[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cavaco, fariseu
apanhado em campanha
Alegre


Decidi suspender a continuação do texto precedente, apenas por mais dois ou três dias, em função da premência com que me sinto interpelado pela questão das acções do BPN, oportunamente detidas e posteriormente vendidas pelo candidato às eleições presidenciais Prof. Aníbal Cavaco Silva.

Quando, em determinada altura do passado recente, e também já em período de pré campanha eleitoral, o actual Presidente da República deu a entender que, todos quantos tivessem dúvidas relativamente à questão em apreço, mais não tinham que fazer senão consultar a sua declaração de rendimentos, logo confirmei o que sempre tive como certo, ou seja, que o apregoado catolicismo do candidato mais se confunde com manifesto farisaísmo.


De facto, ninguém duvidará que o Senhor Prof. Cavaco Silva terá cumprido com todas as determinações que impendem sobre os detentores de cargos públicos. Em termos legais, tal como acontecia com o fariseu que observava escrupulosamente a letra da lei, nada deverá ter escapado, tudo estará irrepreensível. No entanto, para quem, tão radicalmente, confessa um apego cego às virtudes da dignidade e da honestidade, o que se impõe é a cabal demonstração de que à legalidade invocada, subjaz uma prática inequívoca daquelas mesmas virtudes.


Em 2001, este docente universitário, decidiu investir algumas economias em acções de uma entidade cujo Presidente do Conselho de Administração, o Dr. Oliveira Costa, era seu amigo pessoal e, inclusive, por muitos considerado como um produto daquilo que passou a designar-se como cavaquismo.


É do conhecimento geral que o sucesso do investimento foi de tal ordem que o rendimento das tais acções, ao portador, transaccionadas fora do mercado bolsista, ultrapassou tudo quanto imaginar se possa. Cento e quarenta por cento! Vejamos o que consegui apurar num documento subscrito pelo advogado Arnaldo Homem Rebelo, da Associação de Lesados do BPN que, em determinado parágrafo, refere o que o Expresso online anteriormente publicara, portanto, já do domínio público:


“(…) Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em cartas separadas, endereçadas ao então presidente da SLN (…) Ou seja, Oliveira Costa praticamente ofereceu de mão beijada 72 mil contos de mais-valias à família Cavaco (…) Que terá acontecido entre 2001 e 2003 para as acções de uma empresa que andava a ser importunada pelo Banco de Portugal terem «valorizado» 140%? (...) Terá tido [Cavaco Silva] algum palpite, vindo do interior do universo da SLN, só amigos e correligionários, para que vendesse, antes que a coisa fosse por água abaixo? (…) Como fixou a SLN Valor o preço de compra com uma taxa de lucro bruto para o vendedor de 140% em dois anos, a lembrar as taxas praticadas pela banqueira do povo D. Branca? (…)”

Entre as muitas questões que poderia suscitar a propósito deste assunto, uma avulta com especial acuidade. Prende-se ela com a própria profissão do candidato que, além de economista, é professor de finanças, portanto, da mesma área científica e, naturalmente, também com a sua condição de católico praticante, como faz questão de assumir publicamente.

O que parece – e parecerá até que o visado se explique sem margem para quaisquer dúvidas – é que o crente Cavaco Silva, perfeito conhecedor de todos os meandros dos negócios de aquisição e venda de acções de empresas, dentro e fora do mercado bolsista, conseguiu destacar-se a si próprio desta dupla perspectiva profissional. Assim, aparentemente, repito, passa de cristão católico à posição do vulgar oportunista, que se aproveita de informação privilegiada, sacando o que pôde num mercado ausente de moral…


Vendilhão ou vendedor

A César o que é de César e a Deus o que é de Deus, ao contrário do que poderá entender-se a partir de certa interpretação reducionista das próprias palavras de Jesus Cristo no Evangelho [Mateus, 22, 15-22], jamais significaria e, muito menos, neste caso, que, depois da transacção, bastaria entregar a declaração de rendimentos e o imposto ao fisco, i.e., a César/Estado, para que a outra perspectiva da dicotomia, a de Deus, tivesse sido cumulativamente respeitada.


Como qualquer comum cidadão e político – na acepção etimológica de politikos, homem da polis, da cidade – Cavaco Silva cumpriu o dever a que está condicionado pela res publica, a coisa publica, ou seja, pelo facto de viver em República, ele que é o seu supremo magistrado e mais destacado representante. Contudo, a menos que nos convença definitivamente do contrário, ter-se-á aproveitado, em benefício próprio, das subtilezas perversas do mundo da economia.


Ora bem, se assim, efectivamente, tiver acontecido, então terá posto em causa os valores da própria democracia, que impedem seja quem for de prejudicar o interesse geral para apropriação de benefício individual. Para que nos mantenhamos no registo das considerações que interessam à economia deste texto, importa lembrar que, aparentemente, e, até demonstração em contrário, Cavaco Silva terá usado de informação privilegiada para sua própria vantagem e da família.


Porém, como este mesmo cidadão se reclama do estrito cumprimento de valores que ultrapassam a condição material, remetendo-o para uma relação outra, com uma dimensão espiritual que, por outro lado, é exigentíssima na correspondência e observância estrita na prática da vida quotidiana, [o praticante, cristão católico é isto mesmo, doa a quem doer, incomode o que e quem tiver de incomodar…] então, para Cavaco Silva, a coisa seria ainda mais grave, porque transmitiria publicamente a imagem de alguém que não corresponde, em coerência e verdade, aos valores que apregoa.

Na sua persistência em não explicar o que lhe tem sido tão instantemente solicitado, o candidato permitirá que se interprete a sua atitude, no caso da compra e venda das acções em apreço, como coincidente com a dos vendilhões que Jesus Cristo, de chicote na mão, expulsou do templo [Marcos,11, 15,16,17]. É que, até definitivo esclarecimento, trata-se de um negócio mais de vendilhão do que simples vendedor

E, por favor, não esqueçamos que o negócio em que Cavaco Silva se terá envolvido faz parte daqueles que, manipulados por energúmenos, sem espalda substancial em valor efectivamente gerado, conduziram o BPN ao conhecido descalabro, à sua nacionalização, tida como necessária de acordo com o parecer do inerte Governador do Banco de Portugal, decisão do Governo e promulgação pelo Presidente da República, tudo num cúmulo de sucessivas polémicas a resultarem em milhares de milhões de euros que os contribuintes pagarão.

A acumulação de todos estes ingredientes carece de urgente explicação. Cavaco Silva foi eleito Presidente da República, para um primeiro mandato que agora termina, na sequência cronológica destes factos já então ocorridos. Tais factos, precisamente os mesmos factos, subsistem. Em vésperas de novo escrutínio ao qual se apresenta o mesmo candidato, impõe-se o conhecimento de todas as circunstâncias. Estou farto, estamos fartos de farisaísmo.


Não se trata de lana caprina ainda que a matéria sirva para vender comunicação social em barda. O que, de facto, está em causa é a própria dignidade da representação da nação e, jamais, que fique bem claro, o julgamento do carácter de alguém. Nada de confusões!




8 comentários:

João T. Ribeiro disse...

Caro Dr. Cachado,

Este é dos tais que se arma em virgem pura mas que tem uma vida de mulher de reputação duvidosa. O seu post é formidável porque desmonta o político e o católico. Eu voto na alternativa "alegre" que dá garantias suficientes de dignidade.
J. T. Ribeiro

Anónimo disse...

Viva Professor,

Escrevo usando termos dos Evangelhos: o candidato da direita porta-se como um fariseu mas fala como se fosse um publicano. É um falso e muito responsável pela situação que o país atravessa. O PR pode fazer muito mais do que ele tem feito. Num país como Portugal ainda é capaz de ganhar a eleição mas agora com a história das acções vai sofrer um grande desgaste e já deve ter que ir à segunda volta.

Anónimo disse...

Já era tempo de desmascarar este senhor com a sua capa de santinho.Ainda por cima não tem educação, come o bolo rei a mostrar a língua e os dentes e é tão piroso que até tinha uma casa no Algarve que se chamava Vivenda Mariani. O melhor é que se explique aos portugueses porque senão mesmo que fosse eleito era sempre um Presidente de asa ferida como disse o Manuel Alegre.
P. Ferro

Anónimo disse...

Segundo o jornal "O Expresso" o "Homem do Leme", aquele que nunca se engana e nunca nos engana(???), o sr. Silva Compro acções a 1 euro no momento em que outros accionistas as compravam pelo dobro. Quanto ao lucro que realizou com tal negócio só vejo como essencial a seguinte questão. Porquê! Porque é que o sr. Silva comprou acções mais baratas que outros, num mesmo periodo? Penso que se tratou do beneficio de informação privilegiada. Fariseu!

Raúl Saraiva disse...

O sucesso de um Cavaco Silva só é possível em Portugal. Mas não esquecer que os eleitores já lhe negaram uma vez a possibilidade de ser Presidente da República. Se Alegre continuar sereno talvez consiga ir à segunda volta e nesse caso fica tudo em aberto.
Raúl Saraiva

Anónimo disse...

O PSD há muito que não é um partido politico, desde o desaparecimento de Francisco Sá Carneiro que não se vê uma linha politica. A que havia esfumou-se. Com o cavaquismo, o PSD tornou-se algo dificil de definir, no inicio dos anos 90 foi um movimento atractivo que fez convergir elementos de diferentes sectores da sociedade, que na sua essência, entre si se identificavam, a materialidade! Por isso por lá ainda se vêem as mumias do antigo regime, os ladrões e ladrõezecos. os idiotas mediáticos, os "wannabe's", os fariseu e,e todo um rol de gente a quem não interessa discutir caminhos politicos para o interesse nacional mas sim fazer-nos governar pela "doutrina" economicista dos "mercados" financeiros. Por isso, o PSD não é hoje mais do que uma espécie de clube de fanfarrões à espera do retorno ao caldeirão. Claro que não estou cego, sei que gente desta encontramos noutros partidos, mas assim tanto?

José Loureiro disse...

Não batam mais no senhor, que é tão bom. Ele até é tão caladinho !...
- "Não comento", "não vou comentar", "sabe?, ele não merece resposta", "aqui não lhe vou responder a essa pergunta", "como presidente não me posso pronunciar sobre esse assunto" (pois não! tem é que fazer de conta), "assinei, mas não estou de acordo", "são todos uns desonestos", "sem mim, o país estaria muito pior" (Ok! já tínhamos morrido todos à fome).Obrigado "palhaço". Palhaço é só por causa das gracinhas dele. Esse gajo já nem precisa de uma estátua. Ele é a estátua!. Não fala, não mexe.

Anónimo disse...

O que esconde Cavaco:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PU7Aajs3sTQ