[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 17 de março de 2011



Alerta nuclear



Estamos a sofrer muito no outro lado do mundo. Primeiramente, um violentíssimo terramoto, depois o maremoto, os incêndios e o remate pavoroso do desastre nuclear. Perante quadro tão apocalíptico, apouca-se a gravíssima crise portuguesa e os seus mais medíocres protagonistas ficam reduzidos a uma insignificância sem expressão sequer digna de análise.

Está envolvida uma central nuclear cujo controlo, pura e simplesmente, deixou de ser possível. Tendo escapado aos técnicos responsáveis, a tentativa de domínio da situação foi transferida para os cientistas do mundo inteiro que estudam todas as possibilidade de evitar o que parece iminente tragédia.


Naturalmente, tratando-se de um país em que o risco sísmico é tão flagrante, o Japão está a escancarar as entranhas a todos quantos quiserem aproveitar a lição tão dolorosamente ministrada. Espero bem que o meu país, onde as particularidades geofísicas e morfológicas nos remetem para tantas analogias, aproveite, milimetricamente, o conhecimento que o evento proporciona.


Tal desejo parece de meridiana lucidez. No entanto, quem assistiu ao debate que ontem à noite aconteceu, na TVI24, não poderá ter sossegado. O lóbi do nuclear é tão forte e sinistro que figura tão controversa como o empresário Monteiro de Barros foi capaz de declinar a ladainha que, desde pequenino, terá aprendido a declinar, ou seja, a da conveniência em acolher a solução do custo mais reduzido.


Afinal, no caso do nuclear, o catecismo de Monteiro de Barros e de outros negociantes e cientistas nem sequer é pertinente e, muito menos, corresponde à verdade dos números. Quando são equacionadas todas as variáveis e se têm em consideração os custos a montante e a jusante (nomeadamente os inerentes ao encerramento da central após o período de laboração) o custo do KW/Hora dispara. No entanto, o negócio global é de tal modo interessante que, na maior parte dos casos, anula a decência que deveria prevalecer.


Há por aí, para além de Monteiro de Barros, outros notáveis prosélitos do nuclear, bem enquadrados em todos os quadrantes partidários, que espreitam todas as oportunidades para denegrir as alternativas verdes e proporem a solução que tanto mal tem causado à ecologia. Por exemplo, logo ocorre o caso do Engº Mira Amaral, sobejamente conhecido, mas longe de ser singular.

Tanto sofrimento, no outro lado do mundo, merece o respeito de permanecermos atentos e dispostos a intervir civicamente sempre que, mais ou menos às claras, se insinuarem tentativas de replicar entre nós o que só pode suscitar o mais veemente repúdio.


9 comentários:

Pedro Távares disse...

Amigo e colega,
os empresários e «cientistas» que fazem parte do lóbi do nuclear desconhecem princípios éticos
e o dinheiro a única coisa
que os move. Não estão nada
preocupados com o ataque à ecologia
do planeta e ainda menos com o
sofrimento dos atingidos
pelos desastres nucleares.
Só a educação e continuação do trabalho de esclarecimento
com crianças e jovens pode impedir que estas loucuras continuem
a produzir lucro nas bolsas.
(Acabo de ver o seu aviso acerca do "desastre" da destruição dos
nossos comentários. Alguns dos meus também se foram. Não se preocupe porque seria muito pior se tivesse destruído os seus originais...).
Com amizade,
Pedro Távares

Luís Costa disse...

O negócio do nuclear é poderosíssimo. Eu sinto-me um David armado de fisga mas
de certeza que os Golias têm que contar com muitos como eu.
Basta de sofrimento e de enganos
para encher a barriga a uns
oportunistas amorais e imorais.
Luís A. Costa

Anónimo disse...

O nuclear é o apocalipse dos nossos tempos. Monteiro de Barros, Mira Amaral e outros são os cavaleiros.

António Mendes disse...

A cupidez de certas pessoas roça
o escândalo. Também assisti ao debate na TVI e custa-me a aceitar que mesmo perante tanto sofrimento aquele Monteiro de Barros só veja números. Mas não é o único. Felizmente, também há gente como Carlos Pimenta e Viriato Soromenho Marques, além do João Cachado...
Grande abraço,
António Mendes

Paulo Torres disse...

Cachado,
Esta causa também marcou a nossa geração. Admito com dificuldade que cinquenta anos depois haja muitas mais centrais
com tanto risco para os países
onde existem. Quanto ao negócio,
é sempre a mesma porcaria.
Julgo que a Igreja também devia
dar uma palavra mas se calhar
o Vaticano também tem acções
nalgumas empresas do nuclear.
Abraço,
Paulo Torres

Anónimo disse...

Vivemos num mundo obsceno. Mas vale a pena lutar. Para cada Monteiro de Barros temos de arranjar dois Carlos Pimenta...

Carlos Simões disse...

Caro Prof. Cachado,

Lamento estar em desacordo com o tom geral destes comentários. O nuclear é cada vez mais seguro. O KW/h do nuclear é cada vez mais barato. Há que contar com gente honestan nesta solução de energia.
Nada de generalizar como se
aqui estivessem os diabinhos todos e nas alternativas os anjinhos.
Carlos Simões

Anónimo disse...

Carlos Simões chama atenção para que há gente honesta em todos os projectos. É verdade mas lá por serem honestos não quer dizer que não possam estar enganados.
Eu acho que estão mesmo enganados. Informem-se que acabam por vir para o nosso lado...

Cristovão Santos disse...

Caro Prof. Cachado,
à grande pergunta é: como é que mesmo perante as maiores tragédias o Homem se recusa a tirar lições?
Já houve grandes problemas com centrais nucleares, por exº, nos USA (Three Mile Island), na Rússia (Chernobil) agora no Japâo e o número de instalações não pára de crescer...
Cristóvão Santos