[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Seteais,
que espírito para o lugar?


A mais recente ofensa ao espírito do lugar em Seteais relaciona-se com a instalação de um picadeiro. Acerca do caso, já eu me referi no texto Setais, que desassossego… [II], aqui publicado em 21 de Novembro de 2010. Ainda desconheço se, mais uma vez, o facto se deve a agressão do Grupo Espírito Santo, concessionário do hotel, continuando a profícua atitude de desrespeito que tem caracterizado a sua intervenção no espaço exterior, habituado que está a impor a vontade sem que, na defesa do interesse da comunidade, as autoridades reajam ao seu manifesto poder.

Também poderá ter sido fruto da actividade de alguma entidade à qual tenha sido outorgada autorização para o efeito através de subconcessão. De qualquer modo, muito me custa verificar que a empresa de capitais públicos Parques de Sintra Monte da Lua, representante dos interesses do Estado na relação com o concessionário, ainda não se tenha pronunciado quanto a este caso que, tão manifestamente, é razão para a perplexidade que suscita a qualquer preocupado observador.

Desta vez, o desplante chegou ao ponto de implantar um pavilhão coberto com oleado branco, cuja volumetria, em articulação com a casa das máquinas e lixo circundante, a poucas dezenas de metros do palácio, chega a impedir o avistamento do edifício classificado, em determinado ângulo de visão, junto à curva da estrada. Depois da destruição do tanque e da descaracterização de um lugar que funcionava em coerência com todo um dispositivo de lazer, agora agride-se com a montagem de um negócio cujo impacte é tão significativo.

Afirmar e marcar a propriedade

Estou em crer que, tal como já afirmei e sugeri em devido tempo, se impõe que, sem mais delongas, o Estado desenvolva uma inequívoca atitude de afirmação de propriedade daquela Quinta de Seteais e, nomeadamente, daquele estupendo terreiro arrelvado. Tal espaço, entre a estrada e a fachada do palácio, tão caro ao povo de Sintra, é nosso, desde que, há mais de duzentos anos, assim foi determinado.

Sendo nosso, justo é que o usufruamos em plenitude, sem constrangimentos e sem que tenhamos de sujeitar-nos às ofensas de quem, tão somente, não passa de um negociante autorizado a explorar o hotel durante um determinado período. Urge afirmar a propriedade do Estado numa área que – deixai passar o recurso ao pleonasmo – não estamos dispostos a conceder ao concessionário.

Para o efeito, nada de melhor me ocorre que não seja a promoção de uma atitude facilitadora do acesso à memória do lugar, ao espírito que ali se vive e à interpretação da Beleza ali suscitada. É imperioso montar um dispositivo de manifesto interesse e recorte cultural que permita ao visitante, que não é nem pretende ser hóspede do hotel, uma especial e específica relação com aquele espaço tão simbólico da ecléctica e tão sui generis atmosfera sintrense.

É assim que me permito voltar a partilhar convosco a ideia de seleccionar um significativo conjunto de textos de vária índole, cuja articulação, lógica e coerência interna, sempre respeitando o tema das afinidades implícitas e explícitas com o lugar, permitisse um convívio cúmplice e enriquecedor a quem escutasse a sua leitura. Tal leitura, a concretizar através de montagem audio, com adequado enquadramento musical, seria acessível através de gravador com auscultadores, semelhante aos disponíveis para as visitas aos museus.

Tal como, desde o início me ocorreu, continuaria a propor que se solicitasse a leitura sugestiva de tais textos a Maria de Jesus Barroso, Maria Germana Tânger e Maria Almira Medina, três mulheres de cultura, inequivocamente relacionadas com Sintra. Resta-me esperar que, uma vez de acordo com esta proposta, os leitores possam intervir, na justa medida das suas possibilidades, para que o projecto se concretize no contexto das actividades da Parques de Sintra Monte da Lua.

Contactem a PSML, lembrem ao Prof. António Ressano Garcia Lamas, seu Presidente do Conselho de Administração, a conveniência de promover a afirmação da propriedade. Não é que ele não o saiba e não esteja sensibilizado. Mas, como sabem, a visibilidade da vossa atitude de defesa dos interesses que ali se jogam só pode acrescentar razão à causa.

5 comentários:

Anónimo disse...

BES=PSD=$$$=SEARA=0

Anónimo disse...

E AFINAL O QUE ESTÃO A FAZER NA SINTRA GARAGEM?

Mário Jorge disse...

Nós não estamos à altura das gentes que lutaram por Seteais, desde há dois séculos, passando pelo José Alfredo e até agora em que o João Cachado e poucos mais lá vão fazendo alguma coisa. É preciso fazer alguma coisa. Eu vou contactar o Prof. Lamas.
Mário Jorge

Anónimo disse...

A fórmula enunciada pelo 1 anónimo deve estar errada, pois toda a gente bem informada sabe que o BES (e todo o grupo envolvente)é o Banco do regime, leia-se, PS/Governo

Henrique Lopes disse...

Estimado Dr. João Cachado,
Sintra nunca sofreu tantas ofensas como agora. Lembro-me de se fazerem boas obras como na Correnteza nos anos 50. tenho visto muita coisa, obras mal feitas mas nada como agora. Assim como recordo o tempo do Craveiro Lopes, daqui a 50 0u 60anos haverá os que recordam o tempo da Edie e do Seara, das ofensas a Seteais, da capital do romantismo, dos moteis ordinários,do caos do trânsito e da falta de estacionamento, todo este horror. Dou-lhe os parabéns. É a primeira vez que faço comentário através do meu neto Ricardo que foi seu aluno.
O Dr. Cachado é dos poucos que se preocupam com Sintra mas também percebo que não ganha nada com isso. Tenho esperança que os mais novos acordem.
Henrique Lopes