[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Salzburg,
como chegar, onde ficar (1)

Várias pessoas me têm pedido para escrever sobre os festivais de Salzburg e acerca deste último do qual acabo de regressar. Também gostariam que contasse um pouco da história da cidade, da indissociável relação com Mozart, ao fim e ao cabo, matérias que tratei durante anos, enquanto mantive colaboração no saudoso Jornal de Sintra.


Ali assinei muitas páginas de crítica musical acerca do que ia acontecendo nos festivais. E sabem que era um caso único na imprensa portuguesa? Nenhum órgão da comunicação social escrita, além do Jornal de Sintra, durante anos sucessivos, teve enviado a Salzburg. E, como calculam, tratando-se de colaboração gratuita, o gosto que tive em produzi-la foi deveras especial porque, em Salzburg, só acontece a melhor música do mundo…

A verdade, se querem saber, é que há gente de Sintra que foi e vai a Salzburg na sequência da leitura desses meus textos. O facto de me ter visto compelido a deixar de colaborar naquele semanário e a adicional circunstância de ter notado alguns indícios de uma invejazita muito lusa e rasca, levaram-me a deixar de partilhar as minhas impressões, não só de Salzburg, mas também de Bayreuth, por exemplo. E se era coisa que me dava especial prazer!...

Ora bem, por isso mesmo, só pelo prazer que me dá e pela possibilidade de ser útil, nem que seja a um só leitor, decidi voltar à carga. Por isso aqui me têm, dando conta da minha experiência. E, desde hoje, fica já o compromisso da futura e constante preocupação no sentido de que os interessados numa eventual visita à cidade e à região, acedam a informação de um guia perfeitamente desinteressado. De vez em quando, talvez quinzenalmente, cá me terão a bater nesta mesma tecla.

Para vos contar da minha relação com Salzburg não bastaria dizer-vos quantas vezes já lá estive para participar na Mozartwoche, o festival de Inverno – exclusivamente afecto ao mundo mozartiano e suas conotações mais explícitas ou implícitas, cujo início, em 1956, marcou a efeméride dos duzentos anos do nascimento de Mozart – ou no Osterfestspiele, o Festival da Páscoa, fundado em 1967 pelo maestro Herbert von Karajan, natural da cidade.


De facto, ao longo de tantos anos, foram dezenas de vezes. Para vos dar uma ideia aproximada, e, circunscrevendo-me apenas ao Mozartwoche, que sempre comemora o nascimento do compositor, em 27 de Janeiro, nunca permaneço em Salzburg menos de quinze dias. No entanto, por exemplo, em 2006, 250º aniversário, estive quase um mês.

A minha casa


Seja qual for a razão que ali me conduz, festivais, estudo, puro lazer, há muitos anos que o Institut St. Sebastian é sempre o meu poiso. É um antigo convento do século dezassete, adjacente à igreja e ao famoso e lindíssimo cemitério, sob o patrocínio do mesmo santo, onde estão sepultados muitos notáveis, desde o Príncipe-Arcebispo Wolf Dietrich von Raitenau, num mausoléu belíssimo, até essa figura ímpar da história da Ciência e da Medicina que foi Paracelso, ou os Mozart, Leopold e Constanza, respectivamente pai e mulher de Amadé.

Depois de tantas estadas, é natural que me considerem um amigo. Como amigo, levo sempre uma lembrança (claro que adoram as queijadas de Sintra…) a sublinhar a relação duradoura que nos une. Cumpre esclarecer que St. Sebastian não é residência universitária, ainda que, entre os seus hóspedes, muitos estudantes se contem. Não queiram saber os jovens estudantes de música, de todo o Mundo, músicos, críticos, musicólogos que tenho encontrado, conhecido em St. Sebastian, relações que, felizmente, vou mantendo. Há grande informalidade, por exemplo, ao pequeno almoço, a altura propícia à troca de informação e de experiências.


Também não é um hotel. Vem a propósito referir que, durante alguns anos, até me ter decidido por esta casa, também eu era hóspede de um dos muitos hotéis da cidade. Todavia, por muito simpática que possa ser uma unidade hoteleira, o ambiente que se vive em St. Sebastian nada ou muito pouco tem para comparar. Mas a designação Institut é inequívoca. Trata-se de uma casa afecta à Igreja Católica Apostólica Romana que, em Salzburg, tem uma presença fortíssima.

A propósito, não vá algum jacobino militante ou irredutível ateu deixar-se cativar pelo meu testemunho de afecto a esta casa de Deus, ficando interessado em ali procurar abrigo, desde já fica feito o aviso: o melhor é não procurarem St. Sebastian já que a ostensiva presença dos crucifixos e de outros artefactos religiosos poderá gerar alguma alergia cutânea aos mais susceptíveis… Mas, não sendo esse o caso, apenas deixaria o conselho de pedirem um quarto afastado da torre sineira porque, com a igreja mesmo ao lado, depois das seis e meia da manhã, os toques podem incomodar. Enfim, em caso de necessidade, os tampões para os ouvidos não servem para outra coisa...

Quanto à viagem, o aeroporto Wolfgang Amadeus Mozart é o que serve a cidade. Mas não é a melhor opção para quem a demanda pela via aérea. A partir de Lisboa não há voos directos. Insistir em chegar a Sazburg por avião, implica fazer escala, por exemplo, em Palma de Maiorca, Paris, Amsterdam, Frankfurt, alternativa esta sempre mais dispendiosa do que a minha solução que, muito simplesmente, é a de voo directo para Munique e, a partir daí, o trajecto restante, por transfer.

Os cento e vinte quilómetros de automóvel entre a capital da Baviera e o destino final revelam-se como a melhor opção. Em relação a esta hipótese, a escala aérea implica em mais duas ou três horas. Como suplementar e grande atractivo, não só a possibilidade de viajar de carro através de uma deslumbrante paisagem, mas também de ser conduzido mesmo, mesmo até à porta. Para quem, como eu, é obrigado a acompanhar-se de muita bagagem, especialmente no Inverno, com a necessidade de bons abafos, não há nada mais cómodo e barato.

(continua)


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