabavam nos altares, como santos de pau carunchoso.
António Madeira